24 de abr. de 2007

Saudade... Nostalgia inconsciente

Narrarei aqui um dia que passei ao lado de um grande homem, o Osvaldo.

Foi há três semanas, era Sábado. Minha intenção era apenas comprar a Gazeta Esportiva na banca da esquina. Encontrei-o na Rua Lusitana. Ele acabara de alimentar os animais (é carroceiro de burros) e estava indo para casa. Conversamos sobre a pancadaria que acabou com o baile na sede do Anhanguera uma semana antes.
Pausa: o Osvaldo, pra quem não conhece, é um baita briguento. Não leva desaforo pra casa e não tem muita paciência. É tão forte e corajoso que encara uma briga com dez homens de uma vez!

Fomos até o buteco Nunca Fecha na Rua do Bosque beber umas geladas. Lá encontramos Augusto e Siola, que se juntaram a nós. Siola, sempre retraído, tranqüilo, com seu cigarro de palha, enquanto o Augusto contou-nos sobre um novo campo que o Anhanguera vai conseguir ali na Rua dos Americanos. O Augusto é jogador e diretor do clube, já o Osvaldo joga, mas não gosta de se meter em assuntos burocráticos.

Saímos do Nunca Fecha o Osvaldo e eu e fomos tomar mais uma no Fecha Nunca, um pouco mais a frente. Falamos sobre nosso time, o Corinthians. Estávamos entusiasmados, pois é o atual tri-campeão paulista e, além disso, vamos inaugurar o estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na próxima semana, contra o Atlético Mineiro. Faremos também, no começo do ano que vem, um jogo beneficente contra nosso maior rival, o Palestra Itália, para arrecadar fundos para um time novo, o São Paulo Futebol Clube, que está falindo.

Dali partimos em direção à sede do Anhanguera, pois jogaríamos contra o potente time do Piratininga, na casa do adversário. Fui direto e o Osvaldo foi pegar o caminhão que acabara de comprar. Ele é quem levará os atletas e os torcedores para os jogos a partir de agora!
Eu fiquei apenas na torcida, pois era jogo do 1º quadro e eu, como vocês bem sabem, não sou um jogador que se diga: “Nossa, que craque, esse Arthur!”... Mas o Osvaldo joga. É beque! E daqueles que não tem medo. Sabe jogar e quando é preciso enfia o bico na gorducha!

A peleja estava nervosa... Estávamos perdendo por 1x0, quando, aos quarenta minutos do segundo tempo, no final do jogo, o juiz apitou um penal para nosso esquadrão. O Osvaldo, nervoso que só ele, pegou a bola e foi bater. Ele nunca havia batido uma penalidade máxima. Correu e deu um tirambaço no travessão. A torcida do Piratininga gritou em coro um sarro pra ele, que, puto da vida, fez para a torcida (que tinha várias damas) aquele singelo sinal de segurar firme o genital (tapando-o) e balançá-lo incessantemente, dizendo: “Aqui pra vocês, ó!”.

Três homens entraram em campo com pecheras do tamanho de uma espada para arrancar-lhe a “clava forte”. Foi um tal de segura daqui, segura dali, que enfim conseguimos sair do campo sem nenhum arranhão. Pura sorte!

Mais calmo, o Osvaldo me chamou para ir ao cinema à noite. Ele iria com sua noiva, a Antonia, que levaria uma amiga, a Trieste, que é a moça mais linda que há na Barra Funda. Uma boneca. Eu, nem acreditando, aceitei na hora!

As 18h30 encontrei-me com o Osvaldo, passamos nas casas das moças e fomos ao Cine Paris a pé. Não quisemos pegar o bonde. A Trieste estava mais linda do que já é. Chegando ao cinema, acomodamo-nos e as duas pediram maçã-do-amor. Sentei-me ao lado da Trieste, que se emocionou com o filme A Estrada de Santa Fé, estrelado por Errol Flynn e Olivia de Havilland. Ao final do filme, peguei na mão da escultural donzela, que não se opôs à minha investida e sorriu com o canto da boca. Uma semana depois já namorávamos oficialmente!

