Anhangüera dá Samba XXXIII
À noitinha fui buscar o homem no hotel para jantarmos. Em minha companhia, Paulinho Timor e Fernando Szegeri. Levamos Monarco ao Sujinho, na Consolação, e um pouco depois chegou a Railídia pra completar a mesa. Lá começou, pra mim, a noite: Monarco contando histórias, falando do tempo em que era camelô, de quando teve - por pouquíssimo tempo - uma barraca de feira, falou dos velhos malandros de Osvaldo Cruz e contou-nos muita coisa sobre Zinco, valiosíssimo compositor que teve um final trágico por causa da bebida - e o mestre lembrou, então, que havia parado de beber há exatos 40 anos.
Os três seguiram para o Anhangüera pra passar o som e começar os trabalhos; eu fiquei fazendo hora com o mestre, batendo um papo. Quando chegamos ao terreiro, mais ou menos meia noite e meia, vi que o negócio era mais sério: uma fila quilométrica pra entrar.
Descemos do carro e entramos. O destino era a roda de samba. Bira, chefe da equipe de seguranças, amigo meu das antigas e de vários pagodes, abriu caminho. Toda a gente batia palmas e continência. Houve um frenesi com direito a ataque histérico de uma senhora e salva de palmas de quatro minutos assim que o homem apontou na roda de samba.
O que se viu, daí em diante, é inenarrável. Monarco, essa lenda viva, essa entidade do samba, cantou por exatos 85 minutos, fazendo a massa toda - de longe o maior público nestes três anos - entoar um coro de arrepiar. Ficam meus agradecimentos à Dona Olinda, à Railídia (graças a elas contamos com o Monarco), ao Tuco e Noeli pela atenção e pela ajuda, ao Bira (que segurou a barra na porta) e, principalmente, aos meus pais e meus irmãos, que sem a colaboração deles não teríamos Anhangüera dá Samba.
Monarco e Railídia
Hoje é a última sexta do mês e, como sempre -, tem Anhangüera dá Samba. Dessa vez os Inimigos do Batente convidam o carioca Bira da Vila, grande cantor e compositor. Bira mostrará suas músicas - a maioria em parceria com Serginho Meriti e algumas com Luiz Carlos da Vila - e apresentará seu disco Canto da Baixada, no qual interpreta músicas de compositores da Baixada Fluminense. Belíssima oportunidade pra quem não conhece este malandro de fina estirpe.
Até mais tarde!
PS: Fecho com Monarco cantando no Anhangüera. É pesado: