Mijada no Reino de Deus
O título pode parecer herege, mas não é. O que me fez lembrar uma passagem específica foi o programa televisivo Fala que eu te escuto. Assisti um pedaço numa madrugada dessa semana, chegando da noitada. Deitei, liguei a tevê e dei uma zapeada. Dos sete canais abertos disponíveis, quatro transmitiam programas evangélicos. E eu confesso que, percebendo algumas encenações e testemunhos escandalosamente combinados, cheguei a rir sozinho.
Os pastores, missionários e bispos são, como eles mesmos se intitulam, os “homens de Deus” e dão conselhos e pregam com total autoconfiança e razão, já que falam “em nome de Deus”. Eu pasmei especificamente num outro programa com uma solução encontrada pelo R.R. Soares para um crente. O fiel, desesperado, relatou ao “santo homem” que estava com uma dúvida cruel:
- Missionário, um grande amigo meu está passando fome e, se eu ajudá-lo, não poderei dar o dízimo à Igreja. O que faço?
- O único e verdadeiro amigo é Deus. Deixe de dar o dízimo e você ficará em situação pior que esta pessoa que está passando fome.
Eu não tenho preconceito em relação a qualquer religião. Apenas os acho neo-pentelhoscostais demais, chatos e soberbos. A grande maioria deles. Além disso, o preconceito deles em relação à nossa cultura brasileira me irrita e me agride. Tudo é demonizado. O samba, os batuques, as danças, o Bumba-meu-Boi, a Folia de Reis, o carnaval, a umbanda e o candomblé, enfim, tudo o que é diferente da “palavra de Deus”. Tudo isso, pra eles, é coisa do “outro”. Vejam bem, estou me referindo a essas Igrejas que dominam a massa através da tevê e do rádio e têm, cada vez mais, feito a cabeça de tanta gente.
Mas voltando ao assunto principal, no Fala que eu te escuto estava mostrando uma cena de enxota-diabos em massa. Vários pastores tirando os Exus (assim eles se referiam aos infestos espíritos) dos corpos das pessoas dominadas pelo mal, aliás, alguns eram péssimos atores. Quando eu vi isso, não pude deixar de lembrar de uma tia da minha mãe, a Maria Imaculada, ou apenas tia Lada.
A tia Lada é uma pessoa festiva, bondosa e sempre disposta a ajudar os seus. Lembro-me das festas de família, na minha infância, em que ela sempre caía no samba batucado em panelas e baldes pelos já embriagados parentes. Como nunca teve filhos, era a tia mais festejada pelos sobrinhos e pelos filhos dos sobrinhos. Ela nos levava pra comer quebra-queixo na 25 de Março, pra passear de metrô e pelo centro da cidade, para o cinema e pra visitar velhinhos no asilo. Grandes programas! Imaginem uma mulher com sete, oito crianças no centro de São Paulo. Uma guerreira. Mas também é daquelas que, quando acha que é vítima de alguma intriga da oposição, desce do salto rapidinho e roda a baiana, o que a faz ser a campeã dos barracos na família, que logo são desfeitos e tudo fica em paz.
Há poucos anos, a Imaculada foi convidada por uma amiga para participar de um culto na Universal do Reino de Deus, símbolo maior dessas igrejas a que me refiro, que tem à sua frente edir macedo, sujeito de quem não quero falar nada aqui, senão mudo violentamente o foco do texto. Como a Lada nunca diz não a ninguém e estava de férias (trabalhava no INPS e tirava muitas férias no ano e torrava tudo em viagens, doces, doces e doces) e sem nada pra fazer naquele dia, resolveu comparecer ao tal culto. Adentrou a igreja e, discretamente, sentou-se num banco na última fila. Tudo estava tranqüilo até então. A igreja não estava lotada, embora tivesse bastante gente.
Após cinco minutos, o pastor parou a pregação e revelou em tom de profecia:
- Irmãos, temos aqui hoje uma nova irmã que finalmente cedeu após tanto sofrimento, tanta angústia e depressão. Ela sentiu a presença de Jesus e resolveu tomar a atitude que vai levá-la ao caminho da salvação! Glória a Deus!
Algumas pessoas viraram para trás e cravaram os olhos nela. Nisso, o pastor fez o sinal com a mão chamando-a e ordenou:
- Irmã. Você mesma aí no fundo, venha cá.
E a Lada, arregalando os olhos e sem graça, apontando o indicador para o próprio peito perguntava se era com ela, ao que prontamente o pastor respondeu que sim e ela, mais sem graça ainda, subiu.
