4 de abr. de 2007

Parque da Aclimação

Ontem fui a uma apresentação do ótimo grupo Samba Rahro, na Galeria Olido, no Largo do Paissandu. Infelizmente como no local não se podia beber e fumar, fomos, faltando meia hora para o fim do evento, eu, o grande compositor e diretor de teatro Marcelo Fonseca, o ilustre sambista da Velha Guarda do Camisa, mestre Airton Santa Maria e meu amigão Kiko do Cavaco bebericar umas Brahmas no simpático bar do Sérgio, ali no Paissandu mesmo. Logo após o show chegaram Paulinha Sanches, Kaká Sorriso, Rodrigo Pirituba e Edu Batata, que estavam lá tocando. Detalhe: eles mataram a pau!

Notem que, das oito pessoas citadas, eu sou o único que não atua na carreira artística. O único leigo em assuntos pautados nas burocracias ligadas a projetos de arte. Mas como perambulo aí pelos sambas há alguns anos, sinto como se eu também fosse do “metiê”.

Após essa breve introdução, vamos ao assunto. E o assunto é o futebol, a várzea.

Depois de umas cascudas, o papo, como não poderia deixar de ser em um buteco, acabou no futebol. E foi migrando do futebol profissional para a várzea. E o Marcelo Fonseca contou-nos o que ocorrera Domingo passado, no campo do Parque da Aclimação e definiu, com os olhos esbugalhados e emocionados: “O Parque da Aclimação é o time mais poético de toda a cidade!”. Tal afirmação causou-me calafrios e uma homérica crise de ciúmes. Como poderia qualquer outro time ser mais “qualquer coisa” que o Anhanguera?? Resignei-me e quis ouvir sua aventura de Domingo.

Pequena pausa: O Marcelo Fonseca sabe TODOS os sambas de breque do Moreira da Silva. Eu, particularmente, nunca vi alguém que cante mais Moreira que ele. Só ontem no bar foram cantados uns oito sambas. Eu, um semi-analfabeto em Moreira da Silva, conhecia apenas três...

Voltando à várzea. De vez em quando, o Marcelo vai ao Parque da Aclimação assistir aos jogos, sempre aos Domingos. E neste último, fatos que só podem ser vistos numa partida varzeana aconteceram. Era dia importante, de festival com direito a troféu para o vencedor e para o melhor jogador. Chega o Fonseca lá e vê que o time já está trocado e vai entrar em campo. O time da casa, o Parque, tem um jogador chamado Bisqui, que é atacante, além de ser boêmio, encher a cara e ir ao campo jogar todas as vezes “virado”, ou seja, sai da noitada e vai jogar direto. Lá no Anhanguera temos um jogador desses também...

Mas Bisqui estava esquisito, amuado. Antes do jogo foi pegar uma água pra lavar o bucho, e abriu o jogo pra rapaziada que estava na torcida, inclusive o Marcelo, que insistia em afirmar que ele ainda estava bêbado. O Bisqui, com náuseas e arrotando compulsivamente, disse: “Comi uma puta feijoada às dez da noite e fiz um repeteco as quatro da matina”. Imaginem o que aconteceria dentro de campo, sob um sol de 34º...

O juiz apita. Começa o jogo. O Bisqui dá o primeiro pique e pára no meio do caminho. Não enxergando nada e com a pressão baixa, fica ali na “banheira”. Seu marcador era um negrão de dois metros chamado Peroba, que tinha canelas finíssimas e uma barriga de protuberância invejável. Após um novo lançamento pro Bisqui, não teve jeito. Parou na meia-lua, apoiou as mãos nos joelhos suando frio e esperando a avalanche de feijoada que viria nos próximos segundos. Lavou toda a entrada da área.
A torcida, delirando, não podia perder a piada e começou:
- Aê Bisqui, pega o porco que ele saiu vivo!
- O Bisqui é palmeirense e tá dando a luz!!

O vomitante atleta saiu de campo desmaiado. Logo depois, o tal do Peroba, parecendo pressentir alguma coisa ruim, se pôs a dar escândalo: “Eu é que não vou jogar aqui. Manda alguém limpar essa merda!”, e deu uma bicuda na bola, o Peroba. E novamente a empolgada torcida entrou em ação:
- Ê negão, é assim que a tua mulher chuta tua bunda!
- Olha a Vera Verão aí, gente!

