O Tirone e os Cabeleira - Parte IV
- Toninho, dá uma cerveja. – e estendeu-a para um envergonhado Adolfo – Segura aí, seu filho da puta. Quebra ela na minha cabeça agora!
- Não, Tirone. Eu não atirei nenhuma garrafa em voc... – Antes de completar qualquer explicação tomou, além da garrafada em cheio na moleira, um monte de pancadas. Dias de molho para Adolfo. Saldo: grande corte na cuca e maxilar quebrado.
Repercussão instantânea; o bairro novamente se ouriçava em torno do prélio. O que sucederia era a questão. Os Cabeleira, a princípio, nada fizeram. Ponderaram, introspectivamente, que seria melhor não ter mexido com Tirone. Não revidaram. Pior: tremeram. Pudera; ninguém até então ousara desafiá-los, nenhum deles imaginava tamanha coragem. Era como um jogo de pôquer; os Cabeleira blefavam e ganhavam. O blefe da quadrilha era o assassinato de Teixeira, episódio que servira para elevá-los à categoria assustadora de homicidas imundos e assim evitar qualquer revide de suas vítimas. Nenhuma alma pagava pra ver como Tirone, insanamente, resolveu fazê-lo.
A partir de então, e pela primeira vez, os Cabeleira estavam vulneráveis. Adolfo era a maior segurança da turma, o único que encarava uma briga no mano-a-mano; o menos perverso e covarde. É bem possível mesmo que Adolfo não tenha atirado nenhuma garrafa no velho. Nessa hora, porém, não havia argumento; ele estava lá. Alvinho tentara sem sucesso alertar Tirone para a versão de Adolfo, após a agressão do grupo. Segundo Adolfo, sua intenção era apenas a de “dar uma dura”, não imaginava que a intimada pudesse resultar em garrafadas.
Alvinho era exclusivamente torcedor do time do Carlos Gomes. Era considerado um “Cabeleira” por ser irmão de Adolfo e por beber com eles após os jogos todos os Domingos, embora não se envolvesse nas patifarias corriqueiras protagonizadas pelos “cabelo”. Grande dançarino, freqüentava assiduamente os bailes do Anhanguera. Graças a isso travava um relacionamento cordial e respeitoso com Barraca, Siola, Pé-de-Pato, Augusto, Durão... Enfim, com todos do Anhanguera, inclusive Tirone.
Cerca de um ano antes das garrafadas, numa bebedeira após um baile na sede do Anhanguera, num desses porres que fazem reconhecer grandes amigos, ainda que apenas no instante do efeito da garapa, Alvinho segredou a Tirone que a morte de Teixeira havia sido pelas mãos de seu irmão. Adolfo, e apenas Adolfo, matara Teixeira, disse o bebaço boca aberta aos prantos. Segundo o relato, após os Cabeleira arrebentarem Adolfinho e Teixeira, o cabra, na mesma noite, foi armado atrás de Adolfo e, num lance de legítima defesa, este também puxou, mas apertou antes de Teixeira. Somente Alvinho sabia do fato; agora Tirone também, confidência reveladora da única característica dos Cabeleira, uns “covardes vagabundos” – salvo Adolfo -, como urrava o Velho. Por isso Alvinho, no dia após as garrafadas, tentara interceder; os Cabeleira mexeram com o homem que, além de ser a maior encrenca, sabia que os “cabelo”, por serem os principais suspeitos pelo apresuntado, se aproveitavam do assassinato que não cometeram e se calaram, consentindo tal pecha.
Daí o que seguiu foi uma inapelável seqüência de “caça aos Cabeleira”; inacreditável e empolgante aos olhos que viam, digna de fazer os maiores enlatados americanos parecerem tão inofensivos quanto o Bambalalão. Aconteceu na Barra Funda, em 1947, o maior estupro moral que uma renca - essa é velha! - de homens barbados poderia sofrer, a ponto de escafederem-se do lugar para nunca mais.
(Continua)
- Não, Tirone. Eu não atirei nenhuma garrafa em voc... – Antes de completar qualquer explicação tomou, além da garrafada em cheio na moleira, um monte de pancadas. Dias de molho para Adolfo. Saldo: grande corte na cuca e maxilar quebrado.
Repercussão instantânea; o bairro novamente se ouriçava em torno do prélio. O que sucederia era a questão. Os Cabeleira, a princípio, nada fizeram. Ponderaram, introspectivamente, que seria melhor não ter mexido com Tirone. Não revidaram. Pior: tremeram. Pudera; ninguém até então ousara desafiá-los, nenhum deles imaginava tamanha coragem. Era como um jogo de pôquer; os Cabeleira blefavam e ganhavam. O blefe da quadrilha era o assassinato de Teixeira, episódio que servira para elevá-los à categoria assustadora de homicidas imundos e assim evitar qualquer revide de suas vítimas. Nenhuma alma pagava pra ver como Tirone, insanamente, resolveu fazê-lo.
