Saudade... Nostalgia inconsciente
Narrarei aqui um dia que passei ao lado de um grande homem, o Osvaldo.
Foi há três semanas, era Sábado. Minha intenção era apenas comprar a Gazeta Esportiva na banca da esquina. Encontrei-o na Rua Lusitana. Ele acabara de alimentar os animais (é carroceiro de burros) e estava indo para casa. Conversamos sobre a pancadaria que acabou com o baile na sede do Anhanguera uma semana antes.
Pausa: o Osvaldo, pra quem não conhece, é um baita briguento. Não leva desaforo pra casa e não tem muita paciência. É tão forte e corajoso que encara uma briga com dez homens de uma vez!
Fomos até o buteco Nunca Fecha na Rua do Bosque beber umas geladas. Lá encontramos Augusto e Siola, que se juntaram a nós. Siola, sempre retraído, tranqüilo, com seu cigarro de palha, enquanto o Augusto contou-nos sobre um novo campo que o Anhanguera vai conseguir ali na Rua dos Americanos. O Augusto é jogador e diretor do clube, já o Osvaldo joga, mas não gosta de se meter em assuntos burocráticos.
Saímos do Nunca Fecha o Osvaldo e eu e fomos tomar mais uma no Fecha Nunca, um pouco mais a frente. Falamos sobre nosso time, o Corinthians. Estávamos entusiasmados, pois é o atual tri-campeão paulista e, além disso, vamos inaugurar o estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na próxima semana, contra o Atlético Mineiro. Faremos também, no começo do ano que vem, um jogo beneficente contra nosso maior rival, o Palestra Itália, para arrecadar fundos para um time novo, o São Paulo Futebol Clube, que está falindo.
Dali partimos em direção à sede do Anhanguera, pois jogaríamos contra o potente time do Piratininga, na casa do adversário. Fui direto e o Osvaldo foi pegar o caminhão que acabara de comprar. Ele é quem levará os atletas e os torcedores para os jogos a partir de agora!
Eu fiquei apenas na torcida, pois era jogo do 1º quadro e eu, como vocês bem sabem, não sou um jogador que se diga: “Nossa, que craque, esse Arthur!”... Mas o Osvaldo joga. É beque! E daqueles que não tem medo. Sabe jogar e quando é preciso enfia o bico na gorducha!
A peleja estava nervosa... Estávamos perdendo por 1x0, quando, aos quarenta minutos do segundo tempo, no final do jogo, o juiz apitou um penal para nosso esquadrão. O Osvaldo, nervoso que só ele, pegou a bola e foi bater. Ele nunca havia batido uma penalidade máxima. Correu e deu um tirambaço no travessão. A torcida do Piratininga gritou em coro um sarro pra ele, que, puto da vida, fez para a torcida (que tinha várias damas) aquele singelo sinal de segurar firme o genital (tapando-o) e balançá-lo incessantemente, dizendo: “Aqui pra vocês, ó!”.
Três homens entraram em campo com pecheras do tamanho de uma espada para arrancar-lhe a “clava forte”. Foi um tal de segura daqui, segura dali, que enfim conseguimos sair do campo sem nenhum arranhão. Pura sorte!
Mais calmo, o Osvaldo me chamou para ir ao cinema à noite. Ele iria com sua noiva, a Antonia, que levaria uma amiga, a Trieste, que é a moça mais linda que há na Barra Funda. Uma boneca. Eu, nem acreditando, aceitei na hora!
As 18h30 encontrei-me com o Osvaldo, passamos nas casas das moças e fomos ao Cine Paris a pé. Não quisemos pegar o bonde. A Trieste estava mais linda do que já é. Chegando ao cinema, acomodamo-nos e as duas pediram maçã-do-amor. Sentei-me ao lado da Trieste, que se emocionou com o filme A Estrada de Santa Fé, estrelado por Errol Flynn e Olivia de Havilland. Ao final do filme, peguei na mão da escultural donzela, que não se opôs à minha investida e sorriu com o canto da boca. Uma semana depois já namorávamos oficialmente!
Como levamos as duas para suas casas às 22h00 (elas não podiam chegar mais tarde), fomos para um cabaré na Avenida São João. Ao chegarmos, penduramos os chapéus e abrimos dois botões da camisa. Estava muito calor. As damas, quando viram nós dois entrando, foram em cima do Osvaldo. Ele é um exímio pé-de-valsa. Dançamos tangos e boleros com elas por uma hora e ainda bebemos e tiramos umas casquinhas das damas, já que com as meninas de família é impossível isso acontecer antes do casamento. Após isso, ainda jogamos pôquer com uns malandros dos Campos Elíseos numa salinha escondida e escura no fundo do cabaré. Perdemos todo o nosso pouco dinheiro...
E bêbados, com uma garrafa de vinho em punho, saímos pelas ruas do centro abraçados, cantando a marchinha de João de Barro Dama das Camélias, gravada por Francisco Alves, grande sucesso do carnaval deste ano de 1940!
*** Narração de um sonho surreal que tive há alguns meses. O Osvaldo é meu avô, o velho Tirone, falecido em Novembro de 2.000.
