12 de mar. de 2007

Antonio Carlos Apolinário - Uma entidade chamada Zulu

Há alguns dias eu disse que dedicaria um texto especialmente ao Sherra, o maior trabalhador destas plagas. Mas o incansável, determinado e engravatado canhoto da bunda grande será assunto em outra edição.

Desta vez, vou falar de um portento, um colosso. Mestre de sabedoria inconteste e um irrefreável fígado, capaz de absorver uma fábrica de Cynar em poucos minutos, até travar o maxilar. Aliás, não só este texto será dedicado a ele. Seria impossível definir suas qualidades e “causos” em mil contos, afinal sua implacável genialidade é destilada ferozmente a cada palavra.

Considerado por muitos não como um simples homem, mas como um semi-santo (santos não enchem a caveira), no instante em que ele chega a qualquer lugar, um silêncio ensurdecedor se faz, e de repente filas quilométricas se formam para um abraço, um aperto de mão ou até um simples “oi” deste homem. Pessoas cedem o melhor lugar da mesa, a cadeira mais confortável, um copo de cerveja gelada... Como uma devoção, em segundos está rodeado de sedentos por uma mísera palavra que seja.

Hoje vou dar uma palinha da força da presença dele. Atenção!

Há uns três meses atrás, num domingo comum, saímos do Anhanguera eu, Bruno, Cabeção, Gilmar, Jean Carlo, Zé Augusto e ele, Zulu. Após algumas rodadas de Brahma na Vila do Samba na Casa Verde, quando Zé Augusto e Gilmar quase saíam na porrada em uma discussão na qual Gilmar alegava que a Peruche nunca havia sido campeã do carnaval, o Zé urrava: “Somos tri! Somos tricampeões!!!”.
Notem a sutileza do homem que hoje é o assunto: “Gilmar, cala a boca! Se o Zé falou tá falado. Vai dá o cu pra lá”.
De fato, senhores, a Peruche é tri (66/67/69).

Zé Augusto, um negrão extremamente passional e parcial, como os justos, decretou: “Vamos ao ensaio do Peruche!”.
Breve comentário: O Zé Augusto é meu amigo de infância. Apesar de ele estar na faixa dos 60 anos e eu com 25, temos uma amizade de uns 45, 50 anos. E não ousem contestar!

Fomos para o Peruche sem o Gilmar e o Jean Carlo. Ao chegarmos à rua da tradicional e simpática agremiação, que estava lotada, os guardadores de carro amedrontados com a presença Dele, fizeram uma baita operação para arrumar uma vaga – pasmem – na porta da quadra!

Ao entrarmos, claro que de graça, a cena foi apoteótica. Zé Augusto é diretor no Peruche. Mesmo assim todos passavam direto por ele e iam em direção ao Zulu, e ouvia-se um grande burburinho: “Olha quem está aí, o Zulu!!”. Na entrada, o dono do bar já nos deu várias cervejas, meros acompanhantes... O entusiamos foi tanto que a bateria errou o compasso, a comunidade esqueceu a letra do samba, um troço jamais visto. E olha que eu já andei muito por aí, pelas escolas de samba.

Após mais cervejas, Cabeção, que temia tomar um cartão vermelho da Solange sugeriu ir embora. E fomos. Cabeção e Zé Augusto ficaram em suas casas e o Zulu foi levar Bruno e eu pra nossa. Passamos em frente ao Camisa Verde e Branco. Pra que?
Ali é minha área e eu, extasiado: “Zula, vamos ao Camisa!”. Na verdade o que eu queria era não ficar por baixo do homem. Ele havia sido tratado como rei e eu um bobo-da-corte, mero figurante. No Camisa seria diferente, ele veria minha moral. Redondo engano...
Entramos na quadra depois de uns 20 minutos, após mil tapinhas nas enormes e gordas costas pretas dele. Ele parecia o Seu Inocêncio ressuscitado. A Barra Funda o reverenciava. Bruno e eu, atônitos, nem existíamos, parecíamos espectros, totalmente ignorados...

