Gioconda
Mais um natal em Águas de São Pedro, na casa de minha tia Deise e seu marido Paulo. Já conheço bem a cidade; pudera, é o menor município do Brasil. Limita-se a uma rua principal e outras cinco ou seis que a cruzam. Mesmo não fazendo parte do circuito das águas, que engloba as cidades Águas de Lindóia, Amparo, Jaguariúna, Lindóia, Monte Alegre do Sul, Pedreira, Serra Negra e Socorro, a cidade é turística. Velhinhas e velhinhos de vários cantos do Brasil aportam ali pra se esbaldar nas fontes – quiçá – da juventude. Um bando de gringos também marca presença.
Esse negócio das águas começou com a procura por petróleo. Após uma tentativa frustrada do Estado, alguns aventureiros, na década de 30, cavaram enormes profundidades por ali. Não acharam nada além da fétida água que começou a jorrar. Um dia a tal água foi analisada pelo IPT e adquiriu o status de terapêutica e poderosa na cura de moléstias. Daí a fama do lugar. Mais tarde, neguinho começou também a engarrafar as ricas águas e os expoentes dessa empreitada são as famosas Água Tônica e a Soda Limonada.
O turismo dessa água benta acabou misturando tudo que é tipo de gente e o que se vê, ao andar na rua principal, é uma bizarrice. Os milhares de velhinhos que vão beber a cura de seus males acabam topando com um bando de adeptos do reiki e da aromaterapia. Estes armam barracas e tendas para a leitura de oráculos, numerologia e, quem sabe, encontram seres de outro planeta que buscam contato na terra mística banhada pelas águas santas. Em meio a toda essa zorra, jovens se aglomeram dando voltinhas de carro na praça, com o som ligado num axé explosivo. Imaginem a miscelânia. Eu, que não gosto de encarar essas muvucas, fico exilado no sítio enchendo a cara.
Voltando às águas, um problema recorrente é a escolha de qual se vai beber, pois são três fontes (Juventude, Gioconda e Almeida Salles) e existem contra indicações. Cada água, e isso está escrito nas placas acima das torneiras, é destinada a uma causa específica. A fonte Juventude (água sulforosa), por exemplo, é boa para asma. Sabendo disso, minha mãe, após submeter meu irmão Angelo, que sofria terrivelmente deste mal, a milhares de simpatias – e sobre isso conto outra hora – levou-o à fonte. Na ânsia pela cura, mamãe errou a torneira e o moleque tomou, à força, a água Almeida Salles. Teve, graças à pressão sofrida pra beber, a pior crise asmática de sua vida.
A fonte Gioconda é, de longe, a menos encarada. Quase ninguém bebe dela. Fede demais, aquela merda. Enxofre perto da Gioconda é um perfume dos bons! Pois bem. Vi uma vez um tiozinho que tomou um gole da Gioconda e cagou nas calças instantaneamente. Dizem na cidade que um hippie morreu de overdose de Gioconda e vários jovens, após brincadeiras de vira-vira com a fedida numa folia de Carnaval, desmaiaram e tiveram que tomar glicose na veia!
Sabendo da fama da Gioconda, no Natal de 1.998, proibimos meu avô, o Velho Tirone e minha avó Antonia, que foram pela primeira e única vez pra Águas de São Pedro, de bebê-la. Vovó só bebeu, com suas doze cápsulas de remédio diárias, a água da Juventude e após ingerir disse ironicamente, do alto de seus 81, que sentia quarenta anos mais nova, o que causou arroubos de assanhamento no Velho, que recebeu até uma salva de palmas dos curiosos e atônitos presentes por misturar, aos barris, as águas todas das fontes. Foi sua última prova de ser, realmente, um destemido. Macho mesmo. E é pensando nele, com uma saudade doída de beleza, que estou neste Natal que se aproxima. O único homem que disse, lambendo os beiços, após tomar meio litro de Gioconda:
- Que delícia!
