Saúde pra cachorro
Eu já lhes contei sobre o Cirilo. Mais precisamente sobre o Jonnhy, seu “eu bêbado”, em Março, num dos primeiros textos que me aventurei por aqui. E eu havia prometido falar do Cirilo e, como sempre cumpro com minha palavra, vou fazê-lo.
Vou me ater especialmente a uma passagem que, não tivesse sido presenciada e contada pelo Chico, seu companheiro de trabalho e de noitadas, nós jamais saberíamos (o Cirilo não é de contar vantagens) do ocorrido ou ainda que ele mesmo tivesse nos relatado, seria difícil de acreditar. Este é daqueles fatos que não pode prescindir de uma testemunha confiável.
Cirilo e Chico trabalham há muitos anos vendendo plano de saúde para empresas e também para pessoas físicas. Claro que a maior parte de seus rendimentos é proveniente dos contratos com empresas, mas eles nunca dispensam um atendimento a uma pessoa que queira adquirir o tal plano, pois, como eles dizem, os PF (pessoa física) “pagam a cachaçinha nossa de cada dia”. O campo de atuação deles compreende desde a região de Campinas até Ribeirão Preto, onde, todas as sextas após as seis da tarde, um chopinho no Pingüim é religioso. E é justamente nessa cidade que se deu o inusitado fato, a prova peremptória e irrefutável de que o Cirilo é um grande vendedor.
Há uns cinco ou seis anos as vendas neste segmento passaram por um péssimo período, caindo ladeira abaixo, a ponto de Cirilo estar desesperado... E olha que o homem sempre foi o melhor vendedor da sua região. Arrebentava de vender, o Cirilo. Era uma sexta feira e, ao meio dia, como não tinha mais nada para fazer, se encontrou no Pingüim com o Chico, que já bebia. Depois de lamentarem a má fase que estavam atravessando e de tentarem, em vão, pensar em soluções para o problema, almoçaram e tomaram umas cervejas até as três da tarde. O Cirilo não virou Jonnhy. E como não saiu de si, sua cabeça ainda funcionava, apesar de já estar consideravelmente deteriorada. E isto lhe deu uma idéia esquipática, causada pela falta total de tostão.
Cirilo avistou uma bela casa antiga de esquina com uma senhora (uma sexagenária) debruçada na janela admirando o movimento. Ela acariciava um cachorro, de certo de pé ao lado dela, pois também estava debruçado na janela e com a outra mão agradava um macaquinho, um sagüi que ficava pulando de ombro para outro. Nesse instante, Cirilo, mais duro que pau de tarado, dá um salto: “Chicão, vem comigo! Essa mulher adora os bichos dela!”. Após indagar e não obter a resposta do que faria o homem, Chico calou e apenas acompanhou nosso grande vendedor. Pararam debaixo da janela:
- Boa tarde, senhora.
- Pois não?
- Eu gostaria de apresentar à senhora um plano de saúde!
- Já tenho.
- Não, não. É um plano de saúde novo. É para animais! – Era tudo mentira do Cirilo.
- Para animais? Nossa! Quero saber como funciona!!
Depois de algumas xícaras de café e biscoitinhos, a viúva – a essa altura Cirilo já estava quase íntimo dela, viúva de um famoso coronel da cidade – já convencida de que compraria o plano de saúde para seu cachorrão, recuou:
- Olha Seu Cirilo, está certo que o Moacyr Franco – o cachorro – vai ter acompanhamento semanal de um veterinário, fará testes cardiológicos nos melhores hospitais, tratamento odontológico de primeira e ainda vai ganhar de brinde roupinhas e docinhos de cachorro... Eu estou disposta a pagar esses duzentos reais...
- Então, Dona Cremilda. Pode assinar aqui e pagar em dinheiro. O Moacyr terá um tratamento de rei!
- É que eu amo meus bichinhos. Não posso fazer pra um e não pro outro. E o Beto? – o macaco – Como fica o Beto? Mais que duzentos eu não pago!
- Pode ficar tranqüila, Dona Cremilda. É por isso que nosso plano é o melhor do mercado.
- Como assim?
