27 de out. de 2010

De Lula para Lula

Neste dia em que Luis Inácio Lula da Silva, o maior presidente da nossa história, faz 65 anos, reproduzo texto monumental de meu amigo Luiz Antonio Simas.


DECLARAÇÃO DE VIDA E DE VOTO

Sou um homem comum, filho de mãe pernambucana e pai catarinense, criado por uma avó nascida no sertão das Alagoas, precariamente alfabetizada, e por um avô do litoral de Pernambuco com um pouco mais de estudo formal. Entre os meus familiares fui o primeiro a terminar o ensino médio e entrar numa universidade pública.
O Brasil em que fui criado passa longe, muito longe, de salões empedernidos, bancos acadêmicos, bolsas de valores, altares suntuosos, restaurantes chiques e esquinas elegantes. O Brasil dos meus olhos de criança e das minhas saudades de adulto é o dos campos de futebol, mercados populares, terreiros de macumba e rodas de samba.
Faço, do ponto de vista de minha vida profissional, exatamente o que queria fazer quando entrei na faculdade de História - dou aulas. Apesar de trabalhar com pesquisa, ter publicado livros e o escambau, meu negócio é mesmo ser professor.
Lido com alunos do ensino médio e do ensino superior. Prefiro os primeiros. Me divirto com a garotada. Lecionar me permite não usar terno, gravata, sapato e cinto para trabalhar. Esse foi, acreditem, um aspecto que pesou na escolha do babado.
Não tenho temperamento para ser dono de porríssima nenhuma. Fujo de responsabilidades que impliquem em dar ordens a alguém. Canto Noel, João do Vale, Wilson Batista, Geraldo Pereira e Pixinguinha enquanto trabalho e vejo nisso, como no batuque, um privilégio.
Dou aula sobre pecuária no Brasil Colonial puxando toada de boi bumbá; falo da abolição da escravidão cantando o samba da Mangueira de 1988 e sou - por opção e formação - tamoio, inconfidente, conjurado, balaio, cabano, malê, farrapo, capoeira, jagunço e quilombola.
Não ficarei rico nem a cacete e tenho a decência de não almejar fortuna. Não falta, porém, a comida na mesa e os caraminguás para fazer, vez por outra , uma graça com a mulher amada e tomar a cerveja gelada com os do peito. Acompanho o futebol e componho uns sambas. Tenho a vida simples e digna que todos os trabalhadores brasileiros merecem ter.
Acho um drible de Mané Garrincha mais elegante que desfile de moda, a feira de Caruaru mais sofisticada que a Daslu, a dança do mestre sala mais nobre que o pliê de um bailarino clássico e o gibão de couro de Luiz Gonzaga mais imponente que as fardas e galardões dos generais.
Não sou versado nos meandros da análise política mais consistente e me falta o jeito para expor gráficos, tabelas e babados que comprovem as melhorias - entre barrancos, tranqueiras e sonhos aqui e ali maculados - que o Brasil vivenciou nos últimos anos. Outros malungos, companheiros da mesma jornada, já fizeram isso com competência e quem quiser que conte outra ou salte de banda. O povo sabe.
Minhas razões para declarar meu voto nas eleições são de outra ordem e dispensam os números:
Eu vou de Dilma porque insisto em lançar sobre o Brasil uma mirada grávida de encantamentos, crenças, sons, defesas milagrosas, gols impossíveis, cheiros de litorais, aromas de florestas e afeto desmensurado pelo povo miúdo que, na sabedoria da escassez, reinventa a vida e civiliza o chão de onde vim e é a raiz melhor do que eu sou.
É só por isso, e assim me basta.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Cabra,

Publica um texto do Serra também porra..seja justo com a democracia...
Publica meu texto aqui....voto no Serra porque sou da Canalha...porém não escondo de ninguém que gosto das coisas boas da vida...quero ter um bom emprego e trabalhar numa puta empresa(e isso só é feito nas empresas privadas, porque no público ninguém faz isso...e os que fazem são minoria..mamam na teta do governo e traalhar 4 hrs por dia). Quero jantar em bons lugares e em botecos também...quero ir no cinema e teatro e numa roda de samba em qualquer lugar....quero estudar cada vez mais e não achar bonito ser analfabeto...gosto de roupas, sapatos, tênis, chuteiras, carteiras e cartões....ternos e bermudas...camisa do palmeiras e do anhanguera....mas eu falo que GOSTO porra..eu sou da CANALHA (como vocês dizem) mas eu admito...não fico com idealismo barato e discurssos bonitos que não sai do papel...e da mesa do bar...que na vida real faço outra coisa...é muito bonito ser comuna...mas eu não conheço nenhum que mora na favela e anda de metrô porra....é fácil querer dividir o que é dos outros...é fácil ao invés de investir $$$ em educação e saúde..dar um BOLSA Família...

Com todo respeito (e peço que respeitem a opinião de todos)....mas volte a escrever textos interessantes e não esses discursos políticos que não acrescenta nada...

Bj,
Angelo

27 de outubro de 2010 às 20:21  

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