O Peroba decidiu ficar quieto, pois viu na torcida o Zóio e o Raméla, dois irmãos da pesada!

Já no segundo tempo, jogo nervoso, acontece uma falta na entrada da área para o time adversário. Peroba, que tem um canhão no pé, aproximou-se e ajeitou a bola, deslocando-a dos dejetos deixados pelo Bisqui. Este é o ápice do jogo e da narrativa do Marcelo. Segundo ele, quando acontece uma falta perigosa no campo do Parque da Aclimação, a torcida e os jogadores calam, o vento pára de balançar as árvores, os passarinhos param de cantar... Tudo fica congelado!

Peroba deu distância e correu, sacudindo sua enorme pança. A um passo da bola, pisou numa calabresa que havia, como uma moeda que corre em pé, ido parar ali. A perna esquerda subiu primeiro, logo em seguida a direita. O negrão caiu de costas no chão e, assim como o Bisqui, desmaiou.

O único reserva que estava ali no banco era um anão. Acreditem, ele tem 92 cm, mas é um serelepe. Seu principal e mais humilhante drible é passar com bola e tudo por baixo das pernas dos incautos adversários. Foi o herói do jogo fazendo no último minuto – pasmem – um gol de cabeça, que rendeu a vitória aos visitantes. Saiu o anão dançando e carregando o troféu, quase maior que ele por sinal, de melhor jogador em campo.

A torcida, pra não perder a oportunidade, bradou em coro:
- Samba Tevez! Samba, Tevez!

7 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Querido Artur ...
Ontem, voltando do serviço, umas 6 horas, passei em frente a galeria olido, alí esquina da Dom José, com o largo do payssandú e me deparei com uma agitação dentro daquele pequeno espaço com janelas de vidro ... Parei, fiquei olhando e me perguntei se aquele samba não ia começar ? Fiquei ali na porta uns 10 minutos ... E nada de samba ... Imaginei que fosse um ensaio ... Portanto, como ainda estava vazio, decidi ir embora triste de não ter escutado um pouquinho daquele samba que me parecia bom ... Desci do onibus, devorando uma pacotiho de amendoins, pensando em comentar com vc sobre isso, se vc sabia o que acontecia alí ... Se rolava samba, o que era ... E sem mais, entrei aqui no seu blog, e com um puta susto, e pensando se eu ja tinha falado ou comentado alguma coisa com vc, imaginei que se eu tivesse ficado um pouco mais, encontraria vc pelos cantinhos do centro ...
Fica pra próxima ...
Hehehehehe ... Beijocas Artú !!!
Bom feriado e cuida dos meus irmãos ...

4 de abril de 2007 às 22:49  
Anonymous Anônimo disse...

eee arthuuuur ahuahuua to raxando o biko...sao mto boas as historias q vc conta, ahahaha.
continua assim q ta foda!
aahuahua
falow e vamo bagaça na praia!

5 de abril de 2007 às 15:07  
Anonymous Anônimo disse...

Cabra,

Quando eu digo que tamanho não é documento, está aí a prova!!!

Quanto aos seus comentários referidos ao samba na companhia de grandes nomes da bohemia....
Sem comentários.... você estava rodeado de algumas das melhores mentes sambistas em que eu já pude, pelo menos, ver de perto.
Claro que pra mim, nenhum se compara a você!!!!

Abraços...

P.s.: o blog está em ótimas mãos...

5 de abril de 2007 às 16:50  
Anonymous Anônimo disse...

HAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!!!

6 de abril de 2007 às 16:53  
Blogger Unknown disse...

Caracas Kid!!!
essa foi uma das melhores historias até o momento!!!

Vmotios, anões, samba e futebol!! hahahahahhahahah eu me "raxo" de rir com estas coisas!! hahahah

Bom ao assunto q vc iniciou em meu fotolog, Camilla, é uma amiga minha de Mg que eu conheci em Santos... e para usa informação eu tive, e tenho um caso de amor de verão com ela!!! hehehhe e vc achou q eu so pegava mina ruim neh?!

abrass!!

9 de abril de 2007 às 22:21  
Blogger Szegeri disse...

Favela, seu celerado: sinto que nasce aqui o livro "Meu lar é o campo de várzea"...

31 de maio de 2007 às 19:07  
Blogger Marcelo Marcus Fonseca disse...

Próxima final tu tem compromisso comigo. Muito bom. rsrsrss. Abração.

6 de outubro de 2007 às 18:28  

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