Bingo!
As raízes do jogo de bingo, que começou na Itália no século XVI, vêm de uma loteria estadual e logo tomou a Europa. Porém, a marcação dos números era diferente. Foi um tal de Edwin S. Lowe, um americano, que popularizou o bingo do jeito que se joga por aqui nos dias atuais. Ele atentou para este jogo, que se chamava Beano (feijão é bean, em inglês), em que os participantes marcavam nas cartelas os números cantados com um feijãozinho seco. Era só o primeiro completar a linha que vinha o grito: “Beano!”. Dizem que a palavra “Bingo” surgiu com uma velhinha, que ao “fechar” uma linha, gritou o “Bingo” ao invés de “Beano” e acabou ficando assim o nome do jogo.
No Brasil, a partir de 1993, com a legalização do jogo a partir da Lei Zico para ajudar o esporte amador, pipocaram várias casas garbosas, com visor e sorteio eletrônico, garçons exclusivos, mesas de mármore, drinques exóticos e outros melindres característicos dos grandes negócios. A adesão foi instantânea; as casas lotavam e os números movimentados chegavam a estratosféricos milhões de reais. Aí teve máfia internacional bancando a importação e aluguel das perigosíssimas máquinas caça-níquel nos bingos e o troço virou lavagem de dinheiro de narcóticos. Quando, em 2004, o governo investigou daqui e dali e mandou fechar, os bingos voltaram à clandestinidade, só podendo funcionar com liminares.
Conto isso tudo pra chegar onde quero. Foi justamente nessa época, em que todos os bingos estavam lacrados e o pau comia solto na justiça, que ganhou notoriedade – pelo menos nas redondezas - um bingo às escondidas na Barra Funda, nos fundos de um buteco que vou sempre (outro dia eu conto). Ganhou força, também, o bingo que vez em quando era realizado no Anhanguera. É assim, nessas horas, que presentemente eu confirmo extraordinários episódios que elevam o lugar a esta condição admirável que têm os cantos que preservam uma singularidade inquebrantável; na maioria das vezes repugnada pelos soberbos.
Foram muitos os bingos que o Fábio Matarazzo (ele é Matarazzo, mas não daquela turma que era cheia da bufunfa) promoveu no salão social do Anhanguera; sempre para angariar divisas para o clube, que sobrevive sem aporte público, apenas com o suor dos amantes que lutam pra peteca não cair. O último bingo, inclusive, foi para cobrir os custos dos novos fardamentos de futebol.
Como a divulgação deste último bingo foi razoável, a terceira idade da região estava toda lá. Fabião, que é o “cantador oficial”, nesta noite era um completo afônico devido a uma inflamação na garganta, passou o microfone para o Dinho e foi cuidar do bar. Dinho, sujeito sério, não empolgou a velha guarda com seu modo modorrento de cantar o jogo e o molho azedou. Não repetia, não falava as letras correspondentes aos números (a cartela é daquelas que tem, nas verticais acima dos números, para facilitar, as letras B, I, N, G e O) e na maioria das vezes cantava baixo demais para os exigentes ouvidos surdos do ambiente que não ouviam picas. Nem soltou o tradicional “dois patinhos na lagoa” no número 22; nem o óbvio “boa idéia” no 51. Nada. A conseqüência é que o espírito varzeano que nunca adormece dentro do Anhanguera tomou conta do recinto e, como um juiz ladrão, o Dinho foi trocado pelos veteranos jogadores.
No meio da transição do “cantor”, muitas velhinhas, com muito custo, se levantaram para abandonar o barco. Nessa hora, percebendo que se todos fossem embora o prejuízo seria grande, o Agostino pegou o microfone e começou a cantar o jogo. Estava xumbregado feito um gambá e, graças às pérolas que proferiu, foi ganhando a simpatia dos velhotes. A língua enrolada e as pernas sem firmeza completavam o espetáculo cômico do evento que, de sério jogo de bingo, passou a ser um circo.
- Número vinte e quatro! Aí Cláudio, seu viado!! Anota aí!
- Número setenta e cinco. Letra O de Homem! Alguém fez?
Após a primeira rodada, a quantidade de cartelas vendidas triplicou e um monte de gente que estava ali só pra bebericar alguma coisa também entrou no jogo. O ritmo foi este até o final. Muita gente deixou de gritar “Bingo” porque parava de marcar pra rir da performance do cachaça Agostino.
- Número sessenta. Letra G de Jóia! G de Jóia!!!
O bingo, previsto para acabar às 2h00 foi até as 5h00. O herói da noite, ainda chapado, posou ostentando os dividendos que entraram no caixa do clube. Graças a ele os fardamentos foram quitados e ainda sobraram uns caraminguás pra um churrasco no Domingo seguinte, após a pelada.
No Brasil, a partir de 1993, com a legalização do jogo a partir da Lei Zico para ajudar o esporte amador, pipocaram várias casas garbosas, com visor e sorteio eletrônico, garçons exclusivos, mesas de mármore, drinques exóticos e outros melindres característicos dos grandes negócios. A adesão foi instantânea; as casas lotavam e os números movimentados chegavam a estratosféricos milhões de reais. Aí teve máfia internacional bancando a importação e aluguel das perigosíssimas máquinas caça-níquel nos bingos e o troço virou lavagem de dinheiro de narcóticos. Quando, em 2004, o governo investigou daqui e dali e mandou fechar, os bingos voltaram à clandestinidade, só podendo funcionar com liminares.
