Ataque na avenida
- Fecha a cortina! Fecha rápido aí, pô!!! – O desespero tomou conta dos músicos em pleno show, enquanto o público aplaudia de pé, sem perceber que alguma coisa estava errada.
Em plena apresentação no São Paulo Chic, o Jorge – que era um dos músicos de um grupo de ritmistas da bateria Furiosa - sofrera um ataque epiléptico. O público achou que o Jorge, em estado de êxtase e irreverente que só ele, deitou-se no chão e se tremeu inteiro insinuando uma incorporação mediúnica, um tresloucar, um descontrole consciente. Este “arroubo” levou o público ao delírio. Mas o fato é que o homem estava numa crise aguda. O Vinho Tinto, malandro nato, que também era músico do grupo, não teve dúvidas. Num rápido salto, batucou seu pandeiro sobre o Jorge, que se sacudia inteiro no chão. Aí a galera vibrou mais ainda (contam, os Velhos, que até dinheiro jogaram) e as cortinas se fecharam pra acudirem o Jorge.
Poucos meses depois, Jorge causaria o mesmo rebuliço no desfile das escolas de samba de São Paulo. Ele estava lá, com sua cuíca em punho e a beca alviverde. Era a preparação para a gloriosa Camisa Verde e Branco entrar na Avenida São João. Ânimos à flor da pele. A negrada no aquecimento afinando os couros, tomando os últimos goles de cachaça e pedindo, com fé, uma força divina.
Após alguns minutos, a Escola já tinha entrado praticamente inteira na São João. Faltava apenas a bateria. O couro já comia quando, subitamente, o cuiqueiro vergou a poucos passos da linha de competição. Era coisa de cinco, seis metros. Os amigos já sabiam do que se tratava. Não era tombo de bebum. Jorge estava sofrendo outro ataque epiléptico, agora entre as marcações compassadas dos surdos, os breques de tamborins e um monte de pernas marchando sob o comando do apito do Mestre Lagrila. O homem suava, engasgava com a baba, envesgava, retorcia, revirava e debatia descontroladamente para desespero dos batuqueiros, que sabiam que, virava e mexia, tinham que puxar a língua enrolada e inchada do epiléptico homem. Foi aí, neste momento, que algum cachaça cravou nele o apelido de Jorge Ataque.
Mas essa, especialmente, era uma situação diferente. Jorge Ataque, cercado por mais de cinqüenta amigos, parceiros de orgias e batuques, dessa vez estava sozinho. Com metade da bateria na avenida, a evolução tinha que continuar, afinal foi um ano inteiro dedicado à Escola e qualquer dispersão ali, na entrada, significaria a perda do título. Um inconsciente coletivo instantaneamente tomou conta dos poucos integrantes da bateria que ainda não pisavam o território competitivo e, rapidamente, encostaram o ainda atacado Jorge na guia, como se o próprio pedisse para salvarem a Escola em detrimento dele.
Aquela meia dúzia de amigos que empurrou o Ataque pra sarjeta alcançou a bateria a tempo, já na linha de entrada. Suas mentes estavam voltadas apenas para o desfile, para o samba. Era claro que, após jogarem o amigo pra calçada, alguém iria socorrê-lo. Isso os aliviava e os redimia de qualquer culpa ou omissão.
Alguns minutos se passaram quando passou pela bateria, correndo e sambando ao mesmo tempo, o Jorge. Após a crise, o som da batucada o revigorou. Aquela única hora que esperara o ano inteiro estava rolando e ele, fiel súdito do Pavilhão, não poderia ficar de fora da “batalha”. Puro trapo, em frangalhos e imundo de tanto se debater no asfalto, o valente Jorge Ataque, que hoje é saudade, foi até o final do desfile tocando sua cuíca.
Em plena apresentação no São Paulo Chic, o Jorge – que era um dos músicos de um grupo de ritmistas da bateria Furiosa - sofrera um ataque epiléptico. O público achou que o Jorge, em estado de êxtase e irreverente que só ele, deitou-se no chão e se tremeu inteiro insinuando uma incorporação mediúnica, um tresloucar, um descontrole consciente. Este “arroubo” levou o público ao delírio. Mas o fato é que o homem estava numa crise aguda. O Vinho Tinto, malandro nato, que também era músico do grupo, não teve dúvidas. Num rápido salto, batucou seu pandeiro sobre o Jorge, que se sacudia inteiro no chão. Aí a galera vibrou mais ainda (contam, os Velhos, que até dinheiro jogaram) e as cortinas se fecharam pra acudirem o Jorge.
Poucos meses depois, Jorge causaria o mesmo rebuliço no desfile das escolas de samba de São Paulo. Ele estava lá, com sua cuíca em punho e a beca alviverde. Era a preparação para a gloriosa Camisa Verde e Branco entrar na Avenida São João. Ânimos à flor da pele. A negrada no aquecimento afinando os couros, tomando os últimos goles de cachaça e pedindo, com fé, uma força divina.
Após alguns minutos, a Escola já tinha entrado praticamente inteira na São João. Faltava apenas a bateria. O couro já comia quando, subitamente, o cuiqueiro vergou a poucos passos da linha de competição. Era coisa de cinco, seis metros. Os amigos já sabiam do que se tratava. Não era tombo de bebum. Jorge estava sofrendo outro ataque epiléptico, agora entre as marcações compassadas dos surdos, os breques de tamborins e um monte de pernas marchando sob o comando do apito do Mestre Lagrila. O homem suava, engasgava com a baba, envesgava, retorcia, revirava e debatia descontroladamente para desespero dos batuqueiros, que sabiam que, virava e mexia, tinham que puxar a língua enrolada e inchada do epiléptico homem. Foi aí, neste momento, que algum cachaça cravou nele o apelido de Jorge Ataque.
Mas essa, especialmente, era uma situação diferente. Jorge Ataque, cercado por mais de cinqüenta amigos, parceiros de orgias e batuques, dessa vez estava sozinho. Com metade da bateria na avenida, a evolução tinha que continuar, afinal foi um ano inteiro dedicado à Escola e qualquer dispersão ali, na entrada, significaria a perda do título. Um inconsciente coletivo instantaneamente tomou conta dos poucos integrantes da bateria que ainda não pisavam o território competitivo e, rapidamente, encostaram o ainda atacado Jorge na guia, como se o próprio pedisse para salvarem a Escola em detrimento dele.
Aquela meia dúzia de amigos que empurrou o Ataque pra sarjeta alcançou a bateria a tempo, já na linha de entrada. Suas mentes estavam voltadas apenas para o desfile, para o samba. Era claro que, após jogarem o amigo pra calçada, alguém iria socorrê-lo. Isso os aliviava e os redimia de qualquer culpa ou omissão.
Alguns minutos se passaram quando passou pela bateria, correndo e sambando ao mesmo tempo, o Jorge. Após a crise, o som da batucada o revigorou. Aquela única hora que esperara o ano inteiro estava rolando e ele, fiel súdito do Pavilhão, não poderia ficar de fora da “batalha”. Puro trapo, em frangalhos e imundo de tanto se debater no asfalto, o valente Jorge Ataque, que hoje é saudade, foi até o final do desfile tocando sua cuíca.
2 Comentários:
Esse sim pode falar que o coração bate pela Camisa !!!
Que beleza.
Kid, escreva-nos um texto em relação ao último samba no AAA, para quem não teve a oportunidade de ir (assim como esse q vos fala) saber como foi. Agradeço desde já!
Abraços.
Nossa como o Glauton fala dificil.
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