Foi há três semanas, era Sábado. Minha intenção era apenas comprar a Gazeta Esportiva na banca da esquina. Encontrei-o na Rua Lusitana. Ele acabara de alimentar os animais (é carroceiro de burros) e estava indo para casa. Conversamos sobre a pancadaria que acabou com o baile na sede do Anhanguera uma semana antes.
Pausa: o Osvaldo, pra quem não conhece, é um baita briguento. Não leva desaforo pra casa e não tem muita paciência. É tão forte e corajoso que encara uma briga com dez homens de uma vez!
Fomos até o buteco Nunca Fecha na Rua do Bosque beber umas geladas. Lá encontramos Augusto e Siola, que se juntaram a nós. Siola, sempre retraído, tranqüilo, com seu cigarro de palha, enquanto o Augusto contou-nos sobre um novo campo que o Anhanguera vai conseguir ali na Rua dos Americanos. O Augusto é jogador e diretor do clube, já o Osvaldo joga, mas não gosta de se meter em assuntos burocráticos.
Saímos do Nunca Fecha o Osvaldo e eu e fomos tomar mais uma no Fecha Nunca, um pouco mais a frente. Falamos sobre nosso time, o Corinthians. Estávamos entusiasmados, pois é o atual tri-campeão paulista e, além disso, vamos inaugurar o estádio Paulo Machado de Carvalho, o Pacaembu, na próxima semana, contra o Atlético Mineiro. Faremos também, no começo do ano que vem, um jogo beneficente contra nosso maior rival, o Palestra Itália, para arrecadar fundos para um time novo, o São Paulo Futebol Clube, que está falindo.
Dali partimos em direção à sede do Anhanguera, pois jogaríamos contra o potente time do Piratininga, na casa do adversário. Fui direto e o Osvaldo foi pegar o caminhão que acabara de comprar. Ele é quem levará os atletas e os torcedores para os jogos a partir de agora!
Eu fiquei apenas na torcida, pois era jogo do 1º quadro e eu, como vocês bem sabem, não sou um jogador que se diga: “Nossa, que craque, esse Arthur!”... Mas o Osvaldo joga. É beque! E daqueles que não tem medo. Sabe jogar e quando é preciso enfia o bico na gorducha!
A peleja estava nervosa... Estávamos perdendo por 1x0, quando, aos quarenta minutos do segundo tempo, no final do jogo, o juiz apitou um penal para nosso esquadrão. O Osvaldo, nervoso que só ele, pegou a bola e foi bater. Ele nunca havia batido uma penalidade máxima. Correu e deu um tirambaço no travessão. A torcida do Piratininga gritou em coro um sarro pra ele, que, puto da vida, fez para a torcida (que tinha várias damas) aquele singelo sinal de segurar firme o genital (tapando-o) e balançá-lo incessantemente, dizendo: “Aqui pra vocês, ó!”.
Três homens entraram em campo com pecheras do tamanho de uma espada para arrancar-lhe a “clava forte”. Foi um tal de segura daqui, segura dali, que enfim conseguimos sair do campo sem nenhum arranhão. Pura sorte!
Mais calmo, o Osvaldo me chamou para ir ao cinema à noite. Ele iria com sua noiva, a Antonia, que levaria uma amiga, a Trieste, que é a moça mais linda que há na Barra Funda. Uma boneca. Eu, nem acreditando, aceitei na hora!
As 18h30 encontrei-me com o Osvaldo, passamos nas casas das moças e fomos ao Cine Paris a pé. Não quisemos pegar o bonde. A Trieste estava mais linda do que já é. Chegando ao cinema, acomodamo-nos e as duas pediram maçã-do-amor. Sentei-me ao lado da Trieste, que se emocionou com o filme A Estrada de Santa Fé, estrelado por Errol Flynn e Olivia de Havilland. Ao final do filme, peguei na mão da escultural donzela, que não se opôs à minha investida e sorriu com o canto da boca. Uma semana depois já namorávamos oficialmente!
Como levamos as duas para suas casas às 22h00 (elas não podiam chegar mais tarde), fomos para um cabaré na Avenida São João. Ao chegarmos, penduramos os chapéus e abrimos dois botões da camisa. Estava muito calor. As damas, quando viram nós dois entrando, foram em cima do Osvaldo. Ele é um exímio pé-de-valsa. Dançamos tangos e boleros com elas por uma hora e ainda bebemos e tiramos umas casquinhas das damas, já que com as meninas de família é impossível isso acontecer antes do casamento. Após isso, ainda jogamos pôquer com uns malandros dos Campos Elíseos numa salinha escondida e escura no fundo do cabaré. Perdemos todo o nosso pouco dinheiro...
E bêbados, com uma garrafa de vinho em punho, saímos pelas ruas do centro abraçados, cantando a marchinha de João de Barro Dama das Camélias, gravada por Francisco Alves, grande sucesso do carnaval deste ano de 1940!
*** Narração de um sonho surreal que tive há alguns meses. O Osvaldo é meu avô, o velho Tirone, falecido em Novembro de 2.000.