Algumas coisas que acontecem servem, no mínimo, para provar que estamos certos. Eu sustento algumas opiniões e não abro mão e sou extremamente intolerante, fazendo com que alguns amigos confiram a mim o título de radical, título este que em nada me afeta, visto que eu sei que sou mesmo para com algumas coisas. E cito aqui, já de cara, algumas delas que me causam horror e às quais declaro guerra:
- Smirnoff Ice: uma vodka de bicha.
- Todos os drinks escrotos, com nomes esdrúxulos, como
Sex on the beach.
- Essa onda de roqueiros melancólicos, os Emos. Todos estavam na parada gay. Não tenho dúvidas.
- Assíduos freqüentadores de academia: bandos de escravos da imposição estética passam horas e horas malhando e se admirando frente ao espelho. Após a prática, ingerem fibras de alguma porcaria protéica, acompanhado de barras de soja e um
Gaytorade pra repor as energias. Patético!
- Narguilé, aquele cachimbo usado pelos persas e turcos. Nada contra o cachimbo em si ou os turcos, mas putaquepariu, agora a molecada quer se aparecer fumando esse troço, com nojentos sabores de morango, cereja, hortelã... Carregam para bares, faculdade, casa de parentes. E a grande maioria não sabe nem tragar. Terrível. Tenho certeza que, se derem um trago no cigarro que o Tonhão da Rua Solimões fuma, um
Eight, morrem na hora de insuficiência respiratória.
- Música eletrônica: pra mim, é um barulho insuportável. Meia hora ouvindo pode me levar à mais instintiva e primitiva reação, como assassinar um dj.
Têm outras, têm outros... Mas eu só queria citar alguns exemplos, pois vou mesmo é abordar especificamente um assunto, uma dessas patifarias. A abominável micareta. Eu fui a um bizarro evento desses. Eu fui... Em Novembro de 2005, movido pela paixão e para surpreender a recente namorada (estávamos juntos há cerca de um mês), que havia aceitado o convite de umas amigas para ir, me enfiei num Camaleão Fest, no Anhembi, show da banda Chiclete com Banana. Mas fui com ela, pois seria impossível encontrar uma pessoa no meio de uma multidão de 30.000. Era Domingo. Joguei no Anhanguera e fui com o mesmo tesão de quem dança uma valsa lenta com a avó.
Eu me arrependeria de ter ido, eu sabia. Mas houve um agravante. Foi no histórico dia em que o Corinthians sapecou 7 a 1 no Santos e eu posso assegurar que aquele foi o único jogo do Timão naquele campeonato que eu não fui em terras paulistanas. Vou narrar o acontecimento fazendo um paralelo com o épico jogo. Isso terá um nível de detalhes jamais visto neste blogue.
O começo do pesadelo se deu quando, em segredo, comprei o convite por módicos (notem a ironia) cem reais. Acabei contando pra ela e fomos no Sábado, um dia antes, retirar o horrível abadá, uma camisa regata azul bebê capaz de transformar instantaneamente qualquer feioso num bonitão irresistível para as barbies que freqüentam estes ambientes. Fomos a uma casa na Vila Olímpia (onde mais?) e após duas horas de fila e algumas latas de cerveja, pegamos o negócio.
Eu, tentando esconder de todo mundo essa minha imperdoável empreitada, fui vítima de uma caguetagem, até hoje não sei de quem. Quando cheguei em casa do futebol de domingo (a garota já me esperava em casa), apareceram Valtinho, Sabrina, Angelo, Bruno, Daniel e Tetê rindo escrachadamente da minha cara. Obrigaram-me, já na porta de casa, a vestir a porra do abadá (que depois serviu de pijama) e simular passinhos coreografados de axé. Eu, humilhado, me recolhi no banco do carro de meu pai, que, rindo, nos levou. Eram 14h30 e o sol rachava sem aliviar.
Com um trânsito ferrado na marginal do Tietê, meu pai nos deixou a mais de um quilômetro do lugar, já em meio à multidão. Minha primeira análise do que viria foi otimista. Pensei: “Bom, vou tomar umas cervejas e aproveitar e pegar sol, pois estou mais branco que minha bunda!”... Porém, logo depois, notei que a coisa seria feia quando vi uns vinte caras, mais-que-aparecidos, subindo e pulando numa caminhonete parada no trânsito, pilotada por uma assustadíssima senhora. Eles cantavam algum axé pornográfico quando um ônibus cheio de Gaviões que iam para o Pacaembu passou e mandou o grito de guerra ideal: “Ô bâmbi viado!”.