Como levamos as duas para suas casas às 22h00 (elas não podiam chegar mais tarde), fomos para um cabaré na Avenida São João. Ao chegarmos, penduramos os chapéus e abrimos dois botões da camisa. Estava muito calor. As damas, quando viram nós dois entrando, foram em cima do Osvaldo. Ele é um exímio pé-de-valsa. Dançamos tangos e boleros com elas por uma hora e ainda bebemos e tiramos umas casquinhas das damas, já que com as meninas de família é impossível isso acontecer antes do casamento. Após isso, ainda jogamos pôquer com uns malandros dos Campos Elíseos numa salinha escondida e escura no fundo do cabaré. Perdemos todo o nosso pouco dinheiro...

E bêbados, com uma garrafa de vinho em punho, saímos pelas ruas do centro abraçados, cantando a marchinha de João de Barro Dama das Camélias, gravada por Francisco Alves, grande sucesso do carnaval deste ano de 1940!


*** Narração de um sonho surreal que tive há alguns meses. O Osvaldo é meu avô, o velho Tirone, falecido em Novembro de 2.000.

18 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Arthur
Vc é muito foda
Que sonho do caramba
Eu imagino a felicidade com que vc acordou no dia seguinte
Belo sonho
Pelo menos o Bruno teve a quem puxar em perder penalidades máximas
Abraços Arthur

24 de abril de 2007 às 08:52  
Anonymous Anônimo disse...

Essa história é mto cachorra.
Onde já se viu tirar lasquinha das vadias????
Tem que ser fiel hauahuauhhuahua

Beeeeijos!!!
Adorei essa!!!!!

24 de abril de 2007 às 13:14  
Anonymous Anônimo disse...

Ótimo....

Nostálgico.....

heheheh

Saudades do véio que me mandava embora todo dia da sua casa..

haahahahhahahaa

Parabéns Cabra

24 de abril de 2007 às 14:36  
Anonymous Anônimo disse...

Artú,
Esse velho tinha mais histórias que o Walt Disney... Um verdadeiro "fanfarrão", ou melhor, "um espeto" como ele mesmo dizia!rsrs
Lembro-me da história que ele contava sobre um jogo entre o "todo poderoso timão" e o São Paulo, no qual ele quebrou uma garrafa de cerveja na cabeça de um "bambi" no exato momento que o "curintia" empatou o jogo... E, para piorar, ainda se gabava que tinha escutado a comemoração do gol da histórica virada de dentro do camburão.

Sds do vô!

24 de abril de 2007 às 15:32  
Anonymous Anônimo disse...

Que lindo Artur !!! Mto lindo esse sonho !
Imaginei mesmo que fosse um sonho, afinal, a única boneca que tem na Barra Funda sou eu ! E vc sabe disso né ?
Hehehehe ...
Beijos bonito !

24 de abril de 2007 às 16:33  
Blogger Fernando disse...

Belo texto, depois dele a Barra Funda jamais será a mesma hehe. Não sabia deste seu dom poético mas me surpreendeu positivamente. Parabéns... Abraço para o Junior, Angelo e pra vc D. Cabra....

24 de abril de 2007 às 16:41  
Anonymous Anônimo disse...

Caralho Kid (desculpe o palavrão)
porra me arrepiou essa historia desse sonho...
iradooo!!

num tenho palavras... to pasmo!!
abrass!!

24 de abril de 2007 às 18:15  
Anonymous Anônimo disse...

puata q pariu que foda juru...
tava meio sem sentido...ai nakelas letrinhas pekenas tdu fikou mais claro ahaha...
seu vô era foda..ahahah mas hjmeu vô ta la cum ele, e eles com ctz taum batendo uma bola! ahahaha

bejoo, irmão!

Obs* QUE GOLAÇO EU FIZ DOMINGO!

