26 de mar. de 2007

Dois em um

Este mês de Março, de nascimento do blog (pelo menos dos meus textos, já que o caxias Sherra o escreveu em Janeiro e Fevereiro) está sendo caracterizado pelos “causos”, como diz o povo antigo e o excelente Rolando Boldrin.
O causo de hoje aconteceu há uns três anos atrás, final de 2004, se não falha minha falha memória. E ocorreu num dia de domingo, pertinho do Natal, último dia de jogo da temporada varzeana, na tradicional celebração de “fechamento” de ano lá no salão do Anhanguera para os associados e suas famílias.

Antes de contar, permitam-me uma rápida pincelada para melhor compreensão: Como o personagem principal são duas pessoas (isso mesmo, o cara é duas pessoas completamente diferentes), vou tentar defini-los. Parece estranho e até a concordância verbal não concorda... Mas vamos lá.
Este homem divide-se em a.C. e d.C. Isso não significa o óbvio “antes de Cristo” e “depois de Cristo”, visto que ele está longe de ser um cristão evangélico destes que se regeneram com a presença de Jesus em sua vida. Significa: “antes da Cachaça” e “depois da Cachaça”!
Existe uma frase (que até é moda agora) que diz: “Eu não bebo. Quando bebo me transformo em outro homem. Este sim, bebe muito”. Isso é rigorosamente o que acontece com este dupla-personalidade.
O a.C. chama-se Cirilo. Esta é a sua identidade em estado de sobriedade. Sujeito bom de papo e de truco, bate sua bola, tirador de sarro daqueles, boêmio e profundo conhecedor das quebradas do mundaréu (salve Plínio Marcos) e dos meandros da noite.
O d.C. chama-se Johnny. Esta é sua identidade quando alcoolizado. Um tremendo pau-d´água sem doutrina, cachaça nervoso, um tarado babão, que endoida a cantarolar músicas da Jovem Guarda em inglês misturando ao português, invoca Exu e dança freneticamente alguns passos exclusivos e engraçadíssimos. Além disso, em todos os finais de frase que fala, solta seu bordão com a voz rouca: “Filha da puuuuta”.

O próximo causo será sobre Cirilo. Hoje vamos falar de Johnny.

Pois bem, no dia da festa de fim de ano, o salão estava cheio e o Cirilo estava lá tranqüilo, sem beber, comportadinho, jogando conversa fora com o pessoal do time do 2º quadro. De repente, uma força maior o fez tomar um copo (somente um copo) de cerveja. Era o anúncio: Johnny está chegando! Eu previ... Em poucos minutos, após mais algumas talagadas, Cirilo já não estava mais na área. Agora era a vez de o Johnny curtir a festa. Um rodopio em torno do próprio eixo selou a troca de personalidade. De repente as pernas já não tinham a mesma firmeza, os olhos avermelharam, as pálpebras pesaram, o pescoço perdeu a força, a boca entortou e a coordenação ficou seriamente comprometida. Pronto. Era mesmo ele... Chegou cantando Elvis Presley, vejam só...
Depois disso foi dança pra cá, cachaça pra lá, um tombo aqui, outro ali, e a cana descendo pela goela... E a turma toda rachando o bico com suas peripécias. O Johnny, minha gente, é engraçado demais, a ponto de o Tom Cavalcante, humilhado, encerrar na hora sua carreira de comediante vendo sua performance!

A certa altura, antes de servirem o almoço, num daqueles momentos de irmandade, bem característico do Natal, alguém ordenou: “Vamos rezar e agradecer pelo ano que passamos juntos aqui no Anhanguera!”. E fez-se uma enorme roda, cerca de 100 pessoas de mãos dadas para o Pai Nosso. Nessa hora, Johnny jogado num canto tirava uma soneca. Ninguém queria acordá-lo, pois no momento de agradecimento a Deus seria cabível e condizente com o ambiente a presença de Cirilo, que estava em alguma outra dimensão.

E começa a oração. Todos de olhos fechados, concentrados e cheios de fé: “Pai nosso que estás no céu / santificado seja o vosso nome”... Um estranho assovio atravessa o salão. Algumas pessoas desconfiadas já abrem os olhos e constatam a tragédia. Johnny já está de pé e cambaleantemente se aproximando. “... Venha a nós o Vosso reino / seja feita a Vossa vontade...”. Num salto, um enlouquecido Johnny rompe um elo de braços e vai parar no meio da roda e, tomado por um espírito carnavalesco, canta aos berros: “Hei, você aí / me dá um dinheiro aí / me dá um dinheiro aí!”. Entre risos contidos de alguns e indignação de outros, o povo tenta continuar a reza: “... Assim na terra como no céu / O pão nosso de cada dia nos dai hoje...”. E ele mandando junto, inventando passinhos depravados - para horror dos embasbacados espectadores - e batendo palmas, chamando os fiéis para a farra: “... Se você pensa que cachaça é água / Cachaça não é água não...”. A reza foi sucumbindo. Pessoas saíram da roda porque não paravam de rir, outros tentaram em vão contê-lo, mas era tarde demais, a merda já estava feita. A reza que começou com 100 pessoas chegou no “Amém” com apenas duas senhoras surdas de uns oitenta anos de idade...

8 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

HAHAHAHAHAHAHAHA ...
HAHAHAHHAHAHAHAHAHHA ...
MEU TO RINDO MTOOO ARTUUUUUUUR !!!
SEM COMENTÁRIOS, VC FOI FENOMENAL ...
PARABÉNS ...

HAHAHAHHA ...
BEIJOS

26 de março de 2007 às 22:06  
Anonymous Anônimo disse...

Artur..Primeiramente parabéns pela belíssima descrição em português perfeito e concordância fenomenal. PARABÉNS,vc escreve bem pra caramba......em segundo lugar, não dá pra negar que Cirilo vulgo Johnny já faz parte da história Anhanguerana. e confesso pra você que essa passagem eu não conhecia, adorei. depois de uma segunda feira, como a que eu passei só mesmo o Johnny pra tranforma-la num delicioso momento..rsrsrs
cada vez mais percebo como o anhanguera faz bem pra todos nós.
vocês que são a nova geração nunca deixem esse espírito morrer.......
beijos
tia Palmira

26 de março de 2007 às 22:23  
Anonymous Anônimo disse...

Carol, pelo jeito você viu a cena pra dar tanta risada hein!

Palmira, que bacana que está por aqui!! Agradeço os elogios, mas cá pra nós: escrever direito a nossa língua é obrigação, "né não"?
O Anhanguera realmente nos faz muito bem e essa passagem foi antológica. Você infelizmente perdeu!
Continue visitando o blog! Fiquei feliz em vê-la por aqui.

Beijão pras duas!

26 de março de 2007 às 23:42  
Anonymous Anônimo disse...

impagavel Kid...sensacional esse blog !!!!
tirando que eu quase faleci de tanto rir com essas estórias, mando mto bem!!


abraço

27 de março de 2007 às 16:12  
Anonymous Anônimo disse...

Hahahahhaha
essa é muiiito boaa!!
hahahha eu aqui que nem bobo imaginando a cena e dando risadas!!
hahahahha

Não tem Real Madri, Não tem Barcelona... Aqui é ANHANGUERA caraleo!!! hahahahah

abrass kidas!

27 de março de 2007 às 18:15  
Anonymous Anônimo disse...

Pessoal,
Confesso que me emociono cada vez que leio um texto da Cabra...mas essa do Ciriri foi impagável...Meu Deus !!!! Chorei..de tanto rir..hahhahahahahaha. Foi antológica. Isso porque ele não mencionou as outras duas músicas que o Ciriri (outro nome dado ao Jony) cantou:

1) Elvis Aaron Presley
Blue Suede Shoes
Original:
"Well it's one for the money, two for the show
Three to get ready now go cat go.
But don't you, step on my blue suede shoes.
You Can do anything but lay off of my blue suede shoes"

Versão Jony:
Dula babiluna, dula babilu
Dula babiluna, dula babilu
Tuli vuli, o runi
Tuli vuli, o runi...

HAHAHAHAHAHAHHA

2) Falamansa
Quando o Ciriri começa o refrão, ele solta um sonoro rugido.
"HA HA HA HA HAHAHAHA
Eu to sorrino a toa"

Meu Deus..ele é o cara !

Abs,

Angelo

27 de março de 2007 às 20:46  
Anonymous Anônimo disse...

Srs, boa noite

Peço desculpas pelo mal entendido..a música que o Jony cantou foi Tutti-frutti e não Blue Suede Shoes, confiram a letra correta:

"Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Tutti Frutti, all over rootie
Awop-bop-a-loo-mop alop bam boom"

Abs,
Angelo

28 de março de 2007 às 23:10  
Blogger Szegeri disse...

Isso é caso clássico. Conheço alguém que poderia dar uma amansada no Johnny...

31 de maio de 2007 às 19:18  

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