28 de abr. de 2011

Anhangüera dá Samba XLIV

Que cara querido é o Teroca. Mês passado foi o homenageado no Anhangüera dá Samba! Com serenidade e um jeitão de caboclo que sabe das coisas, chegou ao nosso terreiro acompanhado por uma trupe. Não que tivesse as levado - era gente que gosta do seu trabalho. À medida que iam entrando, eu constatava: a maioria nunca tinha ido lá!

Na roda, Teroca mesclou seus sambas com outros de grandes baluartes, conduzindo a roda com maestria. Causou, entre os que não o conheciam, estupefação: "- Que compositor!", disse meu irmão Bruno. Fazia tempo que queríamos convidá-lo, e foi um tiro certeiro. Dona Inah, que marca presença constantemente, pintou e cantou. Ela, que participou do disco do Teroca, destilou eslogios a este grande compositor.

Infelizmente o vídeo do Teroca cantando no Anhangüera não saiu. Quem lá esteve, no entanto, não esquecerá. Salve, Teroca!


Amanhã, a última sexta do mês - tem Anhangüera dá Samba!

Os Inimigos do Batente homenageiam o cantor e compositor Kazinho, grande baluarte da noite paulistana. Kazinho é paraense, se radicou no Rio de Janeiro ainda jovem, mas foi em São Paulo que ganhou notoriedade. Parceiro e amigo de figuras do quilate de Jorge Costa e Germano Mathias, cantou em todas as casas noturnas de música na cidade. Gravou e foi gravado por grandes nomes do samba como Demônios da Garoa, Noite Ilustrada e Ciro Monteiro.

A homenagem a Kazinho, com 83 anos e esbanjando boa forma - ainda toma um engasga-gato! - terá ainda as especialíssimas participações dos exímios cantores Chico Médico (relembre aqui sua apresentação no Anhangüera) e Paula Sanches (aqui, que formarão o "quadradro mágico" com nossos ilustres titulares Fernando Szegeri (aqui) e Railídia Carvalho (aqui) a cantar os sambaços de Kazinho. O Anhangüera dá Samba! não só homenageia um grande baluarte da música brasileira, como revive um tempo áureo da noite da cidade.

Deixo um áudio de um samba do Kazinho, Pressão Baixa, gravado por Germano Mathias no disco Samba é Comigo Mesmo, de 1971.

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Até amanhã!

15 de abr. de 2011

Destruição de um templo

Não tem saída: a gente tem que brigar pelas causas em que acreditamos. Sou contra - até certo ponto - a modernidade e explico. Não quero ser nostálgico, nem viver um tempo que não é o meu. O mundo está aí; as inovações tecnológicas e as mudanças comportamentais são inevitáveis. Mas é triste quando a mudança é ditada apenas pelo fator econômico. Quando não se leva em conta o fator social, as instituições, a tradição... Aí o molho desanda.

Uma briga que travo com especial fervor é pelo futebol varzeano em geral, e mais especificamente pela minha agremiação, o Anhangüera, clube fundado em 1928. É na várzea que ainda se vê - não nos campeonatos promovidos por cervejarias, que já operam nos moldes do futebol moderno - um futebol genuíno. Acreditem que existe amor à camisa.

Há alguns anos eu dizia que as quadras de futebol society eram o grande vilão, o algoz do futebol amador. Eu não estava enganado. As quadras de jogadores de carpete estão acabando; o mercado imobiliário está pilhando todas elas. Mas não tenho muito o que comemorar. Alívio? Pelo contrário: elas deixaram um vestígio irreversível: uma nova maneira de se jogar futebol na cidade. Como um parasita social, elas mudaram toda a concepção de amadorismo: quer jogar, pague! Acaba-se com uma velha instituição forjada pela habilidade de jogar, pela iniciação.

Aliada a esta aberração comportamental, a prefeitura tem acabado com vários clubes antigos. E aos que ela julga interessantes, impõe goela abaixo a modernidade: grama sintética. Escrevi há dois anos e meio sobre isso, quando começou a ser ventilada a notícia de que o Anhangüera sofreria as conseqüencias deste progresso obtuso. Meu texto pode ser lido aqui.

As pessoas que circulam neste meio - seja no Anhangüera ou nos outros clubes - estão completamente inebriadas. É, de fato, muito bom economicamente. O campo terá uma demanda de aluguel jamais sonhada, e os cofres vão agradecer. A questão não é a grama - também acho um tesão jogar no sintético. O problema é que finda uma era, um modus vivendi - que sobrevivia ainda que por aparelhos - que é um dos pilares da cidade desde o começo do século passado. Uma mudança que enterra de vez um jeito de se viver, de se relacionar - com as pessoas e com o futebol.

A maioria das pessoas, infelizmente, não acham que têm responsabilidade, e nem se dão conta disso. Em alguns anos, vão lembrar com nostagia do terrão, e de como era bom "aquele tempo".

Campo do Anhangüera em 2010

Campo do Anhangüera hoje, em obras
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