Glamour por água abaixo
A palavra “glamour”, por si só, é afrescalhada. No século XX, ainda ganhou uma conotação nojenta e deturpada, tornando-a mais arrogante ainda. Esta palavra vem do escocês (embora muita gente pense que é francesa) e sua origem vem de “grammar”, gramática, que nos tempos medievais era acessível a pouquíssimos clérigos. Os outros, que não sabiam escrever e ler, a associavam a práticas mágicas, ocultas. À época, “grammar” em inglês significava “feitiço” e na língua escocesa era escrita com L, “glammar”, virando depois “glamour”, que no sentido atual é uma qualidade extraordinária que torna coisas e pessoas charmosas, atraentes e na moda, graças ao cinema americano.
Ontem à noite, assistindo televisão enquanto dava uns tragos na cozinha, passei pela Gazeta e parei. No letreiro, na parte de baixo da tela, a frase estampada: “Assunto de hoje: Glamour”. Como o apresentador é o metrossexual, ex-roqueiro e jovem guarda Ronnie Von, decidi checar e comprovar a boiolice do tema e do apresentador. Um cozinheiro preparando doces chiques com chantilly dava ares mais maricas ao ambiente (ah, se eles comessem a goiabada da tia Maria do Carmo).
Os convidados eram o casal Paulo Goulart e Nicete Bruno. Particularmente, os vejo como bonachões desprovidos de status e pose, do jeito que eu gosto. Era apenas uma impressão que eu tinha que, ao longo do programa, foi se confirmando. Paulo Goulart parece um dirigente de clube de várzea, no melhor estilo Carlitos do Nacional e a Nicete Bruno tem todas as características de uma tia da minha mãe, a Maria do Rosário, uma senhora que gosta, como ela mesma diz, das “coisas mal-feitas”, entre elas peidorrear sem se preocupar com o volume e falar coisas pornográficas. Terrível, a tia Rosária.
O programa ia se desenrolando por tópicos, todos à volta do tema principal, o glamour. Bebidas, cigarro, música, lugares, filmes, situações, restaurantes, entre outras coisas. O que me enoja é que tudo o que o Ronnie citava como glamouroso, é tudo o que pouquíssimos têm acesso.
No tópico “bebidas”, Ronnie ficava dizendo que é sommelier, que conhece muito de vinho e tal. Neste momento, Paulo Goulart deu uma talagada que matou a taça de vinho e um sorriso amarelo caguetava sua tremenda vontade de tomar uma Brahma gelada ou ainda aquela cachacinha de alambique. Já a Nicete, tenho certeza, preferia uma boa batida de maracujá, doce e forte. A pior parte veio quando, extasiado, Ronnie falou da bebida espumante, sem perder a pose e a classe de um experiente sommelier: “Champéin! Só o nome já é chique! Tem muito glamour, não?”. A resposta do casal foi um “é...” mais sem graça que o Dedé Santana, o que causou um mal estar, já de cara.
Von, com sua pose, lá do alto disse, em tom marrento: “Falemos de música! Quer algo com mais glamour que um belo tango?”, ao que vem o bronco Goulart: “Eu gosto é de um samba!”. Nicete ria e o Von, engasgando, mantendo a classe: “Claaaaaro, existem sambas lindos. E bem dançado, é de um glamour espetacular!”. O casal: “É...”. Percebendo que seus convidados não eram tão glamourosos, decidiu falar de cigarro e citou as dificuldades de Paulo Autran, decorrentes do tabaco, em tom piedoso: “Ah, eu falei tantas vezes pra ele parar!”. Tomou mais uma bordoada, dessa vez da tia Nicete: “Temos que respeitar a individualidade!”.