- O Beto entrará no plano como dependente do Moacyr!
Naquela noite Jonnhy e Chico gastaram duzentas pratas nas bocadas de Ribeirão Preto...
Vou me ater especialmente a uma passagem que, não tivesse sido presenciada e contada pelo Chico, seu companheiro de trabalho e de noitadas, nós jamais saberíamos (o Cirilo não é de contar vantagens) do ocorrido ou ainda que ele mesmo tivesse nos relatado, seria difícil de acreditar. Este é daqueles fatos que não pode prescindir de uma testemunha confiável.
Cirilo e Chico trabalham há muitos anos vendendo plano de saúde para empresas e também para pessoas físicas. Claro que a maior parte de seus rendimentos é proveniente dos contratos com empresas, mas eles nunca dispensam um atendimento a uma pessoa que queira adquirir o tal plano, pois, como eles dizem, os PF (pessoa física) “pagam a cachaçinha nossa de cada dia”. O campo de atuação deles compreende desde a região de Campinas até Ribeirão Preto, onde, todas as sextas após as seis da tarde, um chopinho no Pingüim é religioso. E é justamente nessa cidade que se deu o inusitado fato, a prova peremptória e irrefutável de que o Cirilo é um grande vendedor.
Há uns cinco ou seis anos as vendas neste segmento passaram por um péssimo período, caindo ladeira abaixo, a ponto de Cirilo estar desesperado... E olha que o homem sempre foi o melhor vendedor da sua região. Arrebentava de vender, o Cirilo. Era uma sexta feira e, ao meio dia, como não tinha mais nada para fazer, se encontrou no Pingüim com o Chico, que já bebia. Depois de lamentarem a má fase que estavam atravessando e de tentarem, em vão, pensar em soluções para o problema, almoçaram e tomaram umas cervejas até as três da tarde. O Cirilo não virou Jonnhy. E como não saiu de si, sua cabeça ainda funcionava, apesar de já estar consideravelmente deteriorada. E isto lhe deu uma idéia esquipática, causada pela falta total de tostão.
Cirilo avistou uma bela casa antiga de esquina com uma senhora (uma sexagenária) debruçada na janela admirando o movimento. Ela acariciava um cachorro, de certo de pé ao lado dela, pois também estava debruçado na janela e com a outra mão agradava um macaquinho, um sagüi que ficava pulando de ombro para outro. Nesse instante, Cirilo, mais duro que pau de tarado, dá um salto: “Chicão, vem comigo! Essa mulher adora os bichos dela!”. Após indagar e não obter a resposta do que faria o homem, Chico calou e apenas acompanhou nosso grande vendedor. Pararam debaixo da janela:
- Boa tarde, senhora.
- Pois não?
- Eu gostaria de apresentar à senhora um plano de saúde!
- Já tenho.
- Não, não. É um plano de saúde novo. É para animais! – Era tudo mentira do Cirilo.
- Para animais? Nossa! Quero saber como funciona!!
Depois de algumas xícaras de café e biscoitinhos, a viúva – a essa altura Cirilo já estava quase íntimo dela, viúva de um famoso coronel da cidade – já convencida de que compraria o plano de saúde para seu cachorrão, recuou:
- Olha Seu Cirilo, está certo que o Moacyr Franco – o cachorro – vai ter acompanhamento semanal de um veterinário, fará testes cardiológicos nos melhores hospitais, tratamento odontológico de primeira e ainda vai ganhar de brinde roupinhas e docinhos de cachorro... Eu estou disposta a pagar esses duzentos reais...
- Então, Dona Cremilda. Pode assinar aqui e pagar em dinheiro. O Moacyr terá um tratamento de rei!
- É que eu amo meus bichinhos. Não posso fazer pra um e não pro outro. E o Beto? – o macaco – Como fica o Beto? Mais que duzentos eu não pago!
- Pode ficar tranqüila, Dona Cremilda. É por isso que nosso plano é o melhor do mercado.
- Como assim?
- O Beto entrará no plano como dependente do Moacyr!
Naquela noite Jonnhy e Chico gastaram duzentas pratas nas bocadas de Ribeirão Preto...