Bicho-Bom
Um texto do meu amigo Eduardo Goldenberg, desta semana, me bombardeou de lembranças que repousavam há tempos em minha cuca. Lembranças das mais remotas, que remontam meus tempos de infância, dos 3 ou 4 anos de idade. O texto do Edu revela o orgulho do pai ao ver desabrochar o instinto do pequeno filho, que, nos desfiles de blocos carnavalescos do Rio de Janeiro, sob forte influência dele, tascava a mão nas polpudas nádegas de exuberantes mulatas. Daí, lendo o texto, vi o Seu Isaac se transformando em Mimi, meu pai, e o Edu já era eu.
Minha primeira musa foi a Cláudia Raia, na novela Roque Santeiro. Eu era bem pequeno. Quando ouvia a música de abertura, saía correndo e grudava os olhos na TV, esperando a Ninón aparecer. O velho enchia o peito orgulhoso diante da iminente virilidade do pequeno filho. Não me lembro disso; minha mãe é quem conta. No entanto, a recordação que me veio é que eu e o Angelo (o Bruno era um bebê ainda), no auge dos 4 anos, éramos tarados pelas Vitaminas do Chacrinha, as gloriosas Chacretes. Meu pai nos chamava: “Vem cá, Arthur! Angelo, vem ver.”. Nós íamos babando e o velho, sutil e delicadamente, nos revelava essas coisas mundo. Apontando para a Roseli Dinamite, para a Fernanda Terremoto ou para a Leda Zepelin, dizia: “Olha o bicho-bom! Isso é o bicho-bom, entenderam?”. Tanto entendemos que usávamos a expressão. Ele se gabava quando alguma mulher passava na rua e nós o puxávamos pela calça, gritando: “Pai, olha aí o bicho-bom!”. Pouco tempo depois ele deixou de usar essa expressão e nós também a esquecemos. Voltando ao Chacrinha, às vezes eu me imaginava entrelaçado nas pernas da Valéria Mon Amour ou da Esther-Bem-me-Quer, embora para mim a Índia Poti fosse imbatível. Não tinha pra ninguém.
Mais que tudo, no entanto, as alcunhas das Chacretes mexiam com a minha tenra inocência:
- Pai, por que o nome dessa aí é Erica Selvagem?
- É que ela veio do mato, meu filho.
Angelo também destilava a sede de saber sobre as donzelas:
- Pai, por que Regina Polivalente?
- É que ela faz de tudo, filhão. Barba, cabelo e bigode. – Ficávamos imaginando a Regina fazendo a barba de marmanjos num salão tão espelunca quanto ao do Osvaldo, nosso barbeiro.
Após alguns anos, naturalmente, viemos a entender algumas coisas e endoidamos quando foi lançado pelo Miele o programa Cocktail, em que deliciosas garotas mostravam os peitos. Cada uma das moças era uma fruta. A cereja era a minha preferida. Nessa fase, o Bruno, então com uns 4 de idade, recebeu o ensinamento que eu e Angelo tivemos com as Chacretes; mas dessa vez nós, os irmãos mais velhos, é quem levávamos – escondidos da minha mãe – o pirralho pra ver aqueles seios de todos os tamanhos. Lembro-me bem que uma das raparigas, a que representava o limão, tinha fartura de peitos; que exuberância. O Bruno vidrava nas turbinas da Mulher-Limão!
Escrevi isso porque outro dia, almoçando com o Bruno, aconteceu dessas coisas que parecem naturais, mas que tem explicação. Meu irmão, certamente, nem sabe disso.
A cena que se deu foi a do Bruno, esfomeado, espremendo um limão inteiro num prataço de arroz-com-feijão. Após misturar os grãos com o azedo, saboreando a primeira garfada e empunhando o limão, prestou a reveladora homenagem à fruta com um adjetivo que, certamente, ficou encravado em sua memória na época em que borrava as fraldas:
- Ô bicho-bom!
Minha primeira musa foi a Cláudia Raia, na novela Roque Santeiro. Eu era bem pequeno. Quando ouvia a música de abertura, saía correndo e grudava os olhos na TV, esperando a Ninón aparecer. O velho enchia o peito orgulhoso diante da iminente virilidade do pequeno filho. Não me lembro disso; minha mãe é quem conta. No entanto, a recordação que me veio é que eu e o Angelo (o Bruno era um bebê ainda), no auge dos 4 anos, éramos tarados pelas Vitaminas do Chacrinha, as gloriosas Chacretes. Meu pai nos chamava: “Vem cá, Arthur! Angelo, vem ver.”. Nós íamos babando e o velho, sutil e delicadamente, nos revelava essas coisas mundo. Apontando para a Roseli Dinamite, para a Fernanda Terremoto ou para a Leda Zepelin, dizia: “Olha o bicho-bom! Isso é o bicho-bom, entenderam?”. Tanto entendemos que usávamos a expressão. Ele se gabava quando alguma mulher passava na rua e nós o puxávamos pela calça, gritando: “Pai, olha aí o bicho-bom!”. Pouco tempo depois ele deixou de usar essa expressão e nós também a esquecemos. Voltando ao Chacrinha, às vezes eu me imaginava entrelaçado nas pernas da Valéria Mon Amour ou da Esther-Bem-me-Quer, embora para mim a Índia Poti fosse imbatível. Não tinha pra ninguém.
Mais que tudo, no entanto, as alcunhas das Chacretes mexiam com a minha tenra inocência:
- Pai, por que o nome dessa aí é Erica Selvagem?
- É que ela veio do mato, meu filho.
Angelo também destilava a sede de saber sobre as donzelas:
- Pai, por que Regina Polivalente?
- É que ela faz de tudo, filhão. Barba, cabelo e bigode. – Ficávamos imaginando a Regina fazendo a barba de marmanjos num salão tão espelunca quanto ao do Osvaldo, nosso barbeiro.
Após alguns anos, naturalmente, viemos a entender algumas coisas e endoidamos quando foi lançado pelo Miele o programa Cocktail, em que deliciosas garotas mostravam os peitos. Cada uma das moças era uma fruta. A cereja era a minha preferida. Nessa fase, o Bruno, então com uns 4 de idade, recebeu o ensinamento que eu e Angelo tivemos com as Chacretes; mas dessa vez nós, os irmãos mais velhos, é quem levávamos – escondidos da minha mãe – o pirralho pra ver aqueles seios de todos os tamanhos. Lembro-me bem que uma das raparigas, a que representava o limão, tinha fartura de peitos; que exuberância. O Bruno vidrava nas turbinas da Mulher-Limão!
Escrevi isso porque outro dia, almoçando com o Bruno, aconteceu dessas coisas que parecem naturais, mas que tem explicação. Meu irmão, certamente, nem sabe disso.
A cena que se deu foi a do Bruno, esfomeado, espremendo um limão inteiro num prataço de arroz-com-feijão. Após misturar os grãos com o azedo, saboreando a primeira garfada e empunhando o limão, prestou a reveladora homenagem à fruta com um adjetivo que, certamente, ficou encravado em sua memória na época em que borrava as fraldas:
- Ô bicho-bom!