13 de mar. de 2009

O grande clássico - Parte II

Já no ano de sua fundação, conforme afirmei na primeira parte, o Anhangüera crescia de uma maneira assustadora. A competente, séria e enérgica diretoria arrebanhava, a cada semana, dez, vinte novos associados entre homens e mulheres. Os bailes e matinées semanais ganhavam notoriedade contando com a presença de políticos, donos de fabriquetas, comerciantes, músicos e a gente do bairro; era um ambiente seguro, de respeito, em que as famílias vinham completas, incluindo aí as donzelas mais disputadas da região.

Os membros da diretoria desfrutavam de grande prestígio já que tinham bom relacionamento com os homens da prefeitura, o que poderia angariar benfeitorias para todo o bairro. Mas o futebol é que era o negócio; a época romântica da bola! Os jogadores gozavam de um status de celebridade. As damas que iam aos bailes – acompanhadas das mães, evidentemente – também começaram a freqüentar os jogos da agremiação. Barthô alcançara seu objetivo. Era o center-forward, capitão, melhor jogador e o galã do esquadrão rubro negro, um time que não era apenas um time, como o Carlos Gomes, mas uma sociedade.

Barthô foi o Leônidas da Barra Funda no que se refere à popularidade. Onde o rapaz estava tinha gente ao redor, principalmente meninas. O italianinho, aprovado unanimemente pelas mães das moças, era disputado à tapa. Na torcida, lenços de todos os tipos e gritos histéricos tinham apenas uma direção: Barthô. E o puto resolvia, foi o maior artilheiro da primeira década do clube. Resumia-se ao campo, ao baile e à fama, o Barthô, bem diferente do incansável parceiro Saverio Russo.

Saverio, assim como Barthô, na época da fundação não era diretor, mas se matava pela agremiação – até morrer na década de 70. No baile, enquanto os jogadores Barthô, Lário, Pirica e Sá se esbaldavam na festa, Saverio ajudava na porta, no salão ou no bar. Mas o campo era seu objetivo, queria jogar. Por causa disso, num jogo contra a Portuguesa E.C., pouco menos de um mês antes do histórico clássico contra o Carlos Gomes, causou um fuzuê numa partida em que fora escalado no banco de reservas. E sua briga foi justamente com Barthô; desavença que balançaria a amizade entre os dois.

Havia, nos estatutos da agremiação, uma cláusula que definia que o associado que não estivesse em dia com clube não poderia jogar nem freqüentar a sede social. Pois no jogo contra a Portuguesinha Saverio foi preterido. Em seu lugar jogou Marciano Queiroz, um cara bom de bola, camarada de Barthô, mas que não honrava com os cofres do clube. Saverio, ao ver que esquentaria o banco, deu esporro nos diretores e foi censurado, tendo direito de defesa na próxima reunião de diretoria.

Um breve parêntese: a censura era um aviso; uma chance que a diretoria dava ao associado. Caso o mesmo não se defendesse em reunião, era automaticamente suspenso. A censura era para casos menores, diferentemente da suspensão ou da exclusão do sócio.

Saverio compareceu à reunião e meteu a boca no trombone! Além de ratificar o “descompromisso” de alguns jogadores que não estavam em dia, disse que havia, entre uns e outros atletas, o plano de tornar o Anhangüera um clube profissional, o que causou revolta na diretoria, que se manifestou em nota: “Quanto à sua discussão com o Sr. Barthô, disse ser exata, pois que elle, Saverio, era alvo da direcção esportiva toda a vez que escalavam o 1º quadro. Aliás, não poderá ser admissível menosprezar tão esforçado sócio e fundador para amparar forasteiros que aqui se alojam procurando impor o profissionalismo para a provável decadência de nossa novel e progressiva sociedade”. Saverio foi perdoado. O ataque de nervos que promovera estava justificado.

Após o jogo contra a Portuguesinha e a discussão com Saverio por causa da escalação do time, Barthô decidiu pôr panos quentes e ficou dois domingos sem dar as caras no clube. Foi convidado a disputar um mini torneio por um time de Santos. Mas envergar a camisa de outra agremiação era falta considerada gravíssima pelos estatutos e Barthô foi suspenso de participar de qualquer jogo do clube, reservando-se o direito de freqüentar a sede social, em reunião de diretoria do dia 15 de Outubro; 30 dias de gancho! O craque do Anhangüera não jogaria o glorioso festival contra o Carlos Gomes.

(Continua)

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Muito bom Arthur !!! Estou ansioso pelo desfecho...esse livro que o Pepe nos trouxe renderão muitas histórias.

Parabéns !!!

Angelo

13 de março de 2009 às 20:40  

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