Uma passagem da várzea...
Compartilho um e-mail que recebi do camarada João Augusto Barbosa, irmão mais novo e a fuça do grande Tião Preto. João é varzeano nato, criado nas peladas e nos sambas da cidade. Um leitor que, aliás, eu nem sabia ter. Antes de mais nada, preciso enfatizar que o propósito deste humilde blogue é o de imortalizar algumas histórias das coisas que me vêm no sangue e na alma, como o futebol de várzea, a Barra Funda – e região - e seus personagens históricos, uns causos do samba contados pelos velhos pretos e, às vezes, uma ou outra particularidade.
João escreveu-me uma famosa passagem, da qual já ouvi muito falar. Ali está um pouco de tudo o que venho registrando aqui há quase dois anos. Este "causo", sucinto, arrebanha a relação umbilical futebol-samba, a especulação que vem acabando com os campos há tempos, a homenagem aos times grandes (com a infinidade de “inhos” na várzea), os festivais e a “pegada” do Cruz da Esperança, um time da pesada.
É a primeira vez que publico uma história que alguém me escreve por livre e espontânea vontade. Assim fica fácil; a gente agradece. Diz aí, João:
Favela, meu cumpadi.
O CORINTHIANS DE SÃO FRANCISCO F.C., salve, salve, foi fundado por um pessoal da antiga da Vila Yara, em 07-09-1949, quando Osasco ainda pertencia a São Paulo. A emancipação foi em 1962. O Campo era onde hoje se situa o Shopping Continental, mas a especulação imobiliária fez sua parte, já naquela época, e acabou com o campo. O pessoal do Corinthinha, capitaneado pelo Bijão, seu presidente, foi ter com, nada menos, a Condessa Matarazzo, que era dona de quase tudo aqui. E a Condessa doou o terreno pro Corinthinha fazer um campo, onde está até hoje, com a graça de Deus.
Pois bem. O Corinthinha sempre foi famoso em Osasco, São Paulo e na região pela qualidade do seu time, pelo samba de primeira e por ser um time briguento. Aqui se ganhava na bola e no pau. E muitas vezes isso revoltava e envergonhava alguns de nós, mas era uma coisa mais ou menos "perdoada". Num sábado de sol, dia de festival, o barzinho do barranco, onde também ficavam os vestiários de madeira, cobertos por Eternit, estava lotado. Lotado. E o samba comandado pelos irmãos Bijão e Sabino comia solto. Na Roda Tião Preto, Tamba no surdo, Macalé na caixa, Urubu na outra caixa, Nei no reco-reco, Bijão no pandeiro, Sabino no agogô, Horácio no tamborim. Coisa linda.
No campo, o Corinthinha honrando sua tradição contra o Cruz da Esperança, comandado pelo irmão do Basílio e que além do Basílio, da Portuguesa, tinha um tal de Esquerdinha. Nosso time tava bem, mas o adversário era bom; e um juiz “da casa", famoso por ajeitar uns pênaltis e resultados, além de arrumar muita confusão, deu um pênalti. Os meninos do adversário chiaram e o juiz deu uma porrada no capitão do CRUZ, um negro bacana, espigado, que tinha ficado no samba o tempo todo.
Possivelmente, avisados da fama do Corinthinha, o Cruz veio preparado com um monte de carros e dois monoblocos. Menino, o pau quebrou e o prejuízo foi todo do Corinthinha. Muitos dos valentões de sempre correram. Eu, moleque, tinha jogado no dente-de-leite. Por via das dúvidas, joguei minha chuteira atrás do muro de um vizinho do campo e só fiquei de testemunha. Teve nego que saiu pelo telhado do vestiário. O juiz provocador tomou um sapeca que quase morre. Até hoje se fala nessa coça...
João escreveu-me uma famosa passagem, da qual já ouvi muito falar. Ali está um pouco de tudo o que venho registrando aqui há quase dois anos. Este "causo", sucinto, arrebanha a relação umbilical futebol-samba, a especulação que vem acabando com os campos há tempos, a homenagem aos times grandes (com a infinidade de “inhos” na várzea), os festivais e a “pegada” do Cruz da Esperança, um time da pesada.
É a primeira vez que publico uma história que alguém me escreve por livre e espontânea vontade. Assim fica fácil; a gente agradece. Diz aí, João:
Favela, meu cumpadi.
O CORINTHIANS DE SÃO FRANCISCO F.C., salve, salve, foi fundado por um pessoal da antiga da Vila Yara, em 07-09-1949, quando Osasco ainda pertencia a São Paulo. A emancipação foi em 1962. O Campo era onde hoje se situa o Shopping Continental, mas a especulação imobiliária fez sua parte, já naquela época, e acabou com o campo. O pessoal do Corinthinha, capitaneado pelo Bijão, seu presidente, foi ter com, nada menos, a Condessa Matarazzo, que era dona de quase tudo aqui. E a Condessa doou o terreno pro Corinthinha fazer um campo, onde está até hoje, com a graça de Deus.
Pois bem. O Corinthinha sempre foi famoso em Osasco, São Paulo e na região pela qualidade do seu time, pelo samba de primeira e por ser um time briguento. Aqui se ganhava na bola e no pau. E muitas vezes isso revoltava e envergonhava alguns de nós, mas era uma coisa mais ou menos "perdoada". Num sábado de sol, dia de festival, o barzinho do barranco, onde também ficavam os vestiários de madeira, cobertos por Eternit, estava lotado. Lotado. E o samba comandado pelos irmãos Bijão e Sabino comia solto. Na Roda Tião Preto, Tamba no surdo, Macalé na caixa, Urubu na outra caixa, Nei no reco-reco, Bijão no pandeiro, Sabino no agogô, Horácio no tamborim. Coisa linda.
No campo, o Corinthinha honrando sua tradição contra o Cruz da Esperança, comandado pelo irmão do Basílio e que além do Basílio, da Portuguesa, tinha um tal de Esquerdinha. Nosso time tava bem, mas o adversário era bom; e um juiz “da casa", famoso por ajeitar uns pênaltis e resultados, além de arrumar muita confusão, deu um pênalti. Os meninos do adversário chiaram e o juiz deu uma porrada no capitão do CRUZ, um negro bacana, espigado, que tinha ficado no samba o tempo todo.
Possivelmente, avisados da fama do Corinthinha, o Cruz veio preparado com um monte de carros e dois monoblocos. Menino, o pau quebrou e o prejuízo foi todo do Corinthinha. Muitos dos valentões de sempre correram. Eu, moleque, tinha jogado no dente-de-leite. Por via das dúvidas, joguei minha chuteira atrás do muro de um vizinho do campo e só fiquei de testemunha. Teve nego que saiu pelo telhado do vestiário. O juiz provocador tomou um sapeca que quase morre. Até hoje se fala nessa coça...
3 Comentários:
Kid!!
Parabens por ter "liberado" um leitor para mandar um texto...
Parabens ao João Também poruqe o texto está sensacional!!!
abraços!!
Eu já não gostava muito do Shopping Continental - aliás, não gosto de shopping em geral. Depois dessa, vou odiar essa bosta até a eternidade...
Belíssima história!
parabens pelo comentario sobre o campeonato de Master.Atualmente eu residona cidade tiradentes,ja joguei com todas essas rapaziadasque estiveram nesse campeonato.mando um abraçopara,moises,pelezinho,zelao,nariz emuitos outros se eu for citar uma pagina nao daria.Vadao
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial