O melhor roupeiro do Brasil
Quito, o maior roupeiro de que se tem notícia, e que inclusive já foi tema meu logo no princípio destas linhas a que os submeto semanalmente, é vítima constante e incansável de brincadeiras sujas e desonestas das quais, obviamente, não participo. Talvez por esta circunstância eu seja uma das raras pessoas que se aproxima a menos de um metro sem que ele fique arisco; sou também um dos poucos a quem ele chama pelo nome e não por “cara-de-caralho”, “cheio-de-bicho”, “cu-de-burro”, “sem-prega” e outros títulos inglórios. É possível que devido a seu vocabulário ser reduzido a palavrões, paulatinamente Quito passou a ser, dentro do Anhanguera, considerado um bichinho de estimação destituído da mais simples comunicação dialógica. Mais do que isso, é um cambono sem direito a ter um não como resposta; não que o obriguem a fazer favores como comprar cigarro, buscar cerveja e vigiar os carros na rua, além de seus afazeres obrigatórios de rouparia. Quito não sabe, há tempos – talvez desde 1935, quando nasceu -, negar. Foi criado para servir; reclama, xinga, fica puto, mas trabalha duro e assim será até cantar pra subir.
Se chegar aos 73 trabalhando não é mole, um funcionário que enche a cara de pinga durante o expediente dificilmente receberá nota 10 na avaliação de resultados, mas pra isso Quito está cagando e com razão. O time do Sucatão, por exemplo, começa a jogar as 8h00; para tanto, os uniformes devem estar disponíveis no vestiário às 7h30; Quito o faz, todos os domingos, muito bem feito, inclusive deixando sabonetes e toalhas para quando do término do jogo; tarefa padrão para todas as categorias (depois do Sucatão tem os Veteranos, depois o 2º e o 1º quadros). Porém, o vestiário ao fim do jogo do Sucatão, time com média de idade de 70 anos e panças descomunais, é um desfile de alambiques e tonéis. O Brasil inteiro é representado por suas cachaças naquele vestiário. Daí o Quito, que não tem a menor doutrina, às dez da manhã já está bêbado e a qualidade do serviço cai drasticamente fazendo com que ele se enrole. “Quito, enche a bola!”, “Quito, cadê o apito?”, “Quito, pega isso, cadê aquilo?” é o que mais se ouve. Administrar os uniformes, bolas, chuteiras comunitárias - das quais sou usuário, o que faz com que a unha do meu dedão esquerdo se renove a cada 6 meses graças a uma imortal micose - e das chaves dos vestiários torna-o a figura mais requisitada do clube aos domingos, o que o faz perder sua irrisória paciência e destilar palavrões a rodo.
O Nacional do Bom Retiro, clube mais antigo e grande rival, que fica na Rua Anhaia de frente para saída dos fundos do Anhanguera, é o refúgio do nosso roupeiro. Basta alguém dar um bico na bola e a redonda ir parar na Anhaia – coisa que acontece três ou quatro vezes todo domingo -, que os gritos de “Quito! Bola na rua!” ressoam. E lá vai ele correndo buscar a bola; com efeito, cada vez que isso acontece, o malandro não perde a viagem ao Nacional e volta mais empilecado (tem fiado lá, o filhodaputa!). É aí que começam as brincadeiras. Entre suas atividades, incluindo aí a pingaiada, Quito passa o dia a amassar latinhas para vender; e basta encher uma sacola que vem alguém por trás e dá um bico e latas voam pra todo lado. Isso quando um batalhão não arremessa um monte delas, as latas, na sua cabeça. Quem começou os maus tratos para com o Quito foi Waldir, o Diabo; estranhamente tal relação, reciprocamente, é carinhosa, mas caracterizada por essa conversão do aperto de mão em uma tapa na nuca; do abraço em puro prazer que o Waldir tem de deixar o Quito exasperado, de modo que o Quito chega a ficar amuado quando o Diabo não lhe incomoda; vai entender! O fato é que aí muita gente acha que tem tal intimidade e pode “brincar” com ele também...
Pela primeira vez após 15 meses do texto em que lhes falei do Quito, essa figura histórica, mostro-o novamente, mas dessa vez num filme que o Angelo, meu gêmeo, registrou no último sábado na gloriosa e altiva festa de 80 anos do Anhanguera – uma comemoração que não deixou pedra sobre pedra -, sobre a qual discorrerei muito em breve. No vídeo abaixo, Quito se desvencilha dos braços de um Waldir chapado que tentava “roubar-lhe” a prenda que daria a uma suposta amante (no filme, se refere à tal como “minha chapa”) e Angelo corre atrás com a câmera em punho; eu também vou e faço um pedido final. A resposta sintetiza tudo o que escrevi; do vocabulário à personalidade desta celebridade da Barra Funda. Tirem as crianças da sala!
