Direção ofensiva
Dirigir não me apetece muito. Desconheço rigorosamente todas as engenhosidades de qualquer veículo motorizado. Eu tenho, há seis meses, um carro e o considero útil pras minhas andanças noturnas, principalmente quando bebo, na mesma noite, em bairros distantes. Pra trabalhar, prefiro o ônibus. Em uma hora de viagem rumo à labuta, posso dormir ou ler e ainda presenciar episódios hilários, histórias do cobrador, bronca no motorista e os bêbados do busão. Conheci há poucos dias, na Avenida Rio Branco, o amigo do Szegeri. Bradava, o cachaça!
Voltando aos automóveis, creio que essa minha total ignorância em relação ao “pé-de-borracha” é conseqüência de um desinteresse causado, principalmente, pelo status a ele atribuído, que suprime sua condição básica de transportar e incita, de maneira abjeta, uma veneração odiosa. O Jorge, um rapaz que trabalhava comigo, por exemplo, sabe tudo sobre todos os modelos e marcas e fábricas do mundo, inclusive os preços de cada carro (com os centavos). O Heleno, amigo de um amigo meu, é louco por Fórmula 1. Manja, por exemplo, toda a trajetória e o paradeiro de Pupo Moreno, Ricardo Patrese e Jean Alesi, entre muitos outros. Acompanha também, emocionado, as fórmulas genéricas, como Indy, 3, Stock Car e Kart. O Nilton, da Rua Padre Luis, passa o domingo lavando e polindo seu carro. Tem também o Duda, um mecânico do Bom Retiro que percorre a cidade atrás dos rachas (ou pegas) e dedica todo o seu tempo para “envenenar” seu “possante” e arriscar sua vida. Mas cada maluco, como dizia Bezerra da Silva, com a sua mania.
Sem mais delongas, após a longa introdução vou ao assunto, que é sobre péssimos motoristas. Não falo aqui de gente que tem suas dificuldades na baliza, nego que não tem muito senso de direção norte-sul/leste-oeste, essas coisas que acometem a maioria das pessoas. Refiro-me a condutores que têm carteira por milagre – ou suborno -, já que os estragos que causam com um volante na mão são terríveis.
Conta minha mãe que foi viajar com a Hulda – uma amiga de sua mãe, minha avó - para Guaxupé, sul de MG, em meados da década de setenta. Hulda, aos quarenta, já cultivava a fama de ser um perigo ao guidom. O resumo do episódio é que, a viagem, que levaria no máximo quatro horas, demorou oito. A pilota, medrosa, é daquelas que anda com o peito colado na direção e a cara quase no vidro. Necessita - e por isso minha mãe corajosamente deixou de ir de ônibus e correu este grande risco - de alguém sempre ao seu lado, pois – acreditem – ela não lê placas! Não consegue de jeito nenhum dirigir e ler placas, o que faz com que se perca sempre que vai a algum lugar, conferindo a ela a fama de “atrasilda”. Outro agravante: A Hulda – acreditem novamente – não faz ultrapassagens. Nesta viagem, da cidade de Casa Branca, quando a pista fica duas mãos (“lambe-lambe”), até Guaxupé, a traseira de um caminhão a quarenta por hora foi a única vista por elas apreciada.
Num grau tão tosco quanto o da Hulda está o tio Emar, marido da Rosária, tia da minha mãe. Cometeu algumas proezas nas viagens que fez de Guaranésia para São Paulo, como dar 26 voltas na Praça Campo de Bagatelli, na zona norte, até chegar à conclusão que estava a andar em círculos. Destruiu, o tio Emar, vários motores, graças à sua resistência em trocar de marcha. O câmbio é seu maior inimigo, já que pra passar de primeira pra segunda é preciso olhar para a alavanca, e isso é a maior causa de seu longo histórico de colisões. Aliás, por falar em batida, o Emar aprendeu a dirigir num parque de diversões, levando seus filhos pra brincar no perigoso “carrinho de bate-bate”. O auge de seus desvarios automobilísticos se deu quando, ao não saber o caminho de volta da Barra Funda para Perdizes, onde seu filho mora, voltou pelo mesmo caminho, na contra mão, causando um grande caos na Avenida Sumaré, culminando no atropelamento de um poodle acompanhado de uma pomposa madame.
