29 de out. de 2010

Anhangüera dá Samba XXXVIII

Em cima da hora, antes tarde do que nunca, deixo aqui um pequeno registro da última roda no Anhangüera, em que convidamos Luiz Grande, um compositor maiúsculo do samba brasileiro. Quero deixar registrado aqui meu agradecimento público a esta grande figura, humilde como poucos, gentil, atencioso até com os inconvenientes de plantão - ainda bem que só foram dois, entre tantas pessoas que foram a seu encontro pra bater um papo, tirar uma foto, beber uma cerveja...


Luiz Grande tem tanta música boa que abriu mão de cantar vários sucessos. Deixou de cantar, também, vários pedidos que lhe fizeram, e disse assustado "porra, nem eu lembro disso aí!". Suburbano da melhor qualidade, o Luiz. E aquela noite - graças a ele - foi daquelas pra gente lembrar pra sempre. Assistam um trecho:



Pra essa edição - a de hoje! - receberemos um dos grandes compositores do Brasil. E será, pelo visto, uma noite daquelas. Acho que pela primeira faz um dia de sol como este no dia do Anhangüera dá Samba! Palavras de Fernando Szegeri:

Mais uma edição de gala da roda de samba que há 3 anos e meio acontece toda última sexta-feira do mês. Desta feita, os Inimigos do Batente e o Clube Anhangüera convidam o aclamadíssimo cantor, violonista e compositor carioca Moacyr Luz!

Sem dúvida nenhuma, um figura de máxima expressão na música brasileira, não só pelo invejável leque de parcerias, que vai de Aldir Blanc a Sereno, passando por Paulo César Pinheiro, Luiz Carlos da Vila, Wilson Moreira, Martinho da Vila, Nei Lopes, Hermínio Bello de Carvalho, entre tantos outros; não só pelo escrete de consagrados intérpretes que o gravaram, como Maria Bethânia, Beth Carvalho, Nana Caymmi, Elba Ramalho, Gilberto Gil, Fafá de Belém, Emílio Santiago, Leila Pinheiro, Leny Andrade e, recentemente, Zeca Pagodinho; mas também por sua militância como uma espécie de embaixador da cultura carioca mundo a fora.

O Bom Retiro e a Barra Funda incorporam a Tijuca, dão folga para o "urra, meu", capricham no chiado dos "esses" e "erres", para homenagear esse carioca tão querido nas terras de Piratininga.

Deixo no áudio Moacyr e Zeca cantando Vida da Minha Vida, composição de Moacyr Luz e Sereno.

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Até mais tarde!

27 de out. de 2010

De Lula para Lula

Neste dia em que Luis Inácio Lula da Silva, o maior presidente da nossa história, faz 65 anos, reproduzo texto monumental de meu amigo Luiz Antonio Simas.


DECLARAÇÃO DE VIDA E DE VOTO

Sou um homem comum, filho de mãe pernambucana e pai catarinense, criado por uma avó nascida no sertão das Alagoas, precariamente alfabetizada, e por um avô do litoral de Pernambuco com um pouco mais de estudo formal. Entre os meus familiares fui o primeiro a terminar o ensino médio e entrar numa universidade pública.
O Brasil em que fui criado passa longe, muito longe, de salões empedernidos, bancos acadêmicos, bolsas de valores, altares suntuosos, restaurantes chiques e esquinas elegantes. O Brasil dos meus olhos de criança e das minhas saudades de adulto é o dos campos de futebol, mercados populares, terreiros de macumba e rodas de samba.
Faço, do ponto de vista de minha vida profissional, exatamente o que queria fazer quando entrei na faculdade de História - dou aulas. Apesar de trabalhar com pesquisa, ter publicado livros e o escambau, meu negócio é mesmo ser professor.
Lido com alunos do ensino médio e do ensino superior. Prefiro os primeiros. Me divirto com a garotada. Lecionar me permite não usar terno, gravata, sapato e cinto para trabalhar. Esse foi, acreditem, um aspecto que pesou na escolha do babado.
Não tenho temperamento para ser dono de porríssima nenhuma. Fujo de responsabilidades que impliquem em dar ordens a alguém. Canto Noel, João do Vale, Wilson Batista, Geraldo Pereira e Pixinguinha enquanto trabalho e vejo nisso, como no batuque, um privilégio.
Dou aula sobre pecuária no Brasil Colonial puxando toada de boi bumbá; falo da abolição da escravidão cantando o samba da Mangueira de 1988 e sou - por opção e formação - tamoio, inconfidente, conjurado, balaio, cabano, malê, farrapo, capoeira, jagunço e quilombola.
Não ficarei rico nem a cacete e tenho a decência de não almejar fortuna. Não falta, porém, a comida na mesa e os caraminguás para fazer, vez por outra , uma graça com a mulher amada e tomar a cerveja gelada com os do peito. Acompanho o futebol e componho uns sambas. Tenho a vida simples e digna que todos os trabalhadores brasileiros merecem ter.
Acho um drible de Mané Garrincha mais elegante que desfile de moda, a feira de Caruaru mais sofisticada que a Daslu, a dança do mestre sala mais nobre que o pliê de um bailarino clássico e o gibão de couro de Luiz Gonzaga mais imponente que as fardas e galardões dos generais.
Não sou versado nos meandros da análise política mais consistente e me falta o jeito para expor gráficos, tabelas e babados que comprovem as melhorias - entre barrancos, tranqueiras e sonhos aqui e ali maculados - que o Brasil vivenciou nos últimos anos. Outros malungos, companheiros da mesma jornada, já fizeram isso com competência e quem quiser que conte outra ou salte de banda. O povo sabe.
Minhas razões para declarar meu voto nas eleições são de outra ordem e dispensam os números:
Eu vou de Dilma porque insisto em lançar sobre o Brasil uma mirada grávida de encantamentos, crenças, sons, defesas milagrosas, gols impossíveis, cheiros de litorais, aromas de florestas e afeto desmensurado pelo povo miúdo que, na sabedoria da escassez, reinventa a vida e civiliza o chão de onde vim e é a raiz melhor do que eu sou.
É só por isso, e assim me basta.
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