Se chegar aos 73 trabalhando não é mole, um funcionário que enche a cara de pinga durante o expediente dificilmente receberá nota 10 na avaliação de resultados, mas pra isso Quito está cagando e com razão. O time do Sucatão, por exemplo, começa a jogar as 8h00; para tanto, os uniformes devem estar disponíveis no vestiário às 7h30; Quito o faz, todos os domingos, muito bem feito, inclusive deixando sabonetes e toalhas para quando do término do jogo; tarefa padrão para todas as categorias (depois do Sucatão tem os Veteranos, depois o 2º e o 1º quadros). Porém, o vestiário ao fim do jogo do Sucatão, time com média de idade de 70 anos e panças descomunais, é um desfile de alambiques e tonéis. O Brasil inteiro é representado por suas cachaças naquele vestiário. Daí o Quito, que não tem a menor doutrina, às dez da manhã já está bêbado e a qualidade do serviço cai drasticamente fazendo com que ele se enrole. “Quito, enche a bola!”, “Quito, cadê o apito?”, “Quito, pega isso, cadê aquilo?” é o que mais se ouve. Administrar os uniformes, bolas, chuteiras comunitárias - das quais sou usuário, o que faz com que a unha do meu dedão esquerdo se renove a cada 6 meses graças a uma imortal micose - e das chaves dos vestiários torna-o a figura mais requisitada do clube aos domingos, o que o faz perder sua irrisória paciência e destilar palavrões a rodo.
O Nacional do Bom Retiro, clube mais antigo e grande rival, que fica na Rua Anhaia de frente para saída dos fundos do Anhanguera, é o refúgio do nosso roupeiro. Basta alguém dar um bico na bola e a redonda ir parar na Anhaia – coisa que acontece três ou quatro vezes todo domingo -, que os gritos de “Quito! Bola na rua!” ressoam. E lá vai ele correndo buscar a bola; com efeito, cada vez que isso acontece, o malandro não perde a viagem ao Nacional e volta mais empilecado (tem fiado lá, o filhodaputa!). É aí que começam as brincadeiras. Entre suas atividades, incluindo aí a pingaiada, Quito passa o dia a amassar latinhas para vender; e basta encher uma sacola que vem alguém por trás e dá um bico e latas voam pra todo lado. Isso quando um batalhão não arremessa um monte delas, as latas, na sua cabeça. Quem começou os maus tratos para com o Quito foi Waldir, o Diabo; estranhamente tal relação, reciprocamente, é carinhosa, mas caracterizada por essa conversão do aperto de mão em uma tapa na nuca; do abraço em puro prazer que o Waldir tem de deixar o Quito exasperado, de modo que o Quito chega a ficar amuado quando o Diabo não lhe incomoda; vai entender! O fato é que aí muita gente acha que tem tal intimidade e pode “brincar” com ele também...
Pela primeira vez após 15 meses do texto em que lhes falei do Quito, essa figura histórica, mostro-o novamente, mas dessa vez num filme que o Angelo, meu gêmeo, registrou no último sábado na gloriosa e altiva festa de 80 anos do Anhanguera – uma comemoração que não deixou pedra sobre pedra -, sobre a qual discorrerei muito em breve. No vídeo abaixo, Quito se desvencilha dos braços de um Waldir chapado que tentava “roubar-lhe” a prenda que daria a uma suposta amante (no filme, se refere à tal como “minha chapa”) e Angelo corre atrás com a câmera em punho; eu também vou e faço um pedido final. A resposta sintetiza tudo o que escrevi; do vocabulário à personalidade desta celebridade da Barra Funda. Tirem as crianças da sala!
12 Comentários:
Primeiro! Puta que pariu é o melhor roupeiro do Brasil, Kito!!!!!!!!!!!!!!!
sem o meu vai toma no cú dele de domingo, não é domingo!!!
Viva Kito!!!
Viva Kito!!!
Viva Kito!!!
Lindo demais esse texto meu irmão!!!
Beijo
Eu tive o privilégio de fazer essa "tomada' do Kito..é importante termos registrado em vídeo, pois ele é uma lenda viva.
Parabéns.
Angelo
sensacional!
to rachando o bico aqui...
sensacional!!
vc fode?! Hahaha
merece um busto esse cara...
abraços Arthur!
domingo estarei no AAA tomando umas com vcs...assim espero!
Querido Quito rs....
Que me deu uma bela cadeirada na festa dos 80 anos...
Sei que não foi proposital, mas poxa, bem em mim Quito??!!??!
Não tenho nada a ver...
Ele ainda me pediu desculpas
rs rs rs
Beijos Arthur!!!!
Kkkkkk
O Quito é mais que lendário mesmo.
Arthur, teria como disponibilizar no You Tube o vídeo comemorativo do AAA que foi exbido na festa de sábado?
Abs
Fabio Bertolozzi
Ah... nesse video do Quito é meu pai ali no fundo? rsss
Mano, estou rindo e chorando ao mesmo tempo... Devo estar muito sentimental ultimamente... Saudade de você, seu canalha! Entro em férias a partir de segunda e exijo um nosso encontro, aqui ou acolá! Putabraço!!!
Fábio: vou disponibilizar sim, fique tranquilo. No filme, ao lado do Salim, é teu pai com o distintivo adesivo do Anhanguera que eu colei na lente do olho ruim dele!
Bruno, meu irmão, eu também choro por muitas coisas que deveriam - ou não mesmo, vai saber! - causar apenas risos. Ah, férias. Que beleza! Olha: da semana que vem não passa. Szegeri, prepare o figo!
Fico satisfeito em ver que o Brasil já terá o seu representante garantido para festa do Oscar 2009! Que fotografia! Que qualidade de imagem! Atores deslumbrantes! E os diálogos??? Poesia pura!
Szegeri: é várzea!
Lembro-me bem do Kito (muito engraçado ele...), fiz parte do AA Anhanguera em 1987 que tinha o Sr. Dino com técnico (ele pagava guaraná se ganhássemos o jogo), época muito boa que passei por aí, gostaria de relembrar vendo fotos de festivais nossos com grandes vitorias... Abraço a todos.
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