Cordão Classe A
Em São Paulo são poucos os blocos carnavalescos. Comparando-se ao Rio de Janeiro então, o número é desprezível. Porém a coisa vem, de uns tempos pra cá, tomando corpo graças a uma meia dúzia que segura o rojão e mete as caras pra cima da CET e da prefeitura, grandes merdas que se arvoram em donos do que é do povo, a Rua, e nojentamente fazem de tudo pra tolher o festejo carnavalesco em nome da boa fluência do trânsito e da ordem, mascarando a patente razão; a de coibir qualquer manifestação popular que junte mais de 2.000 pessoas; a de tentar fazer com que um povo desconheça a força que tem e, principalmente, que não lance mão dela em qualquer ocasião que seja. O povo da garoa gosta da Rua, e nos gritos presencio, a cada ano, a resistência.
Vou falar em especial de um bloco do meu bairro, mas não posso deixar de citar aqui - estive lá no Sábado passado - o Bloco do Ó do Borogodó, que pelo quarto ano fez tremer a Vila Madalena, desta vez com cerca de 3.000 foliões embalados pelos excepcionais músicos e pelas marchinhas de todos os tempos. Destaco a coragem do casal Stefânia e Fernando, que enfrentam no peito todo o cenário contrário movidos pelo indelével zelo à herança que nunca haverá de escapar por entre os nossos dedos.
Na Barra Funda, o Carnaval de Rua é representado, há alguns anos, exclusivamente pelo Bloco Classe A, time varzeano criado em 1979 e hoje presidido pelo meu grande camarada Zonga. O Classe A foi o maior responsável pela integração, no futebol, entre a Barra Funda de baixo – pessoal do São Paulo chique – e a Barra Funda de cima – turma do Teatro São Pedro - e tornou-se a maior referência do bairro nos campeonatos pela cidade. Porém, como já estamos sob reinado de Momo, o futebol fica pra outra. Vou me ater ao bloco.
O bloco, que é composto só pela comunidade, sem modistas, sai com 2.000 componentes e o carro do Bafo de Onça, mascote da agremiação, à frente. Como a ligação com a Camisa Verde é estreita, os instrumentos do bloco são os da Escola, assim como os ritmistas, a madrinha de bateria, os compositores... Em contrapartida, o time de futebol que representa a Verde e Branco é o esquadrão do Classe A. No fim das contas, pode-se dizer que os malandros são os mesmos, porém o que diferencia é o espírito do troço. No bloco é apenas a brincadeira que predomina; nada contra a disputa mas, do jeito que anda o carnaval na avenida, sou mais os blocos; o que também não me faz deixar de ser doente pela Verde e Branco.
Não hesito em afirmar que o Classe A representa o Carnaval dantes, os préstitos tradicionais desta São Paulo, a semente que Dionísio Barbosa plantou e que Inocêncio Mulata regou junto com D. Sinhá, Pé Rachado, Carlão do Peruche, Seu Nenê, D. Eunice, Seu Zezinho do Morro e outros eméritos; árvore esta que tombou em 1.968, com o fim dos cordões e a adequação ao Carnaval carioca; concessão às imposições comerciais, televisivas e outras laias. Ali, a partir da sede do Classe A, na Rua Souza Lima, uma vez por ano, as ruas do bairro revivem o Cordão Barra Funda. É lá que os velhos integrantes da gloriosa Camisa Verde e Branco rememoram sua infância e os novos conhecem um pouco do carnaval de seus antepassados, com toda a corte presente, com porta-estandarte e mestre de cerimônias (falta o baliza!). Aquelas ruas são retomadas pela gente pobre e preta que foi expulsa do lugar há muito, pelos netos e bisnetos dos velhos batuqueiros. Ainda que por um dia...
Vida longa ao bloco do Classe A!
6 Comentários:
Este ano estou triste.
Tenho duas escolas preferidas e nenhuma conseguiu o título.
A Vai-Vai, aquele bando de gente que se achaaaaa, acabou levando a melhor.
Vai Gaviões, Vai Império.
Beijos Artur.
Melissa, seu comentário prova que o carnaval foi destruído há muito tempo. Na minha opinião (e isso posso te explicar pessoalmente um dia), Gaviões e Império da Casa Verde nunca foram Escolas de Samba. E eu frequentei a Império no tempo em que a quadra era lá em cima e ela disputava o Grupo C. Era bem mais bonito...
A Vai-Vai, apesar de ser a maior rival da minha Camisa Verde, é tradição. Prefiro assim.
Um beijo.
... é bem como diz aquele famoso refrão ...
" Sou verde e branco, até a morte ...
Do verde e branco não me separarei ...
Dentre tantas alegrias, belos carnavais que eu passei, eu passei !!! .......
Beijos Arthuca ...
Artur
Não posso dizer nada sobre Carnaval, mesmo pq não conheço nada.
Não conheço as histórias de nehuma escola de samba.
Apenas admiro o que vejo hoje, no sambódromo. Para mim, são todas lindas, com sambas lindos.
Favela, a Barra Funda está triste. É um sobe e desce das escolas de tradição que não tá brincadeira.
Um dia o povo de SP, na sua maioria, irá entender que com o Carnaval não se brinca. E ele começa uma semana antes, quando o povo já deveria tomar as ruas.
Um salve a todos os blocos que, contrariando lógica, repressão de autoridades, impasses jurídicos e o escambau, saem com toda sua pompa pelo asfalto paulistano.
Um dia... Um dia...
Porra, esqueci...
PARABÉNS, MANO VÉIO!
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