25 de out. de 2007

A tábua necessária

A patrulha dos pais sobre filhos adolescentes é uma prática comum. As drogas são a principal preocupação paternal, o que faz com que muitos queiram saber com quem os filhos andam, quem são os pais, qual a procedência de fulano e por aí vai. Concordo que alguns cuidados nunca são demais. O problema se dá quando bate a histeria e a coisa toma proporções exageradas, o que gera invasão de privacidade, férteis imaginações e impulsos de detetive. Foi isso o que aconteceu há oito anos com minha tia Deise, irmã de minha mãe, em relação ao seu filho Felipe, então com 14 anos, ainda gordinho e desengonçado.

O Felipe – é preciso dizer – sempre foi uma criança metida a gente grande, chegando a bolar planos, aos três anos, para de fugir de casa. Saía correndo na rua pra não dar a mão para adulto nenhum – morria de vergonha de chegar à escola sendo levado por alguém.

No episódio em questão, a Deise, conhecendo o filho que tem, ficou cabreira quando o moleque ficou amigo de uma moça doze anos mais velha que ele. Era ligação pra cá e pra lá. Uma tremenda amizade. O que o moleque queria mesmo, é claro, era copular pela primeira vez e ali, aspirando boas chances, caiu na malícia da moça e acabou se envolvendo emocionalmente, ou seja, se perdeu de paixão, ainda que não a conhecesse pessoalmente. Mantinham contato num bate-papo na internet, uma das maiores bostas que existem. A minha tia estranhou quando pela primeira vez atendeu a um telefonema da cuja e encasquetou que, além de bem mais velha, ela tinha voz de sapatão (é mole?). Decidiu checar.

Espiou, de longe, o empolgado filho revelando a um amigo que encontraria pela primeira vez a misteriosa amiga: “É hoje! É hoje!”, o que já fez arrepiar seus longos cabelos negros. Ficou com a pulga atrás da orelha, a Deise, matutando no que uma mulher de 26 podia querer com um pivete de 14. Seria ela uma pedófila ou uma aliciadora de menores? Seria uma seqüestradora? Uma traficante? Deise resolveu adotar a famosa estratégia “João-sem-braço” para não deixar seu filho cair nas garras da malfeitora. Como moram num sítio, é preciso ir para a cidade – que fica a 5 quilômetros - de carro. Felipe já tinha arquitetado o plano: diria que estudaria na casa de um amigo. Mal sabia que sua mãe tinha um contra-plano: levaria o garoto até a cidade e o seguiria para desvendar quem era a enigmática mulher.

Após saltar no centro da cidade, o ansioso rapazinho de cabelo molhado repartido ao meio rumou para a pequena rodoviária da minúscula cidade de Águas de São Pedro com aquele andar de pernas tortas em que as gordas coxas vão se debatendo e milhões se assaduras se formam na virilha. A prevenida mãe, no melhor estilo Sherllock Holmes, encostou o carro e deu a volta para espreitar do outro lado, a alguns metros, onde não poderia ser vista. Felipe, um aspirante na arte da conquista, já aguardava a garota segurando uma linda rosa vermelha com as duas mãos na altura do peito.

Encostou um ônibus e nada, depois veio outro e... Nada. O tempo foi passando e meu primo já andava de um lado para outro, afoito, chutando pedrinhas no chão. A cada ônibus que parava, ele se postava em frente à porta, numa tremenda ansiedade. Assim aconteceu quando o terceiro ônibus, depois de uma hora do horário marcado, encostou. Porém, novamente ela não apareceu, para decepção total do menino de 14 anos. Suspirou forte, ombros arreados, cabeça baixa. A rosa, a essa altura, estava tão murcha quanto o rejeitado Felipe, que a jogou no lixo e seguiu, passos lentos, para sua casa.

Deise, com um sentimento misto de felicidade, por não ter ocorrido o encontro, e tristeza, por seu desolado filho ter levado um cambau, rapidamente deu a volta, pegou o carro e passou por ele, como se estivesse fazendo alguma coisa na cidade, emendando:

- Ué, meu filho. Não ia estudar?
- Ah mãe! O Lelé estava jogando vídeo game. Vou estudar em casa! – Respondeu puto da vida.

No mesmo dia, a moça ligou. Felipe chamou-a de “vaca” e pediu para que ela nunca mais ligasse.

Este foi o episódio que o tornou um cara mais ligeiro não só com as mulheres, mas com tudo. É necessário, quando jovem, sofrer uma decepção bem doída para aprendermos, pro resto da vida, a cair do cavalo e saber que do chão não passa.

11 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Aaaaaaaaaaaii que dózinha meu deeeeeeuuus !! ahahahhahaha ...
A rosa murchando rí demaaaaaaais ! ahahahahahhahaha ...
Pois éé ... essas decepções relamente nos ensinam a enxergar algumas coisas por outros ângulos ...
E não é que aconteceu comigo ?



Obrigada por me arraancar sorrisos desse rostinho tão desanimado !
te amo ! beijoss, sua irmã ...

26 de outubro de 2007 às 16:27  
Anonymous Anônimo disse...

Aí Arthur, se o Felipe não sabia dessa espionagem ficou sabendo e o pior é que ele vai desconfiar que outras tantas devem ter acontecido.
Tadinha da tua tia.... mas mãe que é mãe cuida da cria meu filho.

Beijos

Mami

26 de outubro de 2007 às 16:35  
Anonymous Anônimo disse...

É, acho que realmente a gente aprende mais na dor do que no amor, mas não sou muito adepta à pedagogia de levar tombos toda hora, viu?
Beijo querido

26 de outubro de 2007 às 19:50  
Anonymous Anônimo disse...

hahahahhaha...entregando os planos da sua tia, Arthur ???
o Fê é uma figura...
mas é isso mesmo que vc disse...sendo por amor ou nao, é bom quebrar a cara de vez em quando!

abraços

26 de outubro de 2007 às 22:09  
Blogger Luciano disse...

Oi Arthur,

tudo bem amigo???

Manda atráves do meu e-mail os seus telefones. Gostaria de falar contigo.

E-mail: lucianogama@hotmail.com

Luciano Gama

29 de outubro de 2007 às 15:54  
Blogger Craudio disse...

Coitado do moleque, Favela. Mas me lembra muito as vaciladas que eu dava com muié até uns 5 anos atrás hahahahahhahahahahahahahahha...

29 de outubro de 2007 às 20:38  
Anonymous Anônimo disse...

Li bastante e gostei do blog. Mas só reconheci um personagem, o lendário Durão, amigo do meu avô.
Não achei nada do Moringa, do Cyborguinho, Walter (que dava aula de halterofilismo)...

30 de outubro de 2007 às 01:16  
Blogger Arthur Tirone disse...

Anônimo: Quem é você? É do Bom Retiro ou da Barra Funda? Mande um e-mail pra mim (arthurtirone1@hotmail.com). Talvez nos conheçamos!
Abraços.

30 de outubro de 2007 às 10:51  
Anonymous Anônimo disse...

ahahaha eu gostei da parte que as coxas raspavam uma na outra, e que ele estava ficando assado ahaha...
muito bom texto arthuca!
domingo to de volta...agora é serio!
abraçoss

30 de outubro de 2007 às 16:10  
Anonymous Anônimo disse...

Ahhh hahahaahah
O Felipe é um barato
A tapioca dele é a melhor!!!
(Ainda me lembro)

Bjs!!!!

1 de novembro de 2007 às 15:28  
Blogger Eugenia disse...

tadinhooooo

6 de novembro de 2007 às 18:38  

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