Conto isso tudo pra chegar onde quero. Foi justamente nessa época, em que todos os bingos estavam lacrados e o pau comia solto na justiça, que ganhou notoriedade – pelo menos nas redondezas - um bingo às escondidas na Barra Funda, nos fundos de um buteco que vou sempre (outro dia eu conto). Ganhou força, também, o bingo que vez em quando era realizado no Anhanguera. É assim, nessas horas, que presentemente eu confirmo extraordinários episódios que elevam o lugar a esta condição admirável que têm os cantos que preservam uma singularidade inquebrantável; na maioria das vezes repugnada pelos soberbos.
Foram muitos os bingos que o Fábio Matarazzo (ele é Matarazzo, mas não daquela turma que era cheia da bufunfa) promoveu no salão social do Anhanguera; sempre para angariar divisas para o clube, que sobrevive sem aporte público, apenas com o suor dos amantes que lutam pra peteca não cair. O último bingo, inclusive, foi para cobrir os custos dos novos fardamentos de futebol.
Como a divulgação deste último bingo foi razoável, a terceira idade da região estava toda lá. Fabião, que é o “cantador oficial”, nesta noite era um completo afônico devido a uma inflamação na garganta, passou o microfone para o Dinho e foi cuidar do bar. Dinho, sujeito sério, não empolgou a velha guarda com seu modo modorrento de cantar o jogo e o molho azedou. Não repetia, não falava as letras correspondentes aos números (a cartela é daquelas que tem, nas verticais acima dos números, para facilitar, as letras B, I, N, G e O) e na maioria das vezes cantava baixo demais para os exigentes ouvidos surdos do ambiente que não ouviam picas. Nem soltou o tradicional “dois patinhos na lagoa” no número 22; nem o óbvio “boa idéia” no 51. Nada. A conseqüência é que o espírito varzeano que nunca adormece dentro do Anhanguera tomou conta do recinto e, como um juiz ladrão, o Dinho foi trocado pelos veteranos jogadores.
No meio da transição do “cantor”, muitas velhinhas, com muito custo, se levantaram para abandonar o barco. Nessa hora, percebendo que se todos fossem embora o prejuízo seria grande, o Agostino pegou o microfone e começou a cantar o jogo. Estava xumbregado feito um gambá e, graças às pérolas que proferiu, foi ganhando a simpatia dos velhotes. A língua enrolada e as pernas sem firmeza completavam o espetáculo cômico do evento que, de sério jogo de bingo, passou a ser um circo.
- Número vinte e quatro! Aí Cláudio, seu viado!! Anota aí!
- Número setenta e cinco. Letra O de Homem! Alguém fez?
Após a primeira rodada, a quantidade de cartelas vendidas triplicou e um monte de gente que estava ali só pra bebericar alguma coisa também entrou no jogo. O ritmo foi este até o final. Muita gente deixou de gritar “Bingo” porque parava de marcar pra rir da performance do cachaça Agostino.
- Número sessenta. Letra G de Jóia! G de Jóia!!!
O bingo, previsto para acabar às 2h00 foi até as 5h00. O herói da noite, ainda chapado, posou ostentando os dividendos que entraram no caixa do clube. Graças a ele os fardamentos foram quitados e ainda sobraram uns caraminguás pra um churrasco no Domingo seguinte, após a pelada.
9 Comentários:
O Mimi pintou o cabelo?!
UAHhuUHAUHuhUHAuhUHUHAuh
UHAuhUHUHauhUHAuhUHUHAuh
Brincadeira....
Bjos
LOURDES
Esse dia foi muito engraçado, o Agostino fez e falou cada uma.
Você esqueceu de falar do momento que ele quebrou o globo de bingo, foi bolinha pra todo lado, a sorte que ja estava no final!!!
na hora que ele falou: Número sessenta. Letra G de Jóia! G de Jóia!!!...quase morri!]
muito bom mano abraço!
Arthur muito bom o texto, nem lembrava mais disso, até eu joguei bingo esse dia, e não ganhei nada como de costume.
Mas muitos dizem que ele (Agostino), fez duas faculdades, só não fez a terceira porque acabou o cimento,rsrs.
Beijos.
Não saiu meu nome no de cima aí.
Bruno Tirone
Arthur essa história é muito boa, pena que nesse dia eu não fui, mas com certeza foi muito deve ter sido muito engraçado.
Essa foto do Agostinho é a melhor
Abraços Arthur
obs:quero te ver lá sabado
Ava
Show de bola Cabra..hahahahha
Eu acho que não fui nesse bingo..eu fui ? Não lembro. Passa um email pra ele informando sobre esse texto.
Abs,
angelo
Artur
Esse dia o Bruno esqueceu de convidar a pessoa de mais sorte no bingo: EU!!!!
Adoro Bingo...Cheguei quase a me viciar nesse jogo...Mas me livrei disso quando vi meu rico dinheirinho ir embora sem retorno. rs
Artur, nos próximos bingos do AAA me convite, me avise...eu irei com certeza.
Aliás, o penúltimo acho, foi divertidíssimo...Eu, André, Ava e Glauton esperando o mesmo número pra fechar a cartela, e uma senhora do lado ganhou...óóódio.
Beijos, adorei!!!
Melissa
Olha a cara do figura na foto!!!!
G de jóia é uma pérola!
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