17 de mar. de 2009

O grande clássico - Parte III

A suspensão de Bartholomeo Maggi foi o acontecimento de maior impacto no bairro após a construção dos trilhos da São Paulo Railway e, por isso, merece um capítulo à parte. Foi determinada uma semana antes da visita do Sr. Baddini propondo a partida entre Anhangüera e Carlos Gomes. O presidente Antonio Vignola consultou o diretor de esportes Miguel Clemente; este não deu outra opção se não a suspensão, que acabou sendo aprovada por todos os outros presentes. Clemente argumentou que o réu “não poderia ter uma justificação plausível praticando essa falta, por ser um dos mais antigos sócios, e um dos primeiros fundadores desta Agremiação”. Na mesma noite, enquanto era julgado, Barthô encontrava-se na sede jogando pingue-pongue.

O presidente, que era um homem ponderado, resolveu convocar Barthô, ali ao lado na sala de jogos, a se explicar. Em ata, consta: “Interrogado pelo Sr. Presidente respondeu o Sr. Barthô que, se praticou semelhante acto, o qual não é de seu costume, foi justamente por têr dias antes discutido com o Sr. Saverio Russo, também nosso jogador do 1º quadro de foot-ball, o qual promettera se caso não actuasse no 1º quadro preparar uma decepção no campo, decepção esta que constava de tirar as camisas de foot-ball do corpo de alguns de seus companheiros inadimplentes e mais algumas criancices de um esportista indisciplinado”. E completou, o Barthô: “Se tal falta cometi condenem-me, pois mereço as maiores das penas, mas scientes fiquem os Srs. Directores que se isso não fizesse, a promessa do Sr. Saverio seria cumprida no campo de foot-ball. Salvei-os de uma decepção!”.

Mui delicadamente Barthô se despediu dos diretores e voltou à sala de jogos. Mas suas belas palavras, seu carisma e, mais que tudo, seu futebol, não o salvaram do gancho de 30 dias imposto pela irrevogável diretoria. Ficaria restrito somente ao pingue-pongue e aos bailes neste período. Mas tudo isso não sem antes haver discórdia após sua saída da secretaria. O poderoso Matheus Sabatine, que era o tesoureiro e o mais velho membro da diretoria, ficou ao seu lado. Contra Saverio Russo, queixou-se o velho que o referido rapaz teve a ousadia de exigir os talões de recibo que se encontravam em seu poder para checar os sócios devedores - Saverio fazia de tudo para entrar em campo. Sr. Matheus foi voto vencido: Barthô suspenso!

Na semana do convite para o festival (a reunião foi na segunda-feira, dia 22), uma verdadeira operação de guerra foi formada na Barra Funda. Entre torcedores, sócios e simpatizantes, a meta era que Barthô estivesse em campo. O único assunto da semana foi a volta do craque, e chegaram a escrever seu nome em vários muros. Com ele, teríamos alguma chance de vencer. O time do Carlos Gomes era o melhor da região há anos. Foi convocada outra reunião, extraordinariamente, para a sexta-feira dia 26, esta para definir o time que iria para o importante jogo.

Apesar de serem discutidos temas de menor importância, todos os diretores sabiam para que servia aquela reunião. Lá pelas tantas, foi abordado o tema “Barthô”. Uma carta do réu foi lida em voz alta: “Exmo. Sr. Presidente e demais directores da A.A.Anhangüera: Eu, abaixo assignado, por intermédio do presente, venho respeitosamente pedir à V.V.S.S. o cancellamento da pena que me foi imposta por essa digna Directoria. Se tal pedido arrojo-me a fazel-o é simplesmente ao grande interesse que voto ao Club, e demais ao grande desejo de tomar parte no memorável jogo a realizar-se Domingo próximo, e lembrando a V.V.S.S. que se soffro a pena que me foi imposta, foi unicamente para salval-os de uma decepção emprehendida por um dos nossos consócios.
Esperando ser attendido aos meus rogos por essa digna e respeitável Directoria, subscrevo-me com alta estima e consideração. Bartholomeo Maggi
.”.

A seguir foram lidas, com muita atenção, duas outras cartas entregues por um emissário que bateu à porta. Uma delas assinada pela maioria dos sócios, todos sabendo da necessidade do craque estar em campo e pedindo o perdão a ele. A outra carta era das simpáticas fãs. Mais de cem assinaturas, das moças todas, imploravam a presença do belo. Do lado de fora da sede, a diretoria era pressionada por gritos e paneladas de um monte de gente.

Pelo que tenho em mão, não houve outra reunião, em nenhuma época, mais longa que esta, terminada às 2h00 de Sábado e com a escalação definitiva para o prélio: Laurino; Zezinho e Grecco; Lário, Guimarães e Dedé; Tinho, Brignoli, Pirica; Lobo e Sá. No banco estariam Adelino Silva, Saverio Russo, Adelino Arruda, Alberto Cassari e Felício. Os diretores Luiz Tamburro e o velho Matheus tentaram, mas o convicto diretor esportivo Miguel Clemente convenceu a maioria de que, se voltassem atrás, perderiam o moral. Não obstante, todos eles sabiam que tão adverso quanto perder o moral era perder Barthô para o jogo...

(Continua)

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Cabra, boa noite

Muito bom...mande logo o esperado jogo.

Abs,
AT

19 de março de 2009 às 22:48  

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