Zé Moeda e a maquininha
Nunca ganhei nada em loteria nenhuma. Tentei a sorte umas três ou quatro vezes na Mega-Sena. Eu gosto de jogar no bicho, mas também o que ganhei até hoje deu pra tomar umas cervejas... Nada demais. Bingo não me apetece. Adoro caxeta e pôquer, mas deste último tenho medo. Resumindo, tenho uma certeza: jamais ganharei milhares no jogo. Também não perderei o pouco que tenho.
Mas de uma coisa eu tenho verdadeira ojeriza, repulsa, antipatia, rechaço, asco, repúdio e aversão: as maquininhas. Vou contar-lhes sobre o Zé Moeda, um operário-padrão de uma fabriqueta de roupas na Rua Baronesa, quase esquina com a minha rua, a Cruzeiro. O Zé é um viciado em jogo, mais especificamente em maquininhas, as da máfia. Jogava todos os dias após a labuta na padaria-buteco da Baronesa com a Anhanguera. Mas era coisa de cinco, no máximo dez paus. Nunca apostava mais que isso, visto que ele, sua esposa e seus dois filhos pequenos, levam uma vida de muitas limitações financeiras, com os dois salários mínimos que ele ganha.
O jogo, todos sabem, é traiçoeiro e instigante. É como mulher muito bonita ou um placar de 2 x 0 no futebol. Quando você acha que está por cima, pronto. Toma uma rasteira! Aconteceu com o Zé. Ele saiu do trabalho e como sempre foi tentar a sorte na tracônica máquina. Pra piorar, era sexta feira e dia de pagamento. Os dividendos do mês avolumavam a carteira no bolso da velha e surrada calça jeans. O Zé recebe em dinheiro. Não tem conta em banco. E isso anunciava o perigo iminente.
Conversa vai, conversa vem, cerveja, pastelzinho, torresmo e a maldita maquininha. Ele gostava de jogar sempre na mesma. Separou os dez reais que poderia perder e enfiou a nota. Detalhe: o Zé faz uma espécie de mandinga quando joga. Três chutes leves, de bico, do lado da máquina e um beijo na tela engordurada, cheia de impressões digitais.
A máquina tem figuras de Halloween, com bruxas, abóboras, Frankenstein, diabo, fantasma e outros. Só pra explicar, o prêmio acumulado sai quando aparecem quatro abóboras na tela, o que faz com que o Zé, carinhosamente, repita sem cessar como uma ladainha: “Vem, abobrinha! Vem, abobrinha! Vem, abobrinha!”. Mas a sorte não estava ao lado do infeliz nesse dia, o que fez com que o limite dos dez reais fosse violado, e isso custou caro. Em todos os sentidos.
Trocou uma nota de cinqüenta - um galo - e foi pras cabeças. Perdeu. Botou mais cinqüenta. Perdeu.
Quando metade do salário já estava dentro da vilã, ele começou a ficar desesperado. Amigos, bêbados, conselheiros, intrometidos, palpiteiros, adivinhos, todos dividiam opiniões e o bar inteiro foi acompanhar de perto a aflição do coitado. Uns diziam: “Vai embora antes de perder tudo!”. Outros, a maioria, otimistas: “Agora vai ou racha. Recupere o que perdeu!”. O Zé, tomado pela “corrente pra frente”, decidiu enfrentar, ato que rendeu aplausos das testemunhas de plantão. Um belo gole na maria-mole marcou a intrépida conduta.
A boa sorte teimou em não aparecer e, a partir daí, a cada nota engolida pela caixa, a mandinga tornava-se mais bruta. Os três chutinhos de leve passaram a ser torpedos e pernadas de fazer a máquina balançar, acompanhado de berros dirigidos aos desenhos na tela: “Bruxa rapariga! Devolve meu dinheiro, sua quenga!”... “Ô diabinho Corno!! Chifrudo! Vai-de-reto, Satanáis!”... “Frankistéin féla-da-puta duma figa!”. Em vão. De nada adiantou. O Moeda perdeu o salário inteiro e chorou. Chorou como bebê quando se caga.
Ali, naquele momento, um sentimento de solidariedade tomou conta do bar. Uma “vaquinha” foi feita e metade do salário do Zé foi recuperado em troca de sua promessa de não mais jogar.
Zé Moeda nunca mais jogou, mas sempre que toma umas cervejas a mais neste buteco, desfere golpes e xingamentos contra a insolente máquina que continua, incólume, depenando outros “Zés”.
Mas de uma coisa eu tenho verdadeira ojeriza, repulsa, antipatia, rechaço, asco, repúdio e aversão: as maquininhas. Vou contar-lhes sobre o Zé Moeda, um operário-padrão de uma fabriqueta de roupas na Rua Baronesa, quase esquina com a minha rua, a Cruzeiro. O Zé é um viciado em jogo, mais especificamente em maquininhas, as da máfia. Jogava todos os dias após a labuta na padaria-buteco da Baronesa com a Anhanguera. Mas era coisa de cinco, no máximo dez paus. Nunca apostava mais que isso, visto que ele, sua esposa e seus dois filhos pequenos, levam uma vida de muitas limitações financeiras, com os dois salários mínimos que ele ganha.
O jogo, todos sabem, é traiçoeiro e instigante. É como mulher muito bonita ou um placar de 2 x 0 no futebol. Quando você acha que está por cima, pronto. Toma uma rasteira! Aconteceu com o Zé. Ele saiu do trabalho e como sempre foi tentar a sorte na tracônica máquina. Pra piorar, era sexta feira e dia de pagamento. Os dividendos do mês avolumavam a carteira no bolso da velha e surrada calça jeans. O Zé recebe em dinheiro. Não tem conta em banco. E isso anunciava o perigo iminente.