Na década de sessenta, no desfile das escolas de samba de São Paulo – não sei o ano exato -, aconteceu uma burlesca barbeiragem. Dessa vez não era um veículo motorizado, mas foi a que certamente causou mais estrago, já que definiu a desclassificação em uma competição importantíssima. A cena mais cômica desse ano se deu envolvendo um motorista de um carro alegórico da Camisa Verde e Branco, contou-me o Dadinho. A alegoria era um grande sapo, pilotado por um embriagado membro da Escola, que pedalava o anfíbio tranquilamente, com a cachaça em punho. Acontece que a cana bateu na cuca e o tal piloto acabou dormindo. Um tresloucado “sapo” atropelou a metade de uma ala e saiu da avenida. Mas o folião bebum, que depois recebeu o apelido de Sambacaçote, pelo menos não tinha carteira de motorista como a dupla Hulda-Emar.
Voltando aos automóveis, creio que essa minha total ignorância em relação ao “pé-de-borracha” é conseqüência de um desinteresse causado, principalmente, pelo status a ele atribuído, que suprime sua condição básica de transportar e incita, de maneira abjeta, uma veneração odiosa. O Jorge, um rapaz que trabalhava comigo, por exemplo, sabe tudo sobre todos os modelos e marcas e fábricas do mundo, inclusive os preços de cada carro (com os centavos). O Heleno, amigo de um amigo meu, é louco por Fórmula 1. Manja, por exemplo, toda a trajetória e o paradeiro de Pupo Moreno, Ricardo Patrese e Jean Alesi, entre muitos outros. Acompanha também, emocionado, as fórmulas genéricas, como Indy, 3, Stock Car e Kart. O Nilton, da Rua Padre Luis, passa o domingo lavando e polindo seu carro. Tem também o Duda, um mecânico do Bom Retiro que percorre a cidade atrás dos rachas (ou pegas) e dedica todo o seu tempo para “envenenar” seu “possante” e arriscar sua vida. Mas cada maluco, como dizia Bezerra da Silva, com a sua mania.
Sem mais delongas, após a longa introdução vou ao assunto, que é sobre péssimos motoristas. Não falo aqui de gente que tem suas dificuldades na baliza, nego que não tem muito senso de direção norte-sul/leste-oeste, essas coisas que acometem a maioria das pessoas. Refiro-me a condutores que têm carteira por milagre – ou suborno -, já que os estragos que causam com um volante na mão são terríveis.
Conta minha mãe que foi viajar com a Hulda – uma amiga de sua mãe, minha avó - para Guaxupé, sul de MG, em meados da década de setenta. Hulda, aos quarenta, já cultivava a fama de ser um perigo ao guidom. O resumo do episódio é que, a viagem, que levaria no máximo quatro horas, demorou oito. A pilota, medrosa, é daquelas que anda com o peito colado na direção e a cara quase no vidro. Necessita - e por isso minha mãe corajosamente deixou de ir de ônibus e correu este grande risco - de alguém sempre ao seu lado, pois – acreditem – ela não lê placas! Não consegue de jeito nenhum dirigir e ler placas, o que faz com que se perca sempre que vai a algum lugar, conferindo a ela a fama de “atrasilda”. Outro agravante: A Hulda – acreditem novamente – não faz ultrapassagens. Nesta viagem, da cidade de Casa Branca, quando a pista fica duas mãos (“lambe-lambe”), até Guaxupé, a traseira de um caminhão a quarenta por hora foi a única vista por elas apreciada.
Num grau tão tosco quanto o da Hulda está o tio Emar, marido da Rosária, tia da minha mãe. Cometeu algumas proezas nas viagens que fez de Guaranésia para São Paulo, como dar 26 voltas na Praça Campo de Bagatelli, na zona norte, até chegar à conclusão que estava a andar em círculos. Destruiu, o tio Emar, vários motores, graças à sua resistência em trocar de marcha. O câmbio é seu maior inimigo, já que pra passar de primeira pra segunda é preciso olhar para a alavanca, e isso é a maior causa de seu longo histórico de colisões. Aliás, por falar em batida, o Emar aprendeu a dirigir num parque de diversões, levando seus filhos pra brincar no perigoso “carrinho de bate-bate”. O auge de seus desvarios automobilísticos se deu quando, ao não saber o caminho de volta da Barra Funda para Perdizes, onde seu filho mora, voltou pelo mesmo caminho, na contra mão, causando um grande caos na Avenida Sumaré, culminando no atropelamento de um poodle acompanhado de uma pomposa madame.