A partir de então, e pela primeira vez, os Cabeleira estavam vulneráveis. Adolfo era a maior segurança da turma, o único que encarava uma briga no mano-a-mano; o menos perverso e covarde. É bem possível mesmo que Adolfo não tenha atirado nenhuma garrafa no velho. Nessa hora, porém, não havia argumento; ele estava lá. Alvinho tentara sem sucesso alertar Tirone para a versão de Adolfo, após a agressão do grupo. Segundo Adolfo, sua intenção era apenas a de “dar uma dura”, não imaginava que a intimada pudesse resultar em garrafadas.
Alvinho era exclusivamente torcedor do time do Carlos Gomes. Era considerado um “Cabeleira” por ser irmão de Adolfo e por beber com eles após os jogos todos os Domingos, embora não se envolvesse nas patifarias corriqueiras protagonizadas pelos “cabelo”. Grande dançarino, freqüentava assiduamente os bailes do Anhanguera. Graças a isso travava um relacionamento cordial e respeitoso com Barraca, Siola, Pé-de-Pato, Augusto, Durão... Enfim, com todos do Anhanguera, inclusive Tirone.
Cerca de um ano antes das garrafadas, numa bebedeira após um baile na sede do Anhanguera, num desses porres que fazem reconhecer grandes amigos, ainda que apenas no instante do efeito da garapa, Alvinho segredou a Tirone que a morte de Teixeira havia sido pelas mãos de seu irmão. Adolfo, e apenas Adolfo, matara Teixeira, disse o bebaço boca aberta aos prantos. Segundo o relato, após os Cabeleira arrebentarem Adolfinho e Teixeira, o cabra, na mesma noite, foi armado atrás de Adolfo e, num lance de legítima defesa, este também puxou, mas apertou antes de Teixeira. Somente Alvinho sabia do fato; agora Tirone também, confidência reveladora da única característica dos Cabeleira, uns “covardes vagabundos” – salvo Adolfo -, como urrava o Velho. Por isso Alvinho, no dia após as garrafadas, tentara interceder; os Cabeleira mexeram com o homem que, além de ser a maior encrenca, sabia que os “cabelo”, por serem os principais suspeitos pelo apresuntado, se aproveitavam do assassinato que não cometeram e se calaram, consentindo tal pecha.
Daí o que seguiu foi uma inapelável seqüência de “caça aos Cabeleira”; inacreditável e empolgante aos olhos que viam, digna de fazer os maiores enlatados americanos parecerem tão inofensivos quanto o Bambalalão. Aconteceu na Barra Funda, em 1947, o maior estupro moral que uma renca - essa é velha! - de homens barbados poderia sofrer, a ponto de escafederem-se do lugar para nunca mais.
(Continua)
12 Comentários:
Caraaaaaaaaaco seu Tironeeeeeee !!!!!!!!
Que corageeeeeeem !!!! ahauhauahuhaauahua ...
Aaaaaaaaaaaaaaaaaaahh conta maaaaaaiiiiiiiiiiisss !!! ahauahuahua
Carol: conto sim, mas não precisa gritaaaaaar!
Leia, acho que você esqueceu: O Portunet
Beijo.
shauhsuahushaushua ...
Bronquinha de irmão avisada com antecedência é bem vinda !!hahahahahaha ...
VIVA O PORTUNEEEEEEEEEEEEEEEET !
hauhauahuahuahuahuah ...
beijoooooooooo :)
Favela "Hichtcock"
Não rola um "cenas do próximo capítulo"?
huauhahuahuahuahua
Abração
A parte IV foi ótima Cabra..agora começa a saga de vovô na caça aos cabeludos...estou ansioso !
Abs,
Angelo
Não acredito... Não acabou??? Quero meu dinheiro de volta!
(perguntinha: por que todo mundo por aqui LATE?)
É, Szegeri-mano-véio-de-guerra, tá difícil. Eu humildemente tento, falo, explico, escrevo um texto, mas não adianta... Desisto!
Bóra terminar logo essa novela. Chega de Cabeleira por aqui!
Do jeito que o irmão do Adolfo estava bêbado, ele podia dizer até que o Sargento Garcia pegou o Zorro, que a Odete Roitman matou o Salomão Hayala, que o Ronaldo nunca saiu com os travecos, que já foi a enterro de anão, que já pescou bacalhau etc. etc. Acho que ele mentiu, o filho das unhas.
Que beleza! Essas histórias do Tirone dariam uma bela de uma minisérie! Beijo, mano!
Sou uma das leitoras (ex) anônimas deste blog. Venho via PátriaFC. Gosto muito de suas histórias. E essa então... Mas já estou tão ansiosa pelo final que quase pedi meu dinheiro de volta agora, como fez o Szegeri.rs
Abraço
Perla Lima
Zé Sérgio: Pior é que o Alvinho não mentiu, não. Quem não sabe beber devia encher a cara de leite, né?!
Brunão: Se eu escrever todas as outras, vira uma novela mais comprida que qualquer outra já vista! Beijo.
Perla Lima: Chegue bem chegada. Obrigado pelo gosto em ler o Anhanguera e o causo do Velho Tirone, que está chegando ao final, até que enfim!
Abraço.
Artú, o sucesso está lhe subindo à cabeça, mano???
Vc. está parecendo o João kléber que só ficava enrolando para mostrar o final do teste de fidelidade com o único propósito de segurar o telespectador...rsrs
Acaba loooogo essa história!
Bjo do Adri "Cirrose" Tironi
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