23 de jul. de 2008

Anhangüera dá samba XIII

Ivan Milanez é um suburbano nato, figura da melhor qualidade. E-mail e celular são tecnologias dispensadas pelo malandro. E nessas horas a gente vê como são dispensáveis; porém admito que fiquei cabreiro no dia. O ônibus atrasou e o Ivan estava incomunicável; pedi ao taxista me ligar assim que o das 11h01 chegasse, e assim foi:

- Alô, mestre Ivan? Foi bem de viagem?
- Foi, só faltou um refresco...

Na primeira hora após pisar o Anhangüera, foram três uísques sem gelo batendo papo comigo, Bonitão e Gilmar antes de ser convocado para o comando do samba. Ivan Milanez é bom de prosa, de roda e de copo. Nesses minutos de cotovelos no balcão mostrou sua delicadeza. O Bonitão, sujeito finíssimo, depois um tempinho de ótimo papo:

- E aí? O senhor não vai comer, não?
- Senhor? Porra, tu é mais velho que eu!
- Toma mais um uísque!

Daí o Ivan botou a mão no meu ombro e chegou mais perto:

- Favela, e tu não faz samba não?
- Faço, Ivan.
- Então quando eu for cantar fica lá pertinho, tá?
- Às ordens!


O samba estava quente como sempre. O público é que estava amedrontado com a Lei Seca, que estreava naquela semana. Nunca se bebeu tanto refrigerante e água no Anhangüera após as duas da madruga. Antes disso, porém, Ivan Milanez incendiou. Chegou pianinho cantando sambas conhecidos pelo grande público até mandar o primeiro da Serrinha. Sentiu firmeza na assistência e deitou o verde e branco no terreiro pra deleite geral. Botou o jongo na roda, versou e batucou até o fim da noite e escreveu mais uma bela página do nosso projeto!



Nessa sexta vem chumbo do grosso. O Anhangüera recebe Marco Antonio e a Velha Guarda da tradicional Nenê de Vila Matilde. E para abrilhantar a noite teremos a presença portentosa de Seu Nenê, um dos últimos cardeais do samba paulista. Nenê é uma lenda viva; o maioral da Zona Leste. Seu nome representa uma comunidade, a única escola de samba paulista a desfilar na Marquês de Sapucaí. Lá atrás, muito antes do primeiro samba enredo da escola, o Casa Grande e Senzala de 1956 (de Paulistinha e Popó), Nenê do Pandeiro já era amigo de Inocêncio da Camisa Verde e Branco; dançavam juntos na mesma gafieira. É assim que receberemos os velhos da azul e branco; com o respeito e a amizade que sempre caracterizaram as relações entre Barra Funda e Vila Matilde. Dancemos juntos nossos sambas.
Para saber mais sobre Seu Nenê e sua Escola, leia aqui. Deixo o áudio do samba enredo da Nenê de 1981, que homenageia o gigante Candeia.
Até sexta!

2 Comentários:

Blogger André Carvalho disse...

da-lhe seu nene

23 de julho de 2008 às 16:59  
Anonymous Anônimo disse...

Mais uma vez Parabéns pelo seu projeto Cabra...infelizmente não consigo ir em todos, mas hj estarei lá prestigiando.

Abs,
Angelo

25 de julho de 2008 às 16:55  

Postar um comentário

Assinar Postar comentários [Atom]

<< Página inicial

online