De frente para o pastor, ela olhava pra baixo. O minúsculo homem era praticamente um pigmeu, e a Imaculada, do alto dos seus 1,80m, achou aquilo engraçado. O baixinho começou a desvendar os enigmas:
- Você está padecendo! Você tem insônia! Sua vida está de cabeça pra baixo!
Ele forçava a voz na sílaba tônica de cada palavra proferida e apontava o indicador pra cima, em direção à face dela, querendo fazê-la acreditar. Aquilo foi demais e ela botou a mão na boca no intuito de segurar a risada, dando algumas engasgadas. O tampinha chegou mais perto e vociferou:
- Tire a mão da boca! Jesus vai te libertar! Diga como sua vida está! Fale! – E deu um pequeno salto quando gritou o “fale!”, o que fez com que Lada tirasse a mão da boca e caísse numa incontrolável e longa gargalhada em volume altíssimo, com direito a terríveis flatulências.
- Sai demônio!! Sai. – O baixote pulava com o braço levantado para alcançar e dominar a cabeça da Lada, que começava, assim como a barriga, a doer de tanto rir.
Não precisou mais pular, pois a mulher já se dobrara e foi se abaixando até sentar no chão enquanto sua cabeça era impiedosamente esmagada pelas pequenas mãos do “Homem de Deus”.
- Espírito das trevas, aqui você não fica. Essa é filha de Jesus. Ela não agüenta mais você. Eu ordeno que saia já!
Rolando no chão, a coitada da Imaculada não suportou e se mijou inteira, fato que comprovou para o pastor e para os fiéis - que a essa altura também já gritavam “Aleluia! Aleluia!” - que ele a exorcizara (sei que só padre católico exorciza, mas aqui cabe) mesmo. E, neste momento, o mini-homem berrava extasiado com a sensação de que operara um milagre, apontando para a poça de mijo:
- Olha o cão saindo! Sai demônio! Sai demônio! – Sendo aplaudido de pé pelos fiéis, que na verdade aplaudiam Jesus.
Saiu direto para um hospital desacordada de tanto rir. Nunca mais entrou em nenhuma igreja evangélica, a sempre devota de Nossa Senhora Aparecida, Maria Imaculada.
Os pastores, missionários e bispos são, como eles mesmos se intitulam, os “homens de Deus” e dão conselhos e pregam com total autoconfiança e razão, já que falam “em nome de Deus”. Eu pasmei especificamente num outro programa com uma solução encontrada pelo R.R. Soares para um crente. O fiel, desesperado, relatou ao “santo homem” que estava com uma dúvida cruel:
- Missionário, um grande amigo meu está passando fome e, se eu ajudá-lo, não poderei dar o dízimo à Igreja. O que faço?
- O único e verdadeiro amigo é Deus. Deixe de dar o dízimo e você ficará em situação pior que esta pessoa que está passando fome.
Eu não tenho preconceito em relação a qualquer religião. Apenas os acho neo-pentelhoscostais demais, chatos e soberbos. A grande maioria deles. Além disso, o preconceito deles em relação à nossa cultura brasileira me irrita e me agride. Tudo é demonizado. O samba, os batuques, as danças, o Bumba-meu-Boi, a Folia de Reis, o carnaval, a umbanda e o candomblé, enfim, tudo o que é diferente da “palavra de Deus”. Tudo isso, pra eles, é coisa do “outro”. Vejam bem, estou me referindo a essas Igrejas que dominam a massa através da tevê e do rádio e têm, cada vez mais, feito a cabeça de tanta gente.
Mas voltando ao assunto principal, no Fala que eu te escuto estava mostrando uma cena de enxota-diabos em massa. Vários pastores tirando os Exus (assim eles se referiam aos infestos espíritos) dos corpos das pessoas dominadas pelo mal, aliás, alguns eram péssimos atores. Quando eu vi isso, não pude deixar de lembrar de uma tia da minha mãe, a Maria Imaculada, ou apenas tia Lada.
A tia Lada é uma pessoa festiva, bondosa e sempre disposta a ajudar os seus. Lembro-me das festas de família, na minha infância, em que ela sempre caía no samba batucado em panelas e baldes pelos já embriagados parentes. Como nunca teve filhos, era a tia mais festejada pelos sobrinhos e pelos filhos dos sobrinhos. Ela nos levava pra comer quebra-queixo na 25 de Março, pra passear de metrô e pelo centro da cidade, para o cinema e pra visitar velhinhos no asilo. Grandes programas! Imaginem uma mulher com sete, oito crianças no centro de São Paulo. Uma guerreira. Mas também é daquelas que, quando acha que é vítima de alguma intriga da oposição, desce do salto rapidinho e roda a baiana, o que a faz ser a campeã dos barracos na família, que logo são desfeitos e tudo fica em paz.