25 de abril de 2007 às 02:06  
Anonymous Anônimo disse...

Que delícia!!!

25 de abril de 2007 às 15:29  
Anonymous Anônimo disse...

OUTRA
OUTRA
OUTRA
OUTRA

27 de abril de 2007 às 13:33  
Anonymous Anônimo disse...

belo texto kid ... MAIS um belo texto !!

parabens
abraço

27 de abril de 2007 às 14:09  
Anonymous Anônimo disse...

Mamãe !!! ....li somente agora o texto Cabra. OBRIGADO !!!! O vô merece e tem muitas belas histórias para serem narradas. De onde ele estiver, com certeza estará rindo com isso e com orgulho....afinal foram 18 anos bem vividos com o velho Tirone.
Bjs,

Angelo

30 de abril de 2007 às 09:10  
Anonymous Anônimo disse...

CABRA..
Porque tem um comentário excluído ? hahahahaha...o que alguém postou de tão ruim ?

Seguinte: Vc esqueceu de mencionar o bar "Sempre aberto" ou vcs não foram lá nesse dia ? heheheheh.

Srs, para quem acha que é mentira, não é não existiam 03 bares na BF com esses nomes.

Abs,

Angelo

30 de abril de 2007 às 09:12  
Anonymous Anônimo disse...

Ava: Realmente. Imagine a felicidade que acordei!

Mel: Em 1940 as mulheres costumavam casar virgens. Então já viu, né?

Sherra: Continuarei essa tradição plantada por meu avô e te expulsarei sempre da minha casa.

Adri: Lembro bem dessa história no Pacaembu... Muitas saudades do velho também. Apareça mais por aqui.

Carol: Você é uma boneca, mas em 1940 não tinha pra ninguém. A Trieste foi a mulher mais linda que a Barra Funda já viu.

Feio: Obrigado pelos elogios. Você, um grande amigo meu, ainda será tema por aqui. Nossas histórias serão imortalizadas. Quando estiver em Sampa, ligue-me e vamos beber.

Julio: Nesse dia acordei arrepiado dos pés à cabeça. Esse sonho ficou na minha mente direto por mais de uma semana.

Alemão: Se eles não estiverem jogando bola, estão numa mesa de pif-paf.

Guilherme: Gênio: você, implacável, definiu tudo numa palavra.

Melissa: Tá no forno.

Glauton: Obrigado pela força e pela assiduidade!

Angelo: O comentário foi excluído pela pessoa que postou...
Quando ao Sempre Aberto, eu não esqueci. É que nesse dia não bebemos lá!

30 de abril de 2007 às 10:35  
Anonymous Anônimo disse...

Arthur quando li esse texto pude até pensar na sua ligação tão grande com seu avô (que diga-se de passagem um dos poucos avôs muito bom que eu conheci) que talvez nâo tenha sido um sonho tão surreal assim. O anos vividos pelo seu avô antes do seu nascimento podem ter sido também compartilhados por voce antes dessa sua reencarnação.
Se voce acredita nisso talvez voce tenha feito uma viagem astral para o seu passado.
Espero que tenha sido isso o que fará esse sonho muito mais significante e lindo do que já foi.

beijos

mami

2 de maio de 2007 às 22:05  
Blogger priscila disse...

no 1o parágrafo imaginei que era seu avô. sei lá pq. linda história... daquelas de sorrir com lágrimas nos olhos.
bjks

8 de maio de 2007 às 15:32  
Blogger Szegeri disse...

A sorrir você me apareceu
E as flores que você me deu
Guardei no cofre da recordação

Porém depois você partiu
Pra muito longe me deixou
E a saudade que ficou
Não quis abandonar meu coração...

31 de maio de 2007 às 18:31  
Anonymous Anônimo disse...

Szegeri: Ah, como é bom alguém conhecer, bicho...
Você sabe bem do que estou falando. Sei que você outro dia encontrou seu avô numa esquina da Lapa...

31 de maio de 2007 às 18:37  

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