Esse negócio das águas começou com a procura por petróleo. Após uma tentativa frustrada do Estado, alguns aventureiros, na década de 30, cavaram enormes profundidades por ali. Não acharam nada além da fétida água que começou a jorrar. Um dia a tal água foi analisada pelo IPT e adquiriu o status de terapêutica e poderosa na cura de moléstias. Daí a fama do lugar. Mais tarde, neguinho começou também a engarrafar as ricas águas e os expoentes dessa empreitada são as famosas Água Tônica e a Soda Limonada.
O turismo dessa água benta acabou misturando tudo que é tipo de gente e o que se vê, ao andar na rua principal, é uma bizarrice. Os milhares de velhinhos que vão beber a cura de seus males acabam topando com um bando de adeptos do reiki e da aromaterapia. Estes armam barracas e tendas para a leitura de oráculos, numerologia e, quem sabe, encontram seres de outro planeta que buscam contato na terra mística banhada pelas águas santas. Em meio a toda essa zorra, jovens se aglomeram dando voltinhas de carro na praça, com o som ligado num axé explosivo. Imaginem a miscelânia. Eu, que não gosto de encarar essas muvucas, fico exilado no sítio enchendo a cara.
Voltando às águas, um problema recorrente é a escolha de qual se vai beber, pois são três fontes (Juventude, Gioconda e Almeida Salles) e existem contra indicações. Cada água, e isso está escrito nas placas acima das torneiras, é destinada a uma causa específica. A fonte Juventude (água sulforosa), por exemplo, é boa para asma. Sabendo disso, minha mãe, após submeter meu irmão Angelo, que sofria terrivelmente deste mal, a milhares de simpatias – e sobre isso conto outra hora – levou-o à fonte. Na ânsia pela cura, mamãe errou a torneira e o moleque tomou, à força, a água Almeida Salles. Teve, graças à pressão sofrida pra beber, a pior crise asmática de sua vida.
A fonte Gioconda é, de longe, a menos encarada. Quase ninguém bebe dela. Fede demais, aquela merda. Enxofre perto da Gioconda é um perfume dos bons! Pois bem. Vi uma vez um tiozinho que tomou um gole da Gioconda e cagou nas calças instantaneamente. Dizem na cidade que um hippie morreu de overdose de Gioconda e vários jovens, após brincadeiras de vira-vira com a fedida numa folia de Carnaval, desmaiaram e tiveram que tomar glicose na veia!
Sabendo da fama da Gioconda, no Natal de 1.998, proibimos meu avô, o Velho Tirone e minha avó Antonia, que foram pela primeira e única vez pra Águas de São Pedro, de bebê-la. Vovó só bebeu, com suas doze cápsulas de remédio diárias, a água da Juventude e após ingerir disse ironicamente, do alto de seus 81, que sentia quarenta anos mais nova, o que causou arroubos de assanhamento no Velho, que recebeu até uma salva de palmas dos curiosos e atônitos presentes por misturar, aos barris, as águas todas das fontes. Foi sua última prova de ser, realmente, um destemido. Macho mesmo. E é pensando nele, com uma saudade doída de beleza, que estou neste Natal que se aproxima. O único homem que disse, lambendo os beiços, após tomar meio litro de Gioconda:
- Que delícia!
3 Comentários:
Porra, Favela. Uma vez eu fui pra lá e fiquei naquele luxuosíssimo hotel (meu pai trabalhava numa revista de arquitetura e a gente conseguiu um fim de semana na faixa). E minha mãe, adepta dessas curas milagrosas, tava assanhadíssima com as águas.
Fomos todos às fontes. A véia adorou aquela porra toda. Já eu tenho boas lembranças do banheiro hahahahahahahahhaha...
Abraços!
Muito bommm Artuuuca !!!!
Dá uma saudade deles né, quando vai chegando essa época !!!!
:(
Tudo bem .......
O texto ficou mto bomm ... Eu ameeeeiiii ...
Feliz Ano Noooooovooo !!!!
Até 2008 ...
Beijooooooosss
Fala, Mestre!!!
Um alegríssimo 2008 para o senhor!!!
Correu tudo bem no final do ano?
Já tá bom de voltar das férias do blog, né?
Beijos
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