Conversa vai, conversa vem, cerveja, pastelzinho, torresmo e a maldita maquininha. Ele gostava de jogar sempre na mesma. Separou os dez reais que poderia perder e enfiou a nota. Detalhe: o Zé faz uma espécie de mandinga quando joga. Três chutes leves, de bico, do lado da máquina e um beijo na tela engordurada, cheia de impressões digitais.
A máquina tem figuras de Halloween, com bruxas, abóboras, Frankenstein, diabo, fantasma e outros. Só pra explicar, o prêmio acumulado sai quando aparecem quatro abóboras na tela, o que faz com que o Zé, carinhosamente, repita sem cessar como uma ladainha: “Vem, abobrinha! Vem, abobrinha! Vem, abobrinha!”. Mas a sorte não estava ao lado do infeliz nesse dia, o que fez com que o limite dos dez reais fosse violado, e isso custou caro. Em todos os sentidos.
Trocou uma nota de cinqüenta - um galo - e foi pras cabeças. Perdeu. Botou mais cinqüenta. Perdeu.
Quando metade do salário já estava dentro da vilã, ele começou a ficar desesperado. Amigos, bêbados, conselheiros, intrometidos, palpiteiros, adivinhos, todos dividiam opiniões e o bar inteiro foi acompanhar de perto a aflição do coitado. Uns diziam: “Vai embora antes de perder tudo!”. Outros, a maioria, otimistas: “Agora vai ou racha. Recupere o que perdeu!”. O Zé, tomado pela “corrente pra frente”, decidiu enfrentar, ato que rendeu aplausos das testemunhas de plantão. Um belo gole na maria-mole marcou a intrépida conduta.
A boa sorte teimou em não aparecer e, a partir daí, a cada nota engolida pela caixa, a mandinga tornava-se mais bruta. Os três chutinhos de leve passaram a ser torpedos e pernadas de fazer a máquina balançar, acompanhado de berros dirigidos aos desenhos na tela: “Bruxa rapariga! Devolve meu dinheiro, sua quenga!”... “Ô diabinho Corno!! Chifrudo! Vai-de-reto, Satanáis!”... “Frankistéin féla-da-puta duma figa!”. Em vão. De nada adiantou. O Moeda perdeu o salário inteiro e chorou. Chorou como bebê quando se caga.
Ali, naquele momento, um sentimento de solidariedade tomou conta do bar. Uma “vaquinha” foi feita e metade do salário do Zé foi recuperado em troca de sua promessa de não mais jogar.
Zé Moeda nunca mais jogou, mas sempre que toma umas cervejas a mais neste buteco, desfere golpes e xingamentos contra a insolente máquina que continua, incólume, depenando outros “Zés”.
10 Comentários:
Que triste!!!!
Único jogo que gosto é bingo, mas como não tenho sorte nem jogo mais. A Dona Meliska que é viciada em bingo manow rox!!!
Pode deixar que a minha boca é um túmulo manow. Seu conto guardado a sete chaves djow.huhuHUAhuHUHUAhu
AHUhuHUHUHUHUHUhuHUhuHUhuHUHUhuhuhu
BJOS
LOURDES
Tinha um Zé na minha família. O cara gastava o que ganhava. Saía da sua lojinha de bugigangas com o faturamento do dia, todo em trocados, e largava lá na maquininha...
Mas hoje, diz ele, se recuperou. E já trocou o carro. Do pastor...
Abraço, Favela! E precisamos marcar aquela gelada!
Eu gostava de bingo sim Lud e dai
Vc até foi comigo no Detroit jogar
Ganhamos meeerda nenhuma
auauauhauhauhauhauhauahahauhauhauh
Mas é emocionante vc ficar por um numero só...
O pior é quando morre na tela
ODIOOO MORTAAAALLL
Coitado do Zé!!!!
uhaahuauhahuahuahuahahuahahuauha
Hahahahahahahahahaha!!!!
Ótima!!!
Um narrador mestre, esse Arthur.
Beijos e tô esperando o 3x4...
esses jogos de sorte nao é comigo, nunca viu de acreditar em gastar $ para ganhar $$$ !! acontece sempre o inverso.
ate o dia em q vi nosso querido amigo André colocar um mísero R$1,00 e ganhar R$30,00 nessas mesmas maquinas !!!
bancou nossa noite ... hahahhaha
huahuaahhahauahuhuahauauahhau
boa negão
huahauahuahuahahuahhauahu
mas o andré é pé de nitrogenio liquido
oxeeee huahauhuaauhahuahuahua
huahuaahhahauahuhuahauauahhau
boa negão
huahauahuahuahahuahhauahu
mas o andré é pé de nitrogenio liquido
oxeeee huahauhuaauhahuahuahua
vem abrobrinha ahhahahaa!
ahaha, muito da hora oque os caras do bar fizeram...fiquei emocionado..ahahaha, ÓTIMO TEXTO!
ARTHUUUR DOMINGO TO DE VOLTA!
ahahaha arranquei o geosso...
floowww
Nos Estados Unidos a máquina serve de chamariz para trazer gente para o cassino, que é proibido de lucrar com a máquina, toda a grana apostada será paga em prêmios. Além disso as máquinas são auditadas para verificar que não estão viciadas.
Aqui... as máquinas são viciadas e a toda hora são esvaziadas da grana acumulada. Quem aposta é porque é muito idiota, o Zé moeda não tinha chance alguma.
É, meu velho, o negócio não é mole não. Ganhou tem que parar. Eu também não gosto das maquininhas, são viciantes, traiçoeiras.
Mas ontem com o Edu, não foi a primeira vez que ele tira cem paus em um minuto...
Beijo.
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