Ficamos num posto de gasolina esperando as amigas dela chegarem. Eu bebia cerveja e sabia que o jogo estava começando...
Corinthians 1 x 0 Santos – Procurando as amigas:
Houve um desencontro, celular não pegava. Com tudo isso e eu me esforçando tremendamente para conseguir esboçar um mini-sorriso com o canto da boca, decidimos partir ao encontro delas. Saímos do posto e andamos uns dois quilômetros em meio à legião de bobos empolgados.
Corinthians 1 x 1 Santos – Sem aviso:
No meio do caminho, uma pausa e um diálogo em tom de confissão e desespero: - Você não acredita! – e eu: - O que houve? – e ela, não conformada, com a cara fechada: - Acabou de descer. Preciso de um banheiro! Saímos correndo.
Corinthians 2 x 1 Santos – Eu, azarado:
O espaço era imenso, o que já me fazia acreditar que não encontraríamos as amigas dela e iríamos embora. Mas encontramos. Em meio a milhares de pessoas. Impressionante o meu azar. Para meu desespero, fomos em direção à portaria e avistamos uma muvuca gigantesca.
Corinthians 3 x 1 Santos – A entrada:
Esta com certeza foi a pior parte. O sol não perdoava e começava arder meu ombro. As pessoas se amontoavam para conseguir entrar. Eu me sentia uma sardinha em lata. Começou um baita empurra-empurra e era gente desmaiando, chorando, gritando, gente com fobia, neguinho metendo cotovelada, passando a mão. Coisa feia. Não tinha como voltar atrás e nessa altura eu me sentia o cara mais cretino do mundo – e naquele momento era mesmo. Após uns quinze minutos, a situação melhorou e conseguimos cair pra dentro.
Corinthians 4 x 1 Santos – O Show:
Ficamos lá atrás, com certeza os últimos, vendo bem de longe. Estava mais tranqüilo ali. A cerveja estava quente e meu estômago roncava. O som, amigos, uma bosta. O cabeludo (cantor da banda) parecia estar doente, não se mexia e fazia um esforço danado pra cantar... O pior é que conseguiu. Teve participação especial do Xande. Imaginem meu estado de humor: paguei cem paus e fui amassado na porra da fila pra assistir o Chiclete com Banana convidar o Xande pra rebolar no palco. Uma das cenas mais medonhas que eu já presenciei.
Corinthians 5 x 1 Santos – O público:
A verdade é que cada um curte sua onda e quem estava errado ali era eu. Ponto. Mas é de foder o povo que vai nessas festas. Pra começar, os caras. Na minha opinião, um bando de infelizes com auto-estima baixíssima, fazendo campeonatos de quem beija mais mulher. Eles beijam umas 20, 30... Alguns dizem que beijam 50 e por aí vai. Mas ninguém come ninguém. Derrotados. Bebem como quem nunca viu birita e caem, como dominó, um atrás do outro. Eu vi quatro caras vomitando um no outro, como um tipo de pacto bizarro. Triste... Encontrei ainda um rapaz que apanhava da molecada do bairro inteiro e era cheio de complexo dançando bisonhamente com uma mão no chão e simulando uma trepada. Repulsivo. Estava lá, todo fodão. Da mulherada, tenho pouco pra falar. Elas vão pro “arrebento” também, sem filtro.
Corinthians 6 x 1 Santos – Eu já sabia:
O sol já estava mais ameno, mas eu já parecia o Chapolin Colorado, quando tive o único instante de alegria. Todas as quatro amigas se olharam e, arrependidas, cravaram: “Que bosta!!”.
Corinthians 7 x 1 Santos – Chega!:
Após duas horas no local, fomos os primeiros a ir embora.
De tudo isso, a certeza que tenho é que recebi um dos maiores castigos por ter embarcado nessa furada. Eu perdi o melhor jogo do meu time nos últimos anos. Castigo merecido!