15 de abr. de 2011

Destruição de um templo

Não tem saída: a gente tem que brigar pelas causas em que acreditamos. Sou contra - até certo ponto - a modernidade e explico. Não quero ser nostálgico, nem viver um tempo que não é o meu. O mundo está aí; as inovações tecnológicas e as mudanças comportamentais são inevitáveis. Mas é triste quando a mudança é ditada apenas pelo fator econômico. Quando não se leva em conta o fator social, as instituições, a tradição... Aí o molho desanda.

Uma briga que travo com especial fervor é pelo futebol varzeano em geral, e mais especificamente pela minha agremiação, o Anhangüera, clube fundado em 1928. É na várzea que ainda se vê - não nos campeonatos promovidos por cervejarias, que já operam nos moldes do futebol moderno - um futebol genuíno. Acreditem que existe amor à camisa.

Há alguns anos eu dizia que as quadras de futebol society eram o grande vilão, o algoz do futebol amador. Eu não estava enganado. As quadras de jogadores de carpete estão acabando; o mercado imobiliário está pilhando todas elas. Mas não tenho muito o que comemorar. Alívio? Pelo contrário: elas deixaram um vestígio irreversível: uma nova maneira de se jogar futebol na cidade. Como um parasita social, elas mudaram toda a concepção de amadorismo: quer jogar, pague! Acaba-se com uma velha instituição forjada pela habilidade de jogar, pela iniciação.

Aliada a esta aberração comportamental, a prefeitura tem acabado com vários clubes antigos. E aos que ela julga interessantes, impõe goela abaixo a modernidade: grama sintética. Escrevi há dois anos e meio sobre isso, quando começou a ser ventilada a notícia de que o Anhangüera sofreria as conseqüencias deste progresso obtuso. Meu texto pode ser lido aqui.

As pessoas que circulam neste meio - seja no Anhangüera ou nos outros clubes - estão completamente inebriadas. É, de fato, muito bom economicamente. O campo terá uma demanda de aluguel jamais sonhada, e os cofres vão agradecer. A questão não é a grama - também acho um tesão jogar no sintético. O problema é que finda uma era, um modus vivendi - que sobrevivia ainda que por aparelhos - que é um dos pilares da cidade desde o começo do século passado. Uma mudança que enterra de vez um jeito de se viver, de se relacionar - com as pessoas e com o futebol.

A maioria das pessoas, infelizmente, não acham que têm responsabilidade, e nem se dão conta disso. Em alguns anos, vão lembrar com nostagia do terrão, e de como era bom "aquele tempo".

Campo do Anhangüera em 2010

Campo do Anhangüera hoje, em obras

6 Comentários:

Blogger Ana Paula Faria disse...

Olá, onde podemos consultar uma agenda atual do Anhanguera? Ouvi dizer que dia 6 tem Monarco e gostaria de confirmar. E sexta agora, 29, tem também? quem é o convidado? Obrigada. Ana Paula Faria.

26 de abril de 2011 às 14:59  
Blogger Sandrinha disse...

Oie, eu também gostaria de saber a programação para esta sexta dia 29/04....

27 de abril de 2011 às 18:22  
Blogger Arthur Tirone disse...

Ana Paula e Sandrinha: amanhã tem Anhangüera dá Samba! Os Inimigos do Batente homenageiam o compositor Kazinho, com as participações dos cantores Chico Médico e Paula Sanches.
E dia 06 tem Tuco e Batalhão de Sambistas com Monarco.

28 de abril de 2011 às 09:34  
Blogger Sandrinha disse...

Obrigada Arthur, estarei lá com certeza!

28 de abril de 2011 às 10:48  
Blogger Craudio disse...

Porra, Favela. Que tristeza ver essas coisas... As pessoas pensam, de fato, que as agremiações de futebol, seja na várzea ou no profissional, precisam funcionar como empresas.

É simplesmente nojento ver a naturalidade com que tratam essa modernidade imbecil. Estão reinventando a história como farsa, elitizando o esporte que o povo lutou muito para ter como seu.

4 de maio de 2011 às 20:49  
Anonymous Rodrigo Salgado disse...

Mano, o mais foda é ter que aturar "na marra", como vc disse, sem dar voz a populaçao.
Jogava na Várzea, no Canindé aqui da ZL. Tinhamos 2 campos, um nosso e um perto, o do clube dos amigos. E era lá que a molecada se divertia depois da escola e nos fins de semana. E a molecada não via a hora de crescer para poder jogar no Canindé.

Pois a prefeitura tomou os dois campos e fez moradias. Até aí, vai lá. Mas não fez nada para compensar aquele crime contra a várzea. Conclusão... onde a molecada ia se divertir com o futebol, virou um antro de traficantes e moleques usando drogas...

Morte ao futebol moderno!!

Abraços

4 de maio de 2011 às 21:03  

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