Daí pra frente, o Paulo Goulart sempre dava um jeito de responder alguma coisa que fingia ser engraçada, pra, junto da tia Nicete, cair na gargalhada, sendo observados pelo deslocado apresentador. Com certeza estavam rindo das viadagens do Von, que foi apanhando e, para não deixar o glamour afundar, começou a falar sozinho, até tomar uma bronca da diretora e dar a palavra novamente aos convidados, que são o anti-glamour. Que beleza! Eu, mais um “barqueiro” nascido e criado na Barra Funda, convivendo com Quitos e Bonitões, agradeço. Muito obrigado, tia Nicete e tio Paulo!
Ontem à noite, assistindo televisão enquanto dava uns tragos na cozinha, passei pela Gazeta e parei. No letreiro, na parte de baixo da tela, a frase estampada: “Assunto de hoje: Glamour”. Como o apresentador é o metrossexual, ex-roqueiro e jovem guarda Ronnie Von, decidi checar e comprovar a boiolice do tema e do apresentador. Um cozinheiro preparando doces chiques com chantilly dava ares mais maricas ao ambiente (ah, se eles comessem a goiabada da tia Maria do Carmo).
Os convidados eram o casal Paulo Goulart e Nicete Bruno. Particularmente, os vejo como bonachões desprovidos de status e pose, do jeito que eu gosto. Era apenas uma impressão que eu tinha que, ao longo do programa, foi se confirmando. Paulo Goulart parece um dirigente de clube de várzea, no melhor estilo Carlitos do Nacional e a Nicete Bruno tem todas as características de uma tia da minha mãe, a Maria do Rosário, uma senhora que gosta, como ela mesma diz, das “coisas mal-feitas”, entre elas peidorrear sem se preocupar com o volume e falar coisas pornográficas. Terrível, a tia Rosária.
O programa ia se desenrolando por tópicos, todos à volta do tema principal, o glamour. Bebidas, cigarro, música, lugares, filmes, situações, restaurantes, entre outras coisas. O que me enoja é que tudo o que o Ronnie citava como glamouroso, é tudo o que pouquíssimos têm acesso.
No tópico “bebidas”, Ronnie ficava dizendo que é sommelier, que conhece muito de vinho e tal. Neste momento, Paulo Goulart deu uma talagada que matou a taça de vinho e um sorriso amarelo caguetava sua tremenda vontade de tomar uma Brahma gelada ou ainda aquela cachacinha de alambique. Já a Nicete, tenho certeza, preferia uma boa batida de maracujá, doce e forte. A pior parte veio quando, extasiado, Ronnie falou da bebida espumante, sem perder a pose e a classe de um experiente sommelier: “Champéin! Só o nome já é chique! Tem muito glamour, não?”. A resposta do casal foi um “é...” mais sem graça que o Dedé Santana, o que causou um mal estar, já de cara.
Von, com sua pose, lá do alto disse, em tom marrento: “Falemos de música! Quer algo com mais glamour que um belo tango?”, ao que vem o bronco Goulart: “Eu gosto é de um samba!”. Nicete ria e o Von, engasgando, mantendo a classe: “Claaaaaro, existem sambas lindos. E bem dançado, é de um glamour espetacular!”. O casal: “É...”. Percebendo que seus convidados não eram tão glamourosos, decidiu falar de cigarro e citou as dificuldades de Paulo Autran, decorrentes do tabaco, em tom piedoso: “Ah, eu falei tantas vezes pra ele parar!”. Tomou mais uma bordoada, dessa vez da tia Nicete: “Temos que respeitar a individualidade!”.
Daí pra frente, o Paulo Goulart sempre dava um jeito de responder alguma coisa que fingia ser engraçada, pra, junto da tia Nicete, cair na gargalhada, sendo observados pelo deslocado apresentador. Com certeza estavam rindo das viadagens do Von, que foi apanhando e, para não deixar o glamour afundar, começou a falar sozinho, até tomar uma bronca da diretora e dar a palavra novamente aos convidados, que são o anti-glamour. Que beleza! Eu, mais um “barqueiro” nascido e criado na Barra Funda, convivendo com Quitos e Bonitões, agradeço. Muito obrigado, tia Nicete e tio Paulo!