4 de dez. de 2008

Uma passagem da várzea...

Compartilho um e-mail que recebi do camarada João Augusto Barbosa, irmão mais novo e a fuça do grande Tião Preto. João é varzeano nato, criado nas peladas e nos sambas da cidade. Um leitor que, aliás, eu nem sabia ter. Antes de mais nada, preciso enfatizar que o propósito deste humilde blogue é o de imortalizar algumas histórias das coisas que me vêm no sangue e na alma, como o futebol de várzea, a Barra Funda – e região - e seus personagens históricos, uns causos do samba contados pelos velhos pretos e, às vezes, uma ou outra particularidade.

João escreveu-me uma famosa passagem, da qual já ouvi muito falar. Ali está um pouco de tudo o que venho registrando aqui há quase dois anos. Este "causo", sucinto, arrebanha a relação umbilical futebol-samba, a especulação que vem acabando com os campos há tempos, a homenagem aos times grandes (com a infinidade de “inhos” na várzea), os festivais e a “pegada” do Cruz da Esperança, um time da pesada.

É a primeira vez que publico uma história que alguém me escreve por livre e espontânea vontade. Assim fica fácil; a gente agradece. Diz aí, João:


Favela, meu cumpadi.

O CORINTHIANS DE SÃO FRANCISCO F.C., salve, salve, foi fundado por um pessoal da antiga da Vila Yara, em 07-09-1949, quando Osasco ainda pertencia a São Paulo. A emancipação foi em 1962. O Campo era onde hoje se situa o Shopping Continental, mas a especulação imobiliária fez sua parte, já naquela época, e acabou com o campo. O pessoal do Corinthinha, capitaneado pelo Bijão, seu presidente, foi ter com, nada menos, a Condessa Matarazzo, que era dona de quase tudo aqui. E a Condessa doou o terreno pro Corinthinha fazer um campo, onde está até hoje, com a graça de Deus.


Pois bem. O Corinthinha sempre foi famoso em Osasco, São Paulo e na região pela qualidade do seu time, pelo samba de primeira e por ser um time briguento. Aqui se ganhava na bola e no pau. E muitas vezes isso revoltava e envergonhava alguns de nós, mas era uma coisa mais ou menos "perdoada". Num sábado de sol, dia de festival, o barzinho do barranco, onde também ficavam os vestiários de madeira, cobertos por Eternit, estava lotado. Lotado. E o samba comandado pelos irmãos Bijão e Sabino comia solto. Na Roda Tião Preto, Tamba no surdo, Macalé na caixa, Urubu na outra caixa, Nei no reco-reco, Bijão no pandeiro, Sabino no agogô, Horácio no tamborim. Coisa linda.

No campo, o Corinthinha honrando sua tradição contra o Cruz da Esperança, comandado pelo irmão do Basílio e que além do Basílio, da Portuguesa, tinha um tal de Esquerdinha. Nosso time tava bem, mas o adversário era bom; e um juiz “da casa", famoso por ajeitar uns pênaltis e resultados, além de arrumar muita confusão, deu um pênalti. Os meninos do adversário chiaram e o juiz deu uma porrada no capitão do CRUZ, um negro bacana, espigado, que tinha ficado no samba o tempo todo.

Possivelmente, avisados da fama do Corinthinha, o Cruz veio preparado com um monte de carros e dois monoblocos. Menino, o pau quebrou e o prejuízo foi todo do Corinthinha. Muitos dos valentões de sempre correram. Eu, moleque, tinha jogado no dente-de-leite. Por via das dúvidas, joguei minha chuteira atrás do muro de um vizinho do campo e só fiquei de testemunha. Teve nego que saiu pelo telhado do vestiário. O juiz provocador tomou um sapeca que quase morre. Até hoje se fala nessa coça...

3 Comentários:

Blogger Unknown disse...

Kid!!

Parabens por ter "liberado" um leitor para mandar um texto...

Parabens ao João Também poruqe o texto está sensacional!!!

abraços!!

4 de dezembro de 2008 às 22:03  
Blogger Craudio disse...

Eu já não gostava muito do Shopping Continental - aliás, não gosto de shopping em geral. Depois dessa, vou odiar essa bosta até a eternidade...

Belíssima história!

5 de dezembro de 2008 às 10:22  
Anonymous Anônimo disse...

parabens pelo comentario sobre o campeonato de Master.Atualmente eu residona cidade tiradentes,ja joguei com todas essas rapaziadasque estiveram nesse campeonato.mando um abraçopara,moises,pelezinho,zelao,nariz emuitos outros se eu for citar uma pagina nao daria.Vadao

7 de janeiro de 2009 às 20:45  

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