Há poucos anos, a Imaculada foi convidada por uma amiga para participar de um culto na Universal do Reino de Deus, símbolo maior dessas igrejas a que me refiro, que tem à sua frente edir macedo, sujeito de quem não quero falar nada aqui, senão mudo violentamente o foco do texto. Como a Lada nunca diz não a ninguém e estava de férias (trabalhava no INPS e tirava muitas férias no ano e torrava tudo em viagens, doces, doces e doces) e sem nada pra fazer naquele dia, resolveu comparecer ao tal culto. Adentrou a igreja e, discretamente, sentou-se num banco na última fila. Tudo estava tranqüilo até então. A igreja não estava lotada, embora tivesse bastante gente.
Após cinco minutos, o pastor parou a pregação e revelou em tom de profecia:
- Irmãos, temos aqui hoje uma nova irmã que finalmente cedeu após tanto sofrimento, tanta angústia e depressão. Ela sentiu a presença de Jesus e resolveu tomar a atitude que vai levá-la ao caminho da salvação! Glória a Deus!
Algumas pessoas viraram para trás e cravaram os olhos nela. Nisso, o pastor fez o sinal com a mão chamando-a e ordenou:
- Irmã. Você mesma aí no fundo, venha cá.
E a Lada, arregalando os olhos e sem graça, apontando o indicador para o próprio peito perguntava se era com ela, ao que prontamente o pastor respondeu que sim e ela, mais sem graça ainda, subiu.
De frente para o pastor, ela olhava pra baixo. O minúsculo homem era praticamente um pigmeu, e a Imaculada, do alto dos seus 1,80m, achou aquilo engraçado. O baixinho começou a desvendar os enigmas:
- Você está padecendo! Você tem insônia! Sua vida está de cabeça pra baixo!
Ele forçava a voz na sílaba tônica de cada palavra proferida e apontava o indicador pra cima, em direção à face dela, querendo fazê-la acreditar. Aquilo foi demais e ela botou a mão na boca no intuito de segurar a risada, dando algumas engasgadas. O tampinha chegou mais perto e vociferou:
- Tire a mão da boca! Jesus vai te libertar! Diga como sua vida está! Fale! – E deu um pequeno salto quando gritou o “fale!”, o que fez com que Lada tirasse a mão da boca e caísse numa incontrolável e longa gargalhada em volume altíssimo, com direito a terríveis flatulências.
- Sai demônio!! Sai. – O baixote pulava com o braço levantado para alcançar e dominar a cabeça da Lada, que começava, assim como a barriga, a doer de tanto rir.
Não precisou mais pular, pois a mulher já se dobrara e foi se abaixando até sentar no chão enquanto sua cabeça era impiedosamente esmagada pelas pequenas mãos do “Homem de Deus”.
- Espírito das trevas, aqui você não fica. Essa é filha de Jesus. Ela não agüenta mais você. Eu ordeno que saia já!
Rolando no chão, a coitada da Imaculada não suportou e se mijou inteira, fato que comprovou para o pastor e para os fiéis - que a essa altura também já gritavam “Aleluia! Aleluia!” - que ele a exorcizara (sei que só padre católico exorciza, mas aqui cabe) mesmo. E, neste momento, o mini-homem berrava extasiado com a sensação de que operara um milagre, apontando para a poça de mijo:
- Olha o cão saindo! Sai demônio! Sai demônio! – Sendo aplaudido de pé pelos fiéis, que na verdade aplaudiam Jesus.
Saiu direto para um hospital desacordada de tanto rir. Nunca mais entrou em nenhuma igreja evangélica, a sempre devota de Nossa Senhora Aparecida, Maria Imaculada.
7 Comentários:
HAha... foda! sacou pq eu não resisti e liguei lá outro dia? a próxima vez que eu fizer isso, te chamo pra ligar junto comigo, tá? aliás, vou cobrar o povo que prometeu colocar aquilo no youtubiu. bjks
Hahuahuah mto bom Tuca.
Nunca fui em uma, acho q não teria auto-controle suficiente pra aguentar ...
Beijosss
Os melhores programas de humor da TV hoje são estes "cultos" !!!!!
Parabéns pelo texto
Atlanta - USA
Favela, já presenciou um ensaio nessas igrejas? É tão ou mais engraçado do que ao vivo.
Mas eu, às vezes, fico é com vontade de chorar, tamanha é ingenuidade - ou seria cara de otário - do povo que ainda se pega a essas coisas pra viver...
Abraços!
hahahahhaha...grande Tia Imaculada !!!
o Bruno já tinha nos contado umas peripécias dela para nós...hahahaha
mais uma vez bagaçando Arthur.
Abraços
Gostei das minúsculas...
Hahaha, estou mijando de rir com ela!
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