11 de set. de 2007

Eu, terrorista

Há exatamente seis anos dois aviões derrubaram as torres gêmeas na empinada Manhattan, ação esta fruto de terrorismo, como todos sabem. Neste dia, lembro-me bem, e isto também não é novidade, que tudo ficou de pernas pro ar. Gente dizendo que começara ali a terceira guerra mundial, que a economia sofreria um abalo tão grande quanto o da crise de 29 entre outras coisas, além do desespero de algumas pessoas que tinham parentes nas terras do Tio Sam. Até aí, tudo bem. Mas a Dona Clara da Rua Boracéia, por exemplo, ficou duas noites sem dormir e quase morreu de insuficiência respiratória decorrente de sua extrema aflição. Claro, afinal seu filho Nezinho estava lá na “América”. Mas estava no interior da Califórnia, do outro lado do país! E não adiantava explicar. A mulher só sossegou quando Nezinho ligou e disse que estava bem.

Curta observação: não pretendo aqui tecer comentários nem fomentar fóruns de discussão sobre este episódio específico. Quero e vou hoje, meus caros, falar sobre terrorismo bem ao meu modo. Antes de mais nada deixo claro que, graças ao 11 de Setembro, aos carros e homens-bomba, aos atentados em metrôs e trens, entre outras barbáries de natureza assassina, suicida e extrema, como estas citadas, a palavra terrorismo ganhou cara e características bem definidas para a maioria das pessoas que a ouve.
Aposto uma grade que, para nove entre dez pessoas, a característica do terrorista é a de matar inocentes em massa com homens-bomba e não a de acumular riquezas e, para manter o poder, arrancar tudo o que o outro, mais fraco, ainda possa ter. Este mais fraco pode ser um trabalhador ou um país do terceiro mundo, por exemplo. A cara que o terrorista ganhou é a do Bin Laden e não a de um Bush ou um Médici, por exemplo. Este último se gabava justamente de livrar o país do terrorismo e da guerrilha comunista. Não obstante, utilizou métodos terroristas para alcançar seus imundos propósitos.
Para melhor entendimento, já que eu não tenho a destreza de um Simas com as palavras, e até para apoiar o causo que vou contar, recorro ao Houaiss:

Terrorismo
Acepções

■ substantivo masculino
1 modo de impor a vontade pelo uso sistemático do terror
2 emprego sistemático da violência para fins políticos, esp. a prática de atentados e destruições por grupos cujo objetivo é a desorganização da sociedade existente e a tomada do poder
3 regime de violência instituído por um governo
4 Derivação: por extensão de sentido (da acp. 1).
Atitude de intolerância e de intimidação adotada pelos defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos literário e artístico, em relação àqueles que não participam de suas convicções
Ex.: t. intelectual


Como depois do Houaiss não é preciso falar mais nada, além de minha observação não ter sido curta, vou agora revelar um ato de terrorismo do qual fui um dos cabeças, atuando no planejamento e também na execução do ato, no auge de meus oito anos de idade.

Na maioria dos bairros, sempre existe uma rixa entre os moleques da “rua de cima” e da “rua de baixo” e, naturalmente, minha turma jogava bola contra a molecada da rua de cima, passava o cerol nas pipas (diz-se papagaio também) deles, tocava as campainhas de suas casas e saia correndo, entre outras disputas acirradas. A concorrência entre as turmas era grande e o que estava em jogo era quem exercia o domínio do território, em algumas vezes tal rivalidade acabava na porrada. Houve, porém, durante algum tempo, um período de consenso no qual foi definida a economia de muquetadas, já que um dia o Ruizinho chegou todo arrebentado em casa e seu irmão de 13 anos, valentão, ameaçou bater na molecada. Durante este intervalo não valia briga, mas não houve paz. Tudo era motivo pra provar quem é mais fodão.

Um parceiro meu, o Filé, que havia perdido no bafo a figurinha do centroavante Gaúcho para o Tico, que era o chefe da turma da rua de cima, chorava e queria a figurinha de volta. O Gaúcho era raro e seria impossível achar outro. Como o Tico não devolveu a figurinha e nem quis trocar por outras dez, amparado pela lei da não-porrada, começou a tirar sarro. Nós estávamos em três contra ele, mas não podíamos bater. Foi aí que minha mente terrorista brilhou e eu, veementemente bradei: “Banho de cócegas!”.

O banho de cócegas acabou virando arma dois lados. Tico, todo cagado após as sofríveis gargalhadas, perdeu a moral e foi destituído do comando da rua de cima. Recuperamos o Gaúcho!

4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

já fui alvo desse tipo de "manifestação". Agora descobri onde o Mamute aprendeu tal tática...

Abraços Arhur !!!!

11 de setembro de 2007 às 21:39  
Blogger Craudio disse...

Favela, já parou pra pensar que a gente só conhece gente que era da rua de baixo???? hahahahahahahahahahha

Abraço!

14 de setembro de 2007 às 11:59  
Anonymous Anônimo disse...

muito bom

14 de setembro de 2007 às 16:25  
Anonymous Anônimo disse...

Tá com preguiça moleque ?

18 de setembro de 2007 às 08:56  

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