A quadra estava lotada, muito cheia. Conseguimos chegar em frente ao bar. Eu, decepcionado comigo mesmo, reclamava para o Bruno o fato de sermos meros mortais sem nenhum destaque na companhia dele...
Súbito, notamos que ele estava sentado numa cadeira!! Eu NUNCA vi alguém sentado numa cadeira no meio da quadra em um ensaio. E lá estava ele, já com uma cerveja que havia ganhado de um diretor junto com a cadeira, olhando-nos com um ar humilhante. Fui ao banheiro chorar...

Com o andar gingado, bem característico da velha e boa malandragem, o maior baluarte do samba de São Paulo, Hélio Bagunça, aproximou-se do Zulu, deu-lhe um forte abraço – redundância – e começaram a conversar. Zulu contou-nos sobre uma passagem histórica e nada exemplar da Lenda Hélio, que no mesmo instante diz: “Zulu, malandro que é malandro não cagueta...”, ao que vem a resposta instantânea do colosso: “Hélio, não sou malandro. Sou cagueta!”.

O Hélio foi quase parar no hospital com uma crise de riso, assim como eu e o Bruno que, como as criancinhas fazem nos colchões, chegamos mijados em casa...

6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Meus Parabéns mais uma vez Arthur...
Não poderia haver melhor homenagem.

Zulu.....

SEM PALAVRAS!

13 de março de 2007 às 09:08  
Anonymous Anônimo disse...

Boa tarde,

Realmente esse foi uma das melhores coisa que já li em toda minha vida...sem brincadeira e falsa modéstia.

O Zulu não é desse planeta, é quase impossível explica. Sr Arthur se me permitir gostaria de anexar esse texto no mural do Anhanguera.

Tio Zula, t amo.

Abs,

Angelo Tirone

14 de março de 2007 às 17:47  
Anonymous Anônimo disse...

Angelo, obrigado pelas palavras em relação ao texto.
Acho dispensável colocar o texto no mural... Não precisa. As pessoas que quiserem ler, que entrem no blog.
Abraços!

14 de março de 2007 às 17:59  
Anonymous Anônimo disse...

alo pessoal..fuçando na net..descobri o antonio carlos apolinário..( zulu ) gostaria que perguntassem a ele se é o mesmo antonio carlos apolinario que trabalhou comigo no extinto BCN -banco de credito nacional na decada de 70 e 80..a gente saia do banco á noite ..ia jogar sinuca..pebolim..e entortar duzias de cervejas geladas junto com o cidão..passamos muitas madrugadas tomando todas junto com um japones baixinho chamado massato...meu nome é Rubens..conhecido por Rubão..obrigado..

11 de outubro de 2007 às 01:27  
Blogger Arthur Tirone disse...

Rubão, meu nome é Arthur. Acabei de falar com o Antonio Carlos. É claro que é ele! Ficou extremamente feliz com seu comentário. Peço que mande um e-mail pra mim (arthurtirone1@hotmail.com) que eu repasso pra ele, pra vocês retomarem o contato!
Abraço!

11 de outubro de 2007 às 16:39  
Anonymous Anônimo disse...

AINDA ESTOU INCONFORMADA DE NÃO FICAR SABENDO QUE MEU AMIGO FOI MORAR NO CEÚ, NÓS FICAMOS MUITO TEMPO SEM UM VER O OUTRO,MAS DE DEREPENTE ELE ME LIGAVA DIZENDO QUE QUERIA ESTRAGAR O DIA DELE E BATIA O TELEFONE NA MINHA CARA.AÍ EU LIGAVA DE VOLTA E RIAMOS MUITO.TRABAMOS JUNTOS NA ANEMOTÉRMICA ELE ERA MEU CHEFE E SE DIZIA MEU DONO.SAUDADES MUITAS
CRISTINA

12 de março de 2011 às 15:28  

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