Na década de sessenta, no desfile das escolas de samba de São Paulo – não sei o ano exato -, aconteceu uma burlesca barbeiragem. Dessa vez não era um veículo motorizado, mas foi a que certamente causou mais estrago, já que definiu a desclassificação em uma competição importantíssima. A cena mais cômica desse ano se deu envolvendo um motorista de um carro alegórico da Camisa Verde e Branco, contou-me o Dadinho. A alegoria era um grande sapo, pilotado por um embriagado membro da Escola, que pedalava o anfíbio tranquilamente, com a cachaça em punho. Acontece que a cana bateu na cuca e o tal piloto acabou dormindo. Um tresloucado “sapo” atropelou a metade de uma ala e saiu da avenida. Mas o folião bebum, que depois recebeu o apelido de Sambacaçote, pelo menos não tinha carteira de motorista como a dupla Hulda-Emar.
7 Comentários:
Imagina só, Favela, se a prova pra motorista tivesse exame de toque? O que ia ter de cabaço sem carta não tá escrito.
Mas eu me lembro de passar ali no meio do Anhembi - salve minha cambaleante Unidos do Peruche! - e ver aqueles carros enormes estacionados antes do desfile. A turma ia toda calibrada mesmo. O guia deles, acredito, deve ser o apito do mestre da bateria ou coisa que o valha. Mas dormir em ação, aí é coisa para poucos!
Abraços!
*****principalmente, pelo status a ele atribuído, que suprime sua condição básica de transportar e incita, de maneira abjeta, uma veneração odiosa.*****
Nessa frase, vc se superou ...
Minha mãe teve que traduzir suas palavras para que eu pudesse ter a compreensão total do texto !! ahahuahuahauhauhauhauhauhauhaua ...
mto bom o textooo Artuuuca !!!
Beijoooos
hahahahhahah
Adorei o texto.
Eu sou completamente perdida em SP, morro de medo de dirigir onde não conheço.
Mas eu pilooooto meu Paliozinho bebê!!!!! O Ava sabe!!!
ahahahahahahahahahahahhhahahahaha
Bjos e boa semana!!!!!
Ahh
detalhe
a praça campo de bagatelli é engraçada
já vi neguinho rodando e entrando em panico diversas vezes hahahaha
adooooro
agora tchau!!!!
Estava eu na net ;na madrugada; qd lembrei q um amigo nosso, havia comentado sobre seu blog, meu querido Arthur, achei os temas muito interessantes, e uma leitura muito agradavel, confesso q fiquei apaixonada pelo seu blog e por você tb, e que dei risada com algumas partes, principalmente com o ultimo texto, pois comprei a minha habilitação, não q eu seja uma incapacitada, mas fico nervosa na hora da prova...pois tenho certeza q sou boa motorista...
Adorei mesmo o blog!!
Aguardo anciosamente novas postagens...
beijos e até breve!!!
Coloquei anonimo pq assumi q comprei a carta...
Primeiro, xará, quero te dar os parabéns pela coragem de admitir que uma das principais funções do carro é a de transportar o cara que bebeu e tá com preguiça de pegar um ônibus. Também adoro viajar de ônibus, adiantar minhas leituras e vivenciar causos inóspitos no coletivo, com algumas pausas para admiriar a bela paisagem com que o destino às vezes nos brinda, se é que me faço entender.
Tenho um gol 97 que me custa 200 pratas por mês, só de seguro, sem contar IPVA, manutenção e combustível. Status é o caralho, Favela! Eu quero é me livrar do pé de cana (porque bebe pra caralho) e investir esses tantos contos em corridas de táxi, pra voltar pra casa encachaçado e com a consciência tranqüla...
enfim, valeu pela visita e pela correção - cheguei a ficar puto ao descobrir que a letra não era do Paulinho!
Grande abraço
4rthur
Sério mesmo que ele foi na contra mao??? jesusss! que perigooo...
iahiuhai tio Emar é relíquia uahauiah
beijosss primo lindo!!
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