1 de fev. de 2008

Cordão Classe A



Em São Paulo são poucos os blocos carnavalescos. Comparando-se ao Rio de Janeiro então, o número é desprezível. Porém a coisa vem, de uns tempos pra cá, tomando corpo graças a uma meia dúzia que segura o rojão e mete as caras pra cima da CET e da prefeitura, grandes merdas que se arvoram em donos do que é do povo, a Rua, e nojentamente fazem de tudo pra tolher o festejo carnavalesco em nome da boa fluência do trânsito e da ordem, mascarando a patente razão; a de coibir qualquer manifestação popular que junte mais de 2.000 pessoas; a de tentar fazer com que um povo desconheça a força que tem e, principalmente, que não lance mão dela em qualquer ocasião que seja. O povo da garoa gosta da Rua, e nos gritos presencio, a cada ano, a resistência.

Vou falar em especial de um bloco do meu bairro, mas não posso deixar de citar aqui - estive lá no Sábado passado - o Bloco do Ó do Borogodó, que pelo quarto ano fez tremer a Vila Madalena, desta vez com cerca de 3.000 foliões embalados pelos excepcionais músicos e pelas marchinhas de todos os tempos. Destaco a coragem do casal Stefânia e Fernando, que enfrentam no peito todo o cenário contrário movidos pelo indelével zelo à herança que nunca haverá de escapar por entre os nossos dedos.

Na Barra Funda, o Carnaval de Rua é representado, há alguns anos, exclusivamente pelo Bloco Classe A, time varzeano criado em 1979 e hoje presidido pelo meu grande camarada Zonga. O Classe A foi o maior responsável pela integração, no futebol, entre a Barra Funda de baixo – pessoal do São Paulo chique – e a Barra Funda de cima – turma do Teatro São Pedro - e tornou-se a maior referência do bairro nos campeonatos pela cidade. Porém, como já estamos sob reinado de Momo, o futebol fica pra outra. Vou me ater ao bloco.

O bloco, que é composto só pela comunidade, sem modistas, sai com 2.000 componentes e o carro do Bafo de Onça, mascote da agremiação, à frente. Como a ligação com a Camisa Verde é estreita, os instrumentos do bloco são os da Escola, assim como os ritmistas, a madrinha de bateria, os compositores... Em contrapartida, o time de futebol que representa a Verde e Branco é o esquadrão do Classe A. No fim das contas, pode-se dizer que os malandros são os mesmos, porém o que diferencia é o espírito do troço. No bloco é apenas a brincadeira que predomina; nada contra a disputa mas, do jeito que anda o carnaval na avenida, sou mais os blocos; o que também não me faz deixar de ser doente pela Verde e Branco.

Não hesito em afirmar que o Classe A representa o Carnaval dantes, os préstitos tradicionais desta São Paulo, a semente que Dionísio Barbosa plantou e que Inocêncio Mulata regou junto com D. Sinhá, Pé Rachado, Carlão do Peruche, Seu Nenê, D. Eunice, Seu Zezinho do Morro e outros eméritos; árvore esta que tombou em 1.968, com o fim dos cordões e a adequação ao Carnaval carioca; concessão às imposições comerciais, televisivas e outras laias. Ali, a partir da sede do Classe A, na Rua Souza Lima, uma vez por ano, as ruas do bairro revivem o Cordão Barra Funda. É lá que os velhos integrantes da gloriosa Camisa Verde e Branco rememoram sua infância e os novos conhecem um pouco do carnaval de seus antepassados, com toda a corte presente, com porta-estandarte e mestre de cerimônias (falta o baliza!). Aquelas ruas são retomadas pela gente pobre e preta que foi expulsa do lugar há muito, pelos netos e bisnetos dos velhos batuqueiros. Ainda que por um dia...

Vida longa ao bloco do Classe A!

6 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Este ano estou triste.
Tenho duas escolas preferidas e nenhuma conseguiu o título.
A Vai-Vai, aquele bando de gente que se achaaaaa, acabou levando a melhor.

Vai Gaviões, Vai Império.

Beijos Artur.

7 de fevereiro de 2008 às 11:01  
Blogger Arthur Tirone disse...

Melissa, seu comentário prova que o carnaval foi destruído há muito tempo. Na minha opinião (e isso posso te explicar pessoalmente um dia), Gaviões e Império da Casa Verde nunca foram Escolas de Samba. E eu frequentei a Império no tempo em que a quadra era lá em cima e ela disputava o Grupo C. Era bem mais bonito...

A Vai-Vai, apesar de ser a maior rival da minha Camisa Verde, é tradição. Prefiro assim.

Um beijo.

7 de fevereiro de 2008 às 11:15  
Anonymous Anônimo disse...

... é bem como diz aquele famoso refrão ...
" Sou verde e branco, até a morte ...
Do verde e branco não me separarei ...
Dentre tantas alegrias, belos carnavais que eu passei, eu passei !!! .......


Beijos Arthuca ...

7 de fevereiro de 2008 às 12:49  
Anonymous Anônimo disse...

Artur

Não posso dizer nada sobre Carnaval, mesmo pq não conheço nada.
Não conheço as histórias de nehuma escola de samba.
Apenas admiro o que vejo hoje, no sambódromo. Para mim, são todas lindas, com sambas lindos.

8 de fevereiro de 2008 às 11:07  
Blogger Craudio disse...

Favela, a Barra Funda está triste. É um sobe e desce das escolas de tradição que não tá brincadeira.

Um dia o povo de SP, na sua maioria, irá entender que com o Carnaval não se brinca. E ele começa uma semana antes, quando o povo já deveria tomar as ruas.

Um salve a todos os blocos que, contrariando lógica, repressão de autoridades, impasses jurídicos e o escambau, saem com toda sua pompa pelo asfalto paulistano.

Um dia... Um dia...

8 de fevereiro de 2008 às 13:09  
Blogger Craudio disse...

Porra, esqueci...

PARABÉNS, MANO VÉIO!

8 de fevereiro de